A editora Companhia das Letras fechou 2016 com os lançamentos de novembro que, desta vez, trouxeram pouco na área do ficção fantástica.
O lançamento mais importante foi Jantar secreto, do escritor carioca Raphael Montes que, tal como em seu livro anterior, O vilarejo (2015) investe no terror ao estilo decadentista. Diz o texto de divulgação: "Um grupo de jovens deixa uma pequena cidade no Paraná para viver no Rio de Janeiro. Eles alugam um apartamento em Copacabana e fazem o possível para pagar a faculdade e manter vivos seus sonhos de sucesso na capital fluminense. Mas o dinheiro está curto e o aluguel está vencido.
Para sair do buraco e manter o apartamento, os amigos adotam uma estratégia heterodoxa: arrecadar fundos por meio de jantares secretos, divulgados pela internet para uma clientela exclusiva da elite carioca. A partir daí, eles se envolvem em uma espiral de crimes, descobrem uma rede de contrabando de corpos, matadouros clandestinos e grã-finos excêntricos, e levam ao limite uma índole perversa que jamais imaginaram existir em cada um deles".
Para a criançada, mas que todos gostam de ler, o selo Companhia das Letrinhas apresentou dois títulos interessantes. O lagarto é um conto de fadas de José Saramago, importante autor português ganhador do Nobel em 1988. O volume é ilustrado pelo cordelista e xilogravador J. Borges, e conta "a história deste lagarto gigante que surgiu de repente no meio da rua, espalhou o caos entre os moradores da cidade".
Saci: A origem é um conto do israelense radicado no Brasil Ilan Brenman, que aborda o conhecido mito nacional: "Todo mundo já ouviu falar do menino de uma perna só, que anda por aí com seu gorro vermelho e um cachimbo pregando peças em todos. Mas como foi que o Saci Pererê surgiu? E como foi que ele perdeu a perna e aprendeu a se locomover usando um redemoinho?" As ilustrações são do espanhol Guridi.
Muito mais nos espera em 2017. Feliz ano novo!
sábado, 31 de dezembro de 2016
quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
QI 142
Está circulando o número 142 do fanzine Quadrinhos Independentes-QI, editado por Edgard Guimarães, dedicado ao estudo dos quadrinhos, destacando a produção independente e os fanzines brasileiros.
A edição tem 36 páginas e traz artigo do editor sobre o personagem nacional Hydroman, criado em 1965 por Gedeone Malagola e Momoki Akimoto, sequência do depoimento de José Ruy sobre o periódico português Tintin, mais artigos de E. Figueiredo e Lio Guerra Bocorny, quadrinhos de Chagas Lima, Carlos Rico, Assis Lima, Luiz Cláudio Lopes Faria e do editor. Completam a edição as colunas "Mistérios do colecionismo", "Mantendo contato", "Fórum" e "Edições independentes" divulgando os lançamentos de fanzines do bimestre. A capa tem uma ilustração do editor.
Junto à edição, os assinantes receberam Artigos sobre Histórias em Quadrinhos 4: Buffalo Bill, Os grandes mitos do Oeste, fascículo de 12 páginas, de autoria do colecionador português Carlos Gonçalves, com muitas imagens antológicas.
O QI é distribuído exclusivamente por assinaturas, mas sua versão digital poderá em breve ser encontrada, para download gratuito, no saite da editora Marca de Fantasia, aqui, com a vantagem das imagens em cores. Algumas edições anteriores também estão disponíveis, assim como os fascículos nelas encartados. Mais informações com o editor pelo email edgard@ita.br.
A edição tem 36 páginas e traz artigo do editor sobre o personagem nacional Hydroman, criado em 1965 por Gedeone Malagola e Momoki Akimoto, sequência do depoimento de José Ruy sobre o periódico português Tintin, mais artigos de E. Figueiredo e Lio Guerra Bocorny, quadrinhos de Chagas Lima, Carlos Rico, Assis Lima, Luiz Cláudio Lopes Faria e do editor. Completam a edição as colunas "Mistérios do colecionismo", "Mantendo contato", "Fórum" e "Edições independentes" divulgando os lançamentos de fanzines do bimestre. A capa tem uma ilustração do editor.
Junto à edição, os assinantes receberam Artigos sobre Histórias em Quadrinhos 4: Buffalo Bill, Os grandes mitos do Oeste, fascículo de 12 páginas, de autoria do colecionador português Carlos Gonçalves, com muitas imagens antológicas.
O QI é distribuído exclusivamente por assinaturas, mas sua versão digital poderá em breve ser encontrada, para download gratuito, no saite da editora Marca de Fantasia, aqui, com a vantagem das imagens em cores. Algumas edições anteriores também estão disponíveis, assim como os fascículos nelas encartados. Mais informações com o editor pelo email edgard@ita.br.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
Pau e pedra
Pau e pedra (Sticks and stones), Peter Kuper. 132 páginas. Quadrinhos na Cia, Editora Companhia das Letras, São Paulo, 2016.
Quadrinho é literatura? Eis a questão. Muita gente concorda que as histórias em quadrinhos são literatura tão sofisticada quanto os livros exclusivamente em texto. Outros defendem que comparar os quadrinhos à literatura é um reducionismo, que tira dos quadrinhos seu próprio espaço na medida em que o constrange frente a uma arte que tem muito mais tempo de desenvolvimento.
Entendo que haja aqui um problema de autoestima dos autores de quadrinhos que, no Brasil, têm muito menores oportunidades de se fazer visíveis, sem falar na luta contra o preconceito que ainda grassa no mainstream. Contudo, em outros mercados, essa síndrome de vira-latas não procede, pois autores de quadrinhos têm, muitos deles, mais visibilidade e fama que muitos escritores tradicionais.
No campo da ficção científica, esse divergência é ainda mais notável. No Brasil, onde o gênero ainda engatinha em busca de personalidade, são raros os quadrinhos que ombreiam a literatura, que, por sua vez, também não é muita. Mas no exterior, esse contorno também não procede. Obras como O eternauta, de Oesterheld e Solano Lopez, Akira, de Katsuhiro Otomo, e Nausicaa do Vale dos Ventos, de Hayao Miyazaki, são usualmente considerados como expoentes da literatura de ficção científica mundial. A estes certamente podemos acrescentar Pau e pedra, de Peter Kuper, uma narrativa que dá um novo conceito ao termo "romance gráfico": a história é contada exclusivamente através de desenhos, sem nenhum texto.
Esse estilo de narrativa, conhecido no Brasil como quadrinho mudo, não é novidade. Nos jornais, as tiras do Reizinho (The little king, de Otto Soglow, 1931) e Pinduca (Henry, de Carl Anderson, 1932) estão entre as mais conhecidas. Mesmo assim, a ausência do textos é um recurso razoavelmente incomum na arte. Mas o norte americano Peter Kuper tem no quadrinho mudo o seu estado natural. Antes de Pau e pedra, publicado originalmente em 2004, Kuper vem exercitado a narrativa sem palavras desde 1997, quando assumiu Spy vs. Spy, série cômica publicada periodicamente na revista Mad, criação do cartunista cubano Antonio Prohias.
Pau e pedra é uma fábula sobre poder e intolerância, contada de forma sensível, mas não menos chocante. Um bebê de pedra é cuspido da boca de um vulcão. Lentamente, enquanto cresce e amadurece, desenvolve habilidades físicas e intelectuais que permitem que ele domine uma população de pequenos seres de pedra que o ajudam a construir sua cidadela. Mas o gigante também desenvolve um caráter dominador, praticamente escravizando seus súditos, que o idolatram como a um deus. Um dia, conduzido por um de seus exploradores, o tirano de pedra descobre, numa área isolada próxima ao seu castelo, uma comunidade de seres de madeira, que vivem em idílio pastoral. O povo de pedra ataca e escraviza o povo de madeira, para levar para sua cidade aquele novo e confortável material. Com os seres de madeira, também encontram pedras preciosas, que se tornam o grande tesouro do gigante. Contudo, entre o povo de pedra, há aqueles que discordam da forma com que o gigante governa, mas isso acaba por fazer com que todos os dissidentes, de pedra e de madeira, sejam aprisionados numa cela no alto das muralhas. Mas a maldade e a ganância não podem durar para sempre.
Os desenhos de Kuper são simples e esquemáticos, com um ótimo tratamento de claro/escuro. Curioso é a interpretação que Kuper dá a narrativa quanto ao espírito da cena: no estado de paz, os desenhos ganham cores vibrantes, contrastando com o cinzento predominante no restante da história.
A edição da Quadrinhos na Cia é elegante, em papel couchê de alta gramatura, que dá ao volume uma dignidade própria dos livros. Mas o formato incomum, praticamente quadrado, destaca a edição tanto entre o padrão dos livros quanto dos álbuns de quadrinhos em geral.
Pau e pedra foi premiado com a medalha de ouro de 2004, pela Society of Illustrators.
Quadrinho é literatura? Eis a questão. Muita gente concorda que as histórias em quadrinhos são literatura tão sofisticada quanto os livros exclusivamente em texto. Outros defendem que comparar os quadrinhos à literatura é um reducionismo, que tira dos quadrinhos seu próprio espaço na medida em que o constrange frente a uma arte que tem muito mais tempo de desenvolvimento.
Entendo que haja aqui um problema de autoestima dos autores de quadrinhos que, no Brasil, têm muito menores oportunidades de se fazer visíveis, sem falar na luta contra o preconceito que ainda grassa no mainstream. Contudo, em outros mercados, essa síndrome de vira-latas não procede, pois autores de quadrinhos têm, muitos deles, mais visibilidade e fama que muitos escritores tradicionais.
No campo da ficção científica, esse divergência é ainda mais notável. No Brasil, onde o gênero ainda engatinha em busca de personalidade, são raros os quadrinhos que ombreiam a literatura, que, por sua vez, também não é muita. Mas no exterior, esse contorno também não procede. Obras como O eternauta, de Oesterheld e Solano Lopez, Akira, de Katsuhiro Otomo, e Nausicaa do Vale dos Ventos, de Hayao Miyazaki, são usualmente considerados como expoentes da literatura de ficção científica mundial. A estes certamente podemos acrescentar Pau e pedra, de Peter Kuper, uma narrativa que dá um novo conceito ao termo "romance gráfico": a história é contada exclusivamente através de desenhos, sem nenhum texto.
Esse estilo de narrativa, conhecido no Brasil como quadrinho mudo, não é novidade. Nos jornais, as tiras do Reizinho (The little king, de Otto Soglow, 1931) e Pinduca (Henry, de Carl Anderson, 1932) estão entre as mais conhecidas. Mesmo assim, a ausência do textos é um recurso razoavelmente incomum na arte. Mas o norte americano Peter Kuper tem no quadrinho mudo o seu estado natural. Antes de Pau e pedra, publicado originalmente em 2004, Kuper vem exercitado a narrativa sem palavras desde 1997, quando assumiu Spy vs. Spy, série cômica publicada periodicamente na revista Mad, criação do cartunista cubano Antonio Prohias.
Pau e pedra é uma fábula sobre poder e intolerância, contada de forma sensível, mas não menos chocante. Um bebê de pedra é cuspido da boca de um vulcão. Lentamente, enquanto cresce e amadurece, desenvolve habilidades físicas e intelectuais que permitem que ele domine uma população de pequenos seres de pedra que o ajudam a construir sua cidadela. Mas o gigante também desenvolve um caráter dominador, praticamente escravizando seus súditos, que o idolatram como a um deus. Um dia, conduzido por um de seus exploradores, o tirano de pedra descobre, numa área isolada próxima ao seu castelo, uma comunidade de seres de madeira, que vivem em idílio pastoral. O povo de pedra ataca e escraviza o povo de madeira, para levar para sua cidade aquele novo e confortável material. Com os seres de madeira, também encontram pedras preciosas, que se tornam o grande tesouro do gigante. Contudo, entre o povo de pedra, há aqueles que discordam da forma com que o gigante governa, mas isso acaba por fazer com que todos os dissidentes, de pedra e de madeira, sejam aprisionados numa cela no alto das muralhas. Mas a maldade e a ganância não podem durar para sempre.
Os desenhos de Kuper são simples e esquemáticos, com um ótimo tratamento de claro/escuro. Curioso é a interpretação que Kuper dá a narrativa quanto ao espírito da cena: no estado de paz, os desenhos ganham cores vibrantes, contrastando com o cinzento predominante no restante da história.
A edição da Quadrinhos na Cia é elegante, em papel couchê de alta gramatura, que dá ao volume uma dignidade própria dos livros. Mas o formato incomum, praticamente quadrado, destaca a edição tanto entre o padrão dos livros quanto dos álbuns de quadrinhos em geral.
Pau e pedra foi premiado com a medalha de ouro de 2004, pela Society of Illustrators.
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
As luzes de Alice
Publicado em 2004 em edição real na coleção Hiperespaço, a novela As luzes de Alice, do ficcionista carioca Miguel Carqueija, foi disponibilizada gratuitamente pelo autor no saite Recanto das Letras. Trata-se de uma aventura de ficção científica com toques de horror lovecraftiano. Diz o texto de apresentação: "Dentro do universo ficcional dos 'Mitos de Cthulhu', criados pelo prestigiado autor norte-americano H. P. Lovecraft (1890-1937) dei início a uma série em torno de Alice Chantecler, uma jovem vidente de cabelos vermelhos. Convido os leitores a adentrarem o ambiente misterioso e opressivo do Mundo Negro, um satélite artificial que orbita a grande distância da Terra e onde sucedem coisas estranhas e terríveis".
O arquivo, em formato de texto, pode ser baixado aqui.
O arquivo, em formato de texto, pode ser baixado aqui.
Sol Negro
O Hiperespaço acaba de entrar em órbita da Sol Negro, editora independente de Natal, Rio Grande do Norte, administrada por Márcio Simões, que tem como foco a poesia e a literatura que está "à margem dos interesses representados pelas grandes editoras e conglomerados de informação", como diz o editor em sua página eletrônica. Dessa forma, sabemos que vamos encontrar material raro e incomum no mercado.
Trabalhando há já alguns anos, a Sol Negro divide seu catálogo nas coleções Cinzas ao Sol (poesias, em edições bilíngues), Os Dentes da Serpente (poesia contemporânea), Caravela Negra (ficção), Hermeneus (ensaios e não ficção), Imago (literatura plástica) e Plaquetas Sol Negro (ficções curtas e poemas em edição única), tudo com novas traduções e acabamento caprichado, a preços bastante acessíveis.
Destaque para as primeiras edições em língua portuguesa (até onde eu saiba) de A cidade da chama cantante e O mundo eterno, de Clark Ashton Smith.
Mas também pode-se encontrar ali a coletânea Paisagens apocalípticas, de H. G. Wells, e a antologia O homem do haxixe e outras histórias de paraísos artificiais, organizada por Camilo Prado com contos de Téophile Gautier, Jean Richepin, Guy de Maupassant, Jean Lorrain, Claude Farrère, Horacio Quiroga, Lord Dunsany, Bernardo Couto Castillo, Théo-Filho e Carlos A. Casotti, além de muitos outros títulos interessantes para quem gosta de literatura invulgar.
Aventure-se no catálogo da Sol Negro, aqui.
Trabalhando há já alguns anos, a Sol Negro divide seu catálogo nas coleções Cinzas ao Sol (poesias, em edições bilíngues), Os Dentes da Serpente (poesia contemporânea), Caravela Negra (ficção), Hermeneus (ensaios e não ficção), Imago (literatura plástica) e Plaquetas Sol Negro (ficções curtas e poemas em edição única), tudo com novas traduções e acabamento caprichado, a preços bastante acessíveis.
Destaque para as primeiras edições em língua portuguesa (até onde eu saiba) de A cidade da chama cantante e O mundo eterno, de Clark Ashton Smith.
Mas também pode-se encontrar ali a coletânea Paisagens apocalípticas, de H. G. Wells, e a antologia O homem do haxixe e outras histórias de paraísos artificiais, organizada por Camilo Prado com contos de Téophile Gautier, Jean Richepin, Guy de Maupassant, Jean Lorrain, Claude Farrère, Horacio Quiroga, Lord Dunsany, Bernardo Couto Castillo, Théo-Filho e Carlos A. Casotti, além de muitos outros títulos interessantes para quem gosta de literatura invulgar.
Aventure-se no catálogo da Sol Negro, aqui.
Juvenatrix 182
Está disponível a edição de dezembro do fanzine eletrônico de horror e ficção científica Juvenatrix, editado por Renato Rosatti.
A edição tem 14 páginas e traz contos de Rogério Amaral de Vasconcellos e Norton A. Coll, além de resenhas aos filmes 984: Prisioneiro do futuro (984: Prisoner of the future, Canadá, 1982), Os bárbaros invadem a Terra (The mysterians, Japão, 1957), A fuga do terror (Blood bath, EUA, 1976), Pânico no lago: O capitulo final (Lake Placid: The final chapter, EUA, 2012), Os reencarnados/A morta viva (The undead, EUA, 1957) e O vale proibido (The valley of Gwangi, EUA, 1969). A capa traz uma ilustração de Angelo Junior. Divulgação de fanzines, livros, filmes e bandas independentes de rock extremo complementam a edição.
Para obter uma cópia, basta solicitar pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.
A edição tem 14 páginas e traz contos de Rogério Amaral de Vasconcellos e Norton A. Coll, além de resenhas aos filmes 984: Prisioneiro do futuro (984: Prisoner of the future, Canadá, 1982), Os bárbaros invadem a Terra (The mysterians, Japão, 1957), A fuga do terror (Blood bath, EUA, 1976), Pânico no lago: O capitulo final (Lake Placid: The final chapter, EUA, 2012), Os reencarnados/A morta viva (The undead, EUA, 1957) e O vale proibido (The valley of Gwangi, EUA, 1969). A capa traz uma ilustração de Angelo Junior. Divulgação de fanzines, livros, filmes e bandas independentes de rock extremo complementam a edição.
Para obter uma cópia, basta solicitar pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
Na eternidade sempre é domingo
Na eternidade sempre é domingo, Santiago Santos, 144 páginas. Ilustrações de Jean Fhilippe. Editora Carlini & Caniato, Cuiabá, 2016.
O escritor matogrossense Santiago Santos apareceu há poucos anos nas redes sociais com um trabalho a conta gotas apoiado em minicontos surpreendentes, mas logo chamou a atenção por suas tramas envolventes e bizarras. Essas pequenas narrativas, que podem ser vistas no blogue Flash Fiction, revelam um autor maduro e repleto de recursos, que não se embaraça seja no mainstream, seja nos gêneros, que desenvolve sem padrões e protocolos. Cada texto é uma experiência diferente e, muitas vezes, depois dos poucos minutos dedicado à degustação do mesmo, o leitor fica com a vontade de mais.
Na eternidade sempre é domingo vem atender ao desejo desses leitores. Trata-se do que, na tradição anglófona, se convencionou chamar de fix-up, um romance construído a partir de narrativas menores independentes entre si mas que, quando reunidas assim, formam um todo coerente. Os vinte pequenos contos publicados neste livro parecem prometer satisfazer o anseio do leitor, mas, no fim das contas, fiquei querendo mais do mesmo jeito.
