quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Resenha: Quem teme a morte, Nnedi Okorafor

Quem teme a morte
(Who fears death), Nnedi Okorafor. Tradução de Mariana Mesquita. 521 páginas. São Paulo: Geração, 2014. Publicado originalmente em 2010. 

Quem teme a morte é romance New Weird afrofuturista da escritora nigeriana-americana Nnedi Okorafor, ganhador dos prêmios World Fantasy e Otherwise.
É possivelmente o primeiro romance publicado no Brasil sob a classificação de afrofuturista. Antes, até haviam os livros de Samuel R. Delany publicados nos anos 1960 e 1970, mas que não eram classificados assim então, bem como os contos de Octavia Buttler publicados na versão brasileira do periódico literário Isaac Asimov Magazine, na década de 1990. 
O cenário é o de uma sociedade medieval em guerra genocida. As pessoas usam tecnologias no dia a dia, como computadores e tablets, além de aparelhos que retiram água da atmosfera, visto que o planeta é dominado por um extenso deserto, resultado de um cataclismo ambiental cujos motivos foram há muito esquecidos. 
A história narra a vida trágica de uma jovem feiticeira mestiça nascida de um estupro e que, por isso, é vítima de preconceito em uma sociedade machista que vive sob o estigma de uma antiga maldição. Ela busca vingança do homem que estuprou sua mãe, ele também um feiticeiro poderoso, líder da nação inimiga. 
A característica mais evidente do livro é o foco no protagonismo negro, nem sempre tão evidente em outros autores ditos afrofuturistas. O texto é perturbador e impactante, com fortes contornos feministas, e o desfecho ambíguo exige a participação do leitor. Muitas coisas não são explicadas claramente, o que pode incomodar os leitores mais cartesianos. Decerto que concorrem ali muitos aspectos da cultura africana que podem escapar ao leitor que não compartilha deles. Os brasileiros até temos alguma vantagem nisso devido a nossa colonização africana mas, ainda assim, talvez não seja o bastante. A mim, confesso que escaparam muitas coisas. Mas talvez tais mistérios sejam porque Quem teme a morte é apenas o primeiro de uma série de romances, que conta ainda com The book of Phoenix (2015), She who knows (2024), One way witch (2025) e The daughter who remains (a ser publicado em 2026). 
Além dos prêmios a Quem teme a morte, Okorafor também ganhou os prêmios Hugo e Nebula por Binti (2016), e mais um Hugo e o Locus por Akata (2018), ambos traduzidos no Brasil pela editora Record.
Quem teme a morte é uma boa história e, de modo geral, lembra outro romance afrofuturista recente, Lua de sangue, de N. K. Jemisin (Morro Branco, 2022), por conta do extenso uso de magia e também do cenário desértico.
Quem teme a morte pode ser lido gratuitamente na biblioteca digital BibliOn.

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