Há anos esperava que o meu amigo Roberto de Sousa Causo trouxesse à luz a história de Mistério de Deus, do qual fui leitor beta. A espera finalmente acabou em 2017, com o lançamento do romance pela Devir Livraria.
Mistério de Deus não é continuação nem spin-off de Um anjo de dor, romance de horror de Causo publicado em 2009 pela mesma Devir Livraria. Mas há pontos de contato entre as duas histórias, a começar pelo cenário de Sumaré, cidade no interior paulista onde o autor passou boa parte de sua juventude.
Tenho na memória, muito nitidamente, a maioria das cenas do romance, que conta a história de um ex-presidiário, leão de chácara num inferninho de Sumaré nos idos de 1991, que é levado pelas circunstâncias e por um profundo senso de justiça, a intervir nas ações de um grupo criminoso que aterroriza a região a bordo de um maverick preto envenenado. Mas não é só isso, há algo sobrenatural em torno das ações do bando, e o rapaz vai ter que levar sua determinação ao limite para tirá-los de cena.
A história tem um contorno realista que dialoga com um modelo literário que está muito em voga, como o do romance indicado ao Jabuti Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera (Companhia das Letras, 2012), um drama policial de contornos regionalistas que aos poucos assume os protocolos das histórias de horror.
Seguindo as orientações de mestres do gênero, especialmente de Stephen King, Causo não se furta a mostrar a cara do monstro no momento adequado e com toda a crueza possível. Porém, a elegância narrativa não permite que a história assuma caminhos demasiadamente apelativos, com sangue e tripas espirrando na cara do leitor, como seria de se esperar no estilo brutalista tão popular no gênero atualmente.
O livro tem 600 páginas – é provavelmente o livro mais volumoso já publicado pelo autor – e traz na capa uma ilustração agressiva de Vagner Vargas, que tem sido parceiro constante de Causo em suas publicações.
Roberto de Sousa Causo é Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo e mantém um intensivo trabalho como autor de ficção especulativa, com diversos livros de ficção e não ficção publicados no Brasil – alguns deles premiados – e dezenas de contos publicados no exterior em países como Portugal, Argentina, França, China e Cuba. Entre seus trabalhos mais importantes, está o ensaio Ficção científica, fantasia e horror no Brasil - 1875 a 1950 (UFMG, 2003).
Mistério de Deus vai agradar vários tipos de público: desde o leitor de horror, que é óbvio, mas também os de histórias de mistério policial e principalmente os fãs de muscle cars, um público ainda pouco explorado pela literatura nacional.
Muito obrigado pela resenha, Cesar. Apreciei muito.
ResponderExcluirEsse livro é bem legal! Realmente agrada quem gosta de policial tb, pq eu sou um. :)
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