O romance, o primeiro do autor, é um relato de um mochilão pelos Andes peruano e boliviano, viagem que Santiago realmente empreendeu em 2014. No primeiro conto, ainda no Brasil, o autor é confrontado por uma entidade mágica que se apresenta como Nipi, um espírito ancestral que, a cada trecho da viagem, revela os segredos fantásticos que diversos personagens escondem em sua aparência cotidiana. Assim, uma senhora insuspeita se revela uma antiga modelista da corte incaica, dois meninos de rua são os filhos imortais de Atahuallpa e Huáscar, e até animais domésticos se elevam a categoria de semidivindades. Todo isso para que a história e a cultura andinas sejam levadas ao mundo e nunca esquecidas.
A jornada nos leva a Cusco, La Paz e diversos vilarejos e pontos turísticos da região, como o Lago Titicaca e Machu-Picchu, com descrições vívidas de suas paisagens e costumes. Cada conto/capítulo é aberto por uma fotografia tirada pelo autor, que ilustra os personagens que irão ali se apresentar.
O autor revela ter feito uma longa e minuciosa pesquisa para escrever os relatos, de forma que a ficção se mistura à realidade e não sabemos exatamente onde termina uma e começa a outra. Para auxilar o entendimento dos muitos termos quíchua que dão título aos contos e surgem a todo tempo em meio à narrativa, há oportunas notas de rodapé e vários apêndices, que também dão aos contos uma sólida consistência histórica.
Mas o que isso tem a ver com nós, brasileiros, que aparentemente não somos em nada participantes dessa cultura? Em tempos de governo golpista que vira as costas para a América Latina, pode mesmo parecer inútil, mas nos faz pensar no porquê disso, que é uma questão que paira sem resposta desde os primeiros tempos do fandom brasileiro de fc&f. Por que não temos um intercâmbio com a produção dos nossos vizinhos? Por que não valorizamos a cultura do subcontinente no qual nos incluímos, desprezando até mesmo nossa própria tradição em favor de modelos de terras muito mais distantes e ainda mais incompreensíveis?
Santiago Santos mostra que é possível construir ficção relevante sem tributar às metrópoles e que a América Latina é um mistério ainda por ser descoberto pelos brasileiros. Porque, afinal, as fronteiras são apenas limitações políticas: a América Latina também está em nós.
A aventura termina como todas as peregrinações: numa última viagem de ônibus de volta para casa. Nipi se despede mas, por certo, continua a espera dos peregrinos, para mostrar outros segredos da rica magia andina.
O volume está disponível em versão digital aqui, mas pode ser obtido em papel no saite da editora ou diretamente com o autor – com direito a autógrafo e dedicatória – através do email contato@flashfiction.com.br.
Uma entrevista em áudio em que Santiago conta a experiência de escrever este livro, pode ser ouvida aqui.
O escritor matogrossense Santiago Santos apareceu há poucos anos nas redes sociais com um trabalho a conta gotas apoiado em minicontos surpreendentes, mas logo chamou a atenção por suas tramas envolventes e bizarras. Essas pequenas narrativas, que podem ser vistas no blogue Flash Fiction, revelam um autor maduro e repleto de recursos, que não se embaraça seja no mainstream, seja nos gêneros, que desenvolve sem padrões e protocolos. Cada texto é uma experiência diferente e, muitas vezes, depois dos poucos minutos dedicado à degustação do mesmo, o leitor fica com a vontade de mais.
Na eternidade sempre é domingo vem atender ao desejo desses leitores. Trata-se do que, na tradição anglófona, se convencionou chamar de fix-up, um romance construído a partir de narrativas menores independentes entre si mas que, quando reunidas assim, formam um todo coerente. Os vinte pequenos contos publicados neste livro parecem prometer satisfazer o anseio do leitor, mas, no fim das contas, fiquei querendo mais do mesmo jeito.
O romance, o primeiro do autor, é um relato de um mochilão pelos Andes peruano e boliviano, viagem que Santiago realmente empreendeu em 2014. No primeiro conto, ainda no Brasil, o autor é confrontado por uma entidade mágica que se apresenta como Nipi, um espírito ancestral que, a cada trecho da viagem, revela os segredos fantásticos que diversos personagens escondem em sua aparência cotidiana. Assim, uma senhora insuspeita se revela uma antiga modelista da corte incaica, dois meninos de rua são os filhos imortais de Atahuallpa e Huáscar, e até animais domésticos se elevam a categoria de semidivindades. Todo isso para que a história e a cultura andinas sejam levadas ao mundo e nunca esquecidas.
A jornada nos leva a Cusco, La Paz e diversos vilarejos e pontos turísticos da região, como o Lago Titicaca e Machu-Picchu, com descrições vívidas de suas paisagens e costumes. Cada conto/capítulo é aberto por uma fotografia tirada pelo autor, que ilustra os personagens que irão ali se apresentar.
O autor revela ter feito uma longa e minuciosa pesquisa para escrever os relatos, de forma que a ficção se mistura à realidade e não sabemos exatamente onde termina uma e começa a outra. Para auxilar o entendimento dos muitos termos quíchua que dão título aos contos e surgem a todo tempo em meio à narrativa, há oportunas notas de rodapé e vários apêndices, que também dão aos contos uma sólida consistência histórica.
Mas o que isso tem a ver com nós, brasileiros, que aparentemente não somos em nada participantes dessa cultura? Em tempos de governo golpista que vira as costas para a América Latina, pode mesmo parecer inútil, mas nos faz pensar no porquê disso, que é uma questão que paira sem resposta desde os primeiros tempos do fandom brasileiro de fc&f. Por que não temos um intercâmbio com a produção dos nossos vizinhos? Por que não valorizamos a cultura do subcontinente no qual nos incluímos, desprezando até mesmo nossa própria tradição em favor de modelos de terras muito mais distantes e ainda mais incompreensíveis?
Santiago Santos mostra que é possível construir ficção relevante sem tributar às metrópoles e que a América Latina é um mistério ainda por ser descoberto pelos brasileiros. Porque, afinal, as fronteiras são apenas limitações políticas: a América Latina também está em nós.
A aventura termina como todas as peregrinações: numa última viagem de ônibus de volta para casa. Nipi se despede mas, por certo, continua a espera dos peregrinos, para mostrar outros segredos da rica magia andina.
O volume está disponível em versão digital aqui, mas pode ser obtido em papel no saite da editora ou diretamente com o autor – com direito a autógrafo e dedicatória – através do email contato@flashfiction.com.br.
Uma entrevista em áudio em que Santiago conta a experiência de escrever este livro, pode ser ouvida aqui.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
Atomic 2017
Depois de um 2016 de dificuldades, a Atomic Quadrinhos retoma às atividades editorais a todo o vapor, anunciando o lançamento de cinco novos títulos em várias de suas coleções.
O carro chefe dessa editora gaúcha, coordenada por Marcos Freitas, é o fanzine Quadritos, que chega com sua edição número 13 destacando o trabalho de Elmano, autor de séries que fizeram muito sucesso nos anos 1980 nas páginas da revista Spektro. Traz ainda trabalhos de Mozart Couto, Flávio Calazans, Lafaiete Nascimento, Edgar Franco, Edgard Guimarães, Guabiras, Danielle Barros e Júlio Shimamoto.
A editora também prepara dois álbuns de Flávio Calazans, republicando o que chama de "Guerras calazanísticas": A guerra dos golfinhos e Guerra das ideias, verdadeiros clássicos dos quadrinhos independentes.
A coleção Monstros dos Fanzines recebe sua quarta edição dedicada ao trabalho de Luciano Irrthum, quadrinhista mineiro dono de um traço personalíssimo, premiado com o Nova em 1995.
Para completar, o primeiro número da coleção Atomixxx, dedicada ao quadrinho erótico. Na edição de estreia, Fátima, a mutante, de Emir Ribeiro.
Para uma visão detalhada de cada edição, está disponível aqui o informativo Radioatividade, com 47 páginas e muitas imagens do conteúdo de cada um destes lançamentos. Vale a pena conferir.
O carro chefe dessa editora gaúcha, coordenada por Marcos Freitas, é o fanzine Quadritos, que chega com sua edição número 13 destacando o trabalho de Elmano, autor de séries que fizeram muito sucesso nos anos 1980 nas páginas da revista Spektro. Traz ainda trabalhos de Mozart Couto, Flávio Calazans, Lafaiete Nascimento, Edgar Franco, Edgard Guimarães, Guabiras, Danielle Barros e Júlio Shimamoto.
A editora também prepara dois álbuns de Flávio Calazans, republicando o que chama de "Guerras calazanísticas": A guerra dos golfinhos e Guerra das ideias, verdadeiros clássicos dos quadrinhos independentes.
A coleção Monstros dos Fanzines recebe sua quarta edição dedicada ao trabalho de Luciano Irrthum, quadrinhista mineiro dono de um traço personalíssimo, premiado com o Nova em 1995.
Para completar, o primeiro número da coleção Atomixxx, dedicada ao quadrinho erótico. Na edição de estreia, Fátima, a mutante, de Emir Ribeiro.
Para uma visão detalhada de cada edição, está disponível aqui o informativo Radioatividade, com 47 páginas e muitas imagens do conteúdo de cada um destes lançamentos. Vale a pena conferir.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Argos 2016 em números
O Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC divulgou há poucos dias a planilha final dos votos recebidos para o prêmio Argos 2016, que aponta, na opinião de seus membros, os melhores trabalhos nacionais publicados no Brasil em 2015 nas categorias Romance, Conto e Antologia.
É possível ver a relação sem nenhum filtro, mas é preciso um pouco de atenção para entender o que ela mostra. Interessado que sou pelos números, mais exatamente pelas informações estatísticas ligadas ao fandom, estudar uma planilha como essa revela muitas coisas para além dos escolhidos, conhecidos numa cerimônia de premiação no Rio de Janeiro, no último dia 26 de novembro.
Os vencedores foram, na categoria Romance, O império de diamante, de João Beraldo; "O último caçador branco", de Luiz Felipe Vasques, e Monstros Gigantes: Kaiju, de Luiz Felipe Vasques e Daniel Ribas, levaram os prêmios nas outras duas categorias. A grande vencedora da premiação, contudo, foi a Editora Draco, publicadora de todos os três premiados. Não foi a primeira vez que aconteceu, pois em 2012, quando o Argos tinha apenas as categorias Romance e Conto, isso já havia ocorrido. O que reforçou a hegemonia neste ano foi que o seu editor, Erick Sama, também foi homenageado com um prêmio especial.
Mas vamos aos números.
Houve um total de 48 votantes, e variou muito a composição dos votos. Nenhuma categoria teve participação total e houve uma grande quantidade de votos em branco. Cada categoria pede o voto de dois títulos, em primeira e segunda posições. A contagem dos pontos – se segue os mesmos critérios de 2012 – é de 2 pontos para o voto em primeira posição e 1 ponto para o voto em segunda posição.
A categoria Romances recebeu um total de 62 votos: 34 para 1º, 25 para 2º e 3 votos inválidos (livros de autores estrangeiros que não participam do certame). O vencedor, O império de diamante, recebeu 15 pontos, com seis primeiros lugares. O segundo colocado foi Estação Terra, de Odimer Nogueira (12 pontos, quatro primeiros lugares); o terceiro foi E de extermínio, de Cirilo Lemos (11 pontos, três primeiros lugares); em quarto, empatados Encruzilhada, de Lúcio Manfredi e Estranhos no paraíso, de Gerson Lodi-Ribeiro (9 pontos, quatro primeiros lugares cada). Outros 20 títulos aparecem na sequência. Percebe a ausência dos grandes nomes do gênero, embora Eduardo Spohr e Leonel Caldela tenham sido lembrados em posições de fundo.
A categoria Contos foi a mais concorrida: recebeu 64 indicações, sendo 33 para primeira colocação, 28 para a segunda e 3 votos inválidos (um texto de 2016, um romance e um texto estrangeiro). O vencedor, "O último caçador branco", recebeu 14 pontos (seis primeiros lugares). Em segundo, Diamante truncado, de Carlos Orsi (8 pontos, três primeiros lugares); em terceiro A invasora, de Fabio Barreto (6 pontos e três primeiros lugares); em quarto lugar, "Lolipop", de Claudia Duguin (5 pontos, um primeiro lugar), e em quinto, empatados, "Fita de Moebius", de Valter Cardoso, "A noiva diminuta", de Clara Madrigano, "Cruzeiro do Sol", de Edgar Smaniotto, O tesouro de mares gelados, de Ana Lucia Merege e "Dandara, rainha guerreira de Palmares", de Newton Nitro (todos com 3 pontos e um primeiro lugar). Aqui cabe uma observação: apesar do empate quíntuplo, apenas "Fita de Moebius" e O tesouro de mares gelados figuraram entre os finalistas divulgados antecipadamente. Talvez houvesse alguma invalidade nos demais títulos ou este contador incompetente tenha errado nos cálculos. De qualquer forma, isso não mudaria o resultado pois a votação já estava encerrada. Seguem-se mais 28 títulos, que denotam uma pulverização bem maior que na categoria Romances. Ana Lúcia Merege, Edgar Smaniotto, Sid Castro e Gilson Cunha foram lembrados com dois títulos cada.
A categoria Antologias foi a menos votada: recebeu apenas 45 indicações, 23 em primeiro lugar, 16 em segundo e 6 votos inválidos (uma hq, um conto e três livros publicados em outros anos). O vencedor foi Monstros gigantes: Kaiju (22 pontos, dez primeiros lugares), sendo de longe a maior unanimidade do certame. Em segundo vem Estranhas histórias de seres normais (6 pontos, três primeiros lugares); em terceiro Space Opera 3 (6 pontos, dois primeiros lugares), em quarto Samurais e ninjas (6 pontos, nenhum primeiro lugar). Na quinta posição, Herdeiros de Dagon (4 pontos, dois primeiros lugares). Na sexta posição, empatados, Tempos de fúria, de Carlos Orsi, e o periódico Imaginários 6. Apesar do empate, Tempos de fúria, única coletânea (seleta de um único autor) citada na categoria, não figurou entre os finalistas divulgados antecipadamente, porque a organização contabilizou um voto inválido para Imaginários 6 (esse voto foi dado nominalmente para o volume número 2). Seguem mais sete títulos, revelando que os leitores de hoje, apesar de ainda darem atenção especial à categoria Contos, não parecem tão interessados em antologias como em outros tempos.
É claro que não podemos tirar desta pesquisa em um universo limitadíssimo, conclusões para o fandom como um todo. Num ano de ampla variedade de editoras trabalhando a fc&f, inclusive algumas grandes, todos os votos serem conduzidos a uma única casa é algo bastante incomum. Por certo, revela que as pessoas ligadas ao CLFC dão preferência ao que essa editora em especial tem publicado, e não mais do que isso. Afinal, cada editora tem seu público, e acontece da Draco ter no CLFC uma fidelidade incontestável, maior até que a seu próprio veículo, o fanzine Somnium, que não emplacou nenhum conto entre os finalistas.
Para checar estas informações e tecer suas próprias conclusões, visite a planilha aqui.
É possível ver a relação sem nenhum filtro, mas é preciso um pouco de atenção para entender o que ela mostra. Interessado que sou pelos números, mais exatamente pelas informações estatísticas ligadas ao fandom, estudar uma planilha como essa revela muitas coisas para além dos escolhidos, conhecidos numa cerimônia de premiação no Rio de Janeiro, no último dia 26 de novembro.
Os vencedores foram, na categoria Romance, O império de diamante, de João Beraldo; "O último caçador branco", de Luiz Felipe Vasques, e Monstros Gigantes: Kaiju, de Luiz Felipe Vasques e Daniel Ribas, levaram os prêmios nas outras duas categorias. A grande vencedora da premiação, contudo, foi a Editora Draco, publicadora de todos os três premiados. Não foi a primeira vez que aconteceu, pois em 2012, quando o Argos tinha apenas as categorias Romance e Conto, isso já havia ocorrido. O que reforçou a hegemonia neste ano foi que o seu editor, Erick Sama, também foi homenageado com um prêmio especial.
Mas vamos aos números.
Houve um total de 48 votantes, e variou muito a composição dos votos. Nenhuma categoria teve participação total e houve uma grande quantidade de votos em branco. Cada categoria pede o voto de dois títulos, em primeira e segunda posições. A contagem dos pontos – se segue os mesmos critérios de 2012 – é de 2 pontos para o voto em primeira posição e 1 ponto para o voto em segunda posição.
A categoria Romances recebeu um total de 62 votos: 34 para 1º, 25 para 2º e 3 votos inválidos (livros de autores estrangeiros que não participam do certame). O vencedor, O império de diamante, recebeu 15 pontos, com seis primeiros lugares. O segundo colocado foi Estação Terra, de Odimer Nogueira (12 pontos, quatro primeiros lugares); o terceiro foi E de extermínio, de Cirilo Lemos (11 pontos, três primeiros lugares); em quarto, empatados Encruzilhada, de Lúcio Manfredi e Estranhos no paraíso, de Gerson Lodi-Ribeiro (9 pontos, quatro primeiros lugares cada). Outros 20 títulos aparecem na sequência. Percebe a ausência dos grandes nomes do gênero, embora Eduardo Spohr e Leonel Caldela tenham sido lembrados em posições de fundo.
A categoria Contos foi a mais concorrida: recebeu 64 indicações, sendo 33 para primeira colocação, 28 para a segunda e 3 votos inválidos (um texto de 2016, um romance e um texto estrangeiro). O vencedor, "O último caçador branco", recebeu 14 pontos (seis primeiros lugares). Em segundo, Diamante truncado, de Carlos Orsi (8 pontos, três primeiros lugares); em terceiro A invasora, de Fabio Barreto (6 pontos e três primeiros lugares); em quarto lugar, "Lolipop", de Claudia Duguin (5 pontos, um primeiro lugar), e em quinto, empatados, "Fita de Moebius", de Valter Cardoso, "A noiva diminuta", de Clara Madrigano, "Cruzeiro do Sol", de Edgar Smaniotto, O tesouro de mares gelados, de Ana Lucia Merege e "Dandara, rainha guerreira de Palmares", de Newton Nitro (todos com 3 pontos e um primeiro lugar). Aqui cabe uma observação: apesar do empate quíntuplo, apenas "Fita de Moebius" e O tesouro de mares gelados figuraram entre os finalistas divulgados antecipadamente. Talvez houvesse alguma invalidade nos demais títulos ou este contador incompetente tenha errado nos cálculos. De qualquer forma, isso não mudaria o resultado pois a votação já estava encerrada. Seguem-se mais 28 títulos, que denotam uma pulverização bem maior que na categoria Romances. Ana Lúcia Merege, Edgar Smaniotto, Sid Castro e Gilson Cunha foram lembrados com dois títulos cada.
A categoria Antologias foi a menos votada: recebeu apenas 45 indicações, 23 em primeiro lugar, 16 em segundo e 6 votos inválidos (uma hq, um conto e três livros publicados em outros anos). O vencedor foi Monstros gigantes: Kaiju (22 pontos, dez primeiros lugares), sendo de longe a maior unanimidade do certame. Em segundo vem Estranhas histórias de seres normais (6 pontos, três primeiros lugares); em terceiro Space Opera 3 (6 pontos, dois primeiros lugares), em quarto Samurais e ninjas (6 pontos, nenhum primeiro lugar). Na quinta posição, Herdeiros de Dagon (4 pontos, dois primeiros lugares). Na sexta posição, empatados, Tempos de fúria, de Carlos Orsi, e o periódico Imaginários 6. Apesar do empate, Tempos de fúria, única coletânea (seleta de um único autor) citada na categoria, não figurou entre os finalistas divulgados antecipadamente, porque a organização contabilizou um voto inválido para Imaginários 6 (esse voto foi dado nominalmente para o volume número 2). Seguem mais sete títulos, revelando que os leitores de hoje, apesar de ainda darem atenção especial à categoria Contos, não parecem tão interessados em antologias como em outros tempos.
É claro que não podemos tirar desta pesquisa em um universo limitadíssimo, conclusões para o fandom como um todo. Num ano de ampla variedade de editoras trabalhando a fc&f, inclusive algumas grandes, todos os votos serem conduzidos a uma única casa é algo bastante incomum. Por certo, revela que as pessoas ligadas ao CLFC dão preferência ao que essa editora em especial tem publicado, e não mais do que isso. Afinal, cada editora tem seu público, e acontece da Draco ter no CLFC uma fidelidade incontestável, maior até que a seu próprio veículo, o fanzine Somnium, que não emplacou nenhum conto entre os finalistas.
Para checar estas informações e tecer suas próprias conclusões, visite a planilha aqui.
11 de dezembro: Dia da ficção científica brasileira
O próximo dia 11 de dezembro será uma data lembrada para sempre. Pela primeira vez na história, a ficção científica brasileira terá o seu dia. E não é um dia qualquer, escolhido aleatoriamente: trata-se da data de nascimento de Jerônymo Monteiro (1908-1970), considerado pelos fãs do gênero como o pai da ficção científica brasileira, escritor, tradutor, editor e organizador de extrema ousadia, que teve importante papel na construção de uma consciência brasilianista no gênero, numa época em que a fc era desprezada pela intelectualidade.
Monteiro é autor, entre outros livros, do romance Três meses no século 81 (publicado em 1947), foi diretor de redação da Magazine de Ficção Científica, da editora Globo, que, a cada edição, apresentava um autor brasileiro. Também foi um dos primeiros autores brasileiros a enveredar pela literatura policial. Foi fundador do Clube de Ciencificção (1964) e da Associação Brasileira de Ficção Científica-ABFC (1969), os primeiros do gênero no país.
Para fixar essa efeméride, a Biblioteca Pública Viriato Corrêa vai receber um evento especial, quando o ator será lembrado e homenageado nas pessoas de Helio Monteiro e Cris Monteiro Kayatt, filho e neta de Jeronymo Monteiro, num bate papo mediado pelo editor Silvio Alexandre e pelo escritor Luiz Bras. Também sertão expostos objetos, fotos e livros ligados ao escritor.
O evento acontece exatamente no dia 11 de dezembro, das 15 às 17 horas, na Biblioteca Pública Viriato Corrêa (Rua Sena Madureira, 298 - Vila Mariana - São Paulo). A entrada é franca.
Mais informações na fanpage do evento, aqui.
Monteiro é autor, entre outros livros, do romance Três meses no século 81 (publicado em 1947), foi diretor de redação da Magazine de Ficção Científica, da editora Globo, que, a cada edição, apresentava um autor brasileiro. Também foi um dos primeiros autores brasileiros a enveredar pela literatura policial. Foi fundador do Clube de Ciencificção (1964) e da Associação Brasileira de Ficção Científica-ABFC (1969), os primeiros do gênero no país.
Para fixar essa efeméride, a Biblioteca Pública Viriato Corrêa vai receber um evento especial, quando o ator será lembrado e homenageado nas pessoas de Helio Monteiro e Cris Monteiro Kayatt, filho e neta de Jeronymo Monteiro, num bate papo mediado pelo editor Silvio Alexandre e pelo escritor Luiz Bras. Também sertão expostos objetos, fotos e livros ligados ao escritor.
O evento acontece exatamente no dia 11 de dezembro, das 15 às 17 horas, na Biblioteca Pública Viriato Corrêa (Rua Sena Madureira, 298 - Vila Mariana - São Paulo). A entrada é franca.
Mais informações na fanpage do evento, aqui.
Galaxis repaginado
Está de roupa nova o saite Galaxis: Conflito e intriga no século 25, dedicado à obra do escritor sambernardense Roberto de Sousa Causo. Trata-se de um autor que construiu sua carreira explorando o ambiente fantástico, especialmente a ficção científica, que é objeto deste saite, mais especificamente as séries de 'space opera' Shiroma e Lições do Matador, ambas com diversos textos já publicados em livros, revistas e antologias.
O trabalho de recriação visual esteve a cargo do ilustrador paulistano Vagner Vargas, conhecido pelas belas capas que produz para livros de fc&f.
Para quem gosta de apreciar imagens inspiradoras, vale a pena dar uma olhada também no saite de Vargas, que tem muito para mostrar.
O trabalho de recriação visual esteve a cargo do ilustrador paulistano Vagner Vargas, conhecido pelas belas capas que produz para livros de fc&f.
Para quem gosta de apreciar imagens inspiradoras, vale a pena dar uma olhada também no saite de Vargas, que tem muito para mostrar.
Pago
2016 assinalou o centenário da morte de João Simões Lopes Neto (1865-1916), escritor de Pelotas, considerado o mais importante autor regionalista gaúcho. Sua obra inspirou a produtora Epopeia, que está desenvolvendo o jogo eletrônico Pago, no qual um viajante, após muitos anos vivendo na cidade, quer voltar a sua terra natal, mas para isso terá de enfrentar diversas dificuldades nas figuras de personagens do folclore gaúcho.
Recentemente, a Epopeia anunciou a contratação de Christopher Kastensmidt, escritor norte-americano radicado no Brasil, autor da franquia A Bandeira do Elefante e da Arara que, além de conhecedor do nosso folclore, é experiente desenvolvedor de jogos. “A primeira vez que me apresentaram o Pago, me encantei com o projeto. É um game de temática universal e uma linda ambientação regional que vai chamar muita atenção pela originalidade. Tenho certeza que vai ser um sucesso internacional e fico honrado com o convite de fazer parte do time”, destacou Christopher. Sem dúvida, um reforço luxuoso para a equipe.
No momento, a Epopeia está em busca de empresas para financiar o projeto. Aqueles que tiverem interesse em participar terão sua marca vinculada ao jogo e que, por consequência, será levada aos mais diversos eventos que entrarem no calendário de divulgação do material no próximo ano.
Pago deve ser lançado entre 2017 para PCs e, futuramente, para os consoles Playstation e Xbox.
Um vídeo com imagens do jogo pode ser assistido aqui.
Recentemente, a Epopeia anunciou a contratação de Christopher Kastensmidt, escritor norte-americano radicado no Brasil, autor da franquia A Bandeira do Elefante e da Arara que, além de conhecedor do nosso folclore, é experiente desenvolvedor de jogos. “A primeira vez que me apresentaram o Pago, me encantei com o projeto. É um game de temática universal e uma linda ambientação regional que vai chamar muita atenção pela originalidade. Tenho certeza que vai ser um sucesso internacional e fico honrado com o convite de fazer parte do time”, destacou Christopher. Sem dúvida, um reforço luxuoso para a equipe.
No momento, a Epopeia está em busca de empresas para financiar o projeto. Aqueles que tiverem interesse em participar terão sua marca vinculada ao jogo e que, por consequência, será levada aos mais diversos eventos que entrarem no calendário de divulgação do material no próximo ano.
Pago deve ser lançado entre 2017 para PCs e, futuramente, para os consoles Playstation e Xbox.
Um vídeo com imagens do jogo pode ser assistido aqui.
Arthur Machen: O mestre do oculto
Arthur Machen: O mestre do oculto é o novo projeto da editora independente Clock Tower, que reúne textos do escritor galês Arthur Machen (1863-1947), considerado um dos autores clássicos do horror.
Trata-se da mais completa obra do autor no país, com nove textos selecionados, muitos dos quais inéditos em língua portuguesa, incluindo a novela "O grande deus Pã", seu texto mais conhecido.
A edição está sendo viabilizada exclusivamente através de pré-venda; ou seja, depois de encerrada, o livro não será mais comercializado.
Mais informações no saite da editora Clock Tower, aqui.
Trata-se da mais completa obra do autor no país, com nove textos selecionados, muitos dos quais inéditos em língua portuguesa, incluindo a novela "O grande deus Pã", seu texto mais conhecido.
A edição está sendo viabilizada exclusivamente através de pré-venda; ou seja, depois de encerrada, o livro não será mais comercializado.
Mais informações no saite da editora Clock Tower, aqui.
Conexão Literatura 18
Está circulando o número 18 da revista eletrônica Conexão Literatura, editada por Ademir Pascale pela Fábrica de Ebooks.
A edição de 73 páginas destaca o trabalho da escritora Aline Basztabin, autora dos livros A indiscutível forma de amar e A essência da dor. Também são entrevistados os escritores Anderon Câmara, Caio Viana, Daniella Pontes, Francisco Ederaldo Kornalewski, Isidoro Sousa, José Paes, Lou Olivier e Ricardo Netto.
Ainda são publicados contos de Míriam Santiago e Marcelo Garbine, crônicas de Angelo Miranda, Dione Souto Rosa e Misa Ferreira, poemas de Amanda Lonardi e Jack Michel, resenha de Rafael Botter ao livro Chaves: A história oficial ilustrada, além da coluna "Conexão Nerd" comentando os grupos literários nas redes sociais.
A revista é gratuita e pode ser baixada aqui. Edições anteriores também estão disponíveis.
A edição de 73 páginas destaca o trabalho da escritora Aline Basztabin, autora dos livros A indiscutível forma de amar e A essência da dor. Também são entrevistados os escritores Anderon Câmara, Caio Viana, Daniella Pontes, Francisco Ederaldo Kornalewski, Isidoro Sousa, José Paes, Lou Olivier e Ricardo Netto.
Ainda são publicados contos de Míriam Santiago e Marcelo Garbine, crônicas de Angelo Miranda, Dione Souto Rosa e Misa Ferreira, poemas de Amanda Lonardi e Jack Michel, resenha de Rafael Botter ao livro Chaves: A história oficial ilustrada, além da coluna "Conexão Nerd" comentando os grupos literários nas redes sociais.
A revista é gratuita e pode ser baixada aqui. Edições anteriores também estão disponíveis.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
De jogos e festas
De jogos e festas, José J. Veiga. 190 páginas. Editora Companhia das Letras, São Paulo, 2016.
Desde 2015, quando se comemorou o centenário do nascimento do fantasista goiano José J. Veiga (1915-1999), e o catálogo do autor passou a integrar o acervo da Companhia das Letras, que iniciou a republicação de suas obras em uma coleção dedicada ao autor. Foram publicados em 2015 a coletânea Os cavalinhos do Platiplanto e os romances A hora dos ruminantes e Sombras de reis barbudos. Depois de um pequeno hiato, a coleção seguiu em frente em 2016 com o lançamento da coletânea De jogos e festas, publicada originalmente em 1980. O acabamento segue o padrão da coleção, com a capa ilustrada por Deco Frakas, mas sem capas duras desta vez.
Trata-se de uma seleta com apenas três textos, sendo duas novelas e um conto, além de um posfácio assinado por José Castello, em que comenta curiosidades sobre o autor e sua obra, principalmente a amizade com o também escritor João Guimarães Rosa.
Em respeito a opinião do autor, o volume não tem prefácio – o que é explicado por Castello –, e entra de cara na novela que dá nome ao livro e toma quase a metade de suas páginas. Esta é uma história de contornos realistas, em torno do mistério da morte de Vicente, cuja solução passa a ser o obsessão de seu irmão mais novo, Mário, que retornou à cidade natal depois de um período de afastamento. Há uma série de detalhes que o autor tece em torno desse mistério e de suas consequências familiares e sociais, mistérios estes que vão alterando a percepção e o comportamento de Mário que, aos poucos, vai assumindo a personalidade do irmão para tentar entender os motivos e o causador de sua morte, envolvendo-se com seus amigos, e demais pessoas de sue passado. A narrativa tem momentos oníricos característicos das obras de Veiga, mas sem a proposital indefinição do tempo da ação: desta vez, quando é sonho, sabemos que é.
Bem no centro do livro, temos o conto curto "Quando a Terra era redonda", o texto mais fantástico do volume. É escrito em forma de um artigo, como se fosse um texto de estudo acadêmico. Nele, o estudioso comenta, em algum momento do futuro distante, sobre as característica do mundo no tempo em que a Terra era redonda, pois em sua época ela não é mais: tornou-se chata assim com o tudo o que antes era arredondado. Assim, discute como, no passado, deveria ser a percepção de um mundo redondo, algo quase incompreensível para os habitantes do futuro. O texto é divertidíssimo, e dialoga com o clássico da ficção científica Planolâdia, do escritor britânico Edwin A. Abbott (1838-1926).
A segunda metade do volume é ocupada pela novela "O trono no morro", uma espécie de versão veiguiana a Grande Sertão: Veredas, de seu grande amigo Guimarães Rosa. O início do texto tem um tom de fantasia medieval, que vai se justificar ao final da leitura. A história é sobre Quintino que, quando jovem, foi "recrutado" pelo bando de Gumercindo Frade, cangaceiro violento que o inicia na arte da bala. Quