Nos quadrinhos, o humor poucas vezes caminhou ao lado da fc. O exemplo mais clássico dessa rara união está na tira Brucutu (Alley Oop) de Vincente T. Hamlim, criada em 1932. Brucutu é um troglodita que vive entre os dinossauros e viaja pelo tempo através de uma máquina inventada por um cientista maluco do futuro, o professor Papanatas.
Em 1947, o cartunista Carl Barks criou para a Disney, inspirado no Pato Donald e seus sobrinhos, uma série de histórias com Patópolis, uma cidade habitada por patos e outros bichos.
Sua principal criação foi o Tio Patinhas (Scrooge McDuck), empresário multimilionário que sempre se mete em encrencas por causa de sua ganância desmedida. Muitas dessas aventuras tiveram cenários de ficção científica, com os patos indo à Lua, ao fundo do mar e a cidades imaginárias, em histórias inteligentes e divertidas.
Em 1967 surgiu a série francobelga Valérian, agente espaço-temporal (Valérian), da dupla Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, que usa de bom humor em doses equilibradas mesclado com muita ação para contar as aventuras de um agente do futuro encarregado de impedir que disfunções espaço-temporais, naturais ou não, prejudiquem o contínuo espaço-tempo. As histórias de Valérian e sua acompanhante Laureline são muito criativas e de alta qualidade artística, uma característica do quadrinho europeu.
Nas franjas do gênero, está um dos maiores sucessos dos quadrinhos em tiras modernos: Calvin e Haroldo (Calvin and Hobbes). A série, publicada entre 1985 e 1995, tem legiões de fãs em todo o mundo, inclusive no Brasil. Seu autor, Bill Watterson, muitas vezes coloca o garotinho traquinas e seu tigre de pelúcia em situações típicas da fc, como viagens no tempo, por exemplo. São invariavelmente tiradas excelentes e de um humor finíssimo.
Também com contatos eventuais com a fc, merece ser registrada uma série dos irmãos Gilbert e Jaime Hernandez, com uma turma de garotas muito divertidas que se envolvem em todo tipo de aventuras. Mais conhecida como Love & Rockets ou Locas, a série criada em 1982 não se preocupava muito com a verossimilhança, apenas situava as garotas em algum ambiente exótico, as vezes futurista, outras em meio aos dinossauros e, desse modo, discutia temas ligados ao universo e ao imaginário feminino.
Pouco mais há que se lembrar. O que determina que fazer humor na fc não é apenas um caminho difícil, como sempre é fazer humor de qualidade, mas uma boa oportunidade de desenvolver um modo novo e diferenciado de tratar o gênero. Quem sabe não esteja justamente aí um caminho favorável para uma bem sucedida ficção científica brasileira, que escape dos lugares comuns e modismos importados tão replicados pelos fãs.
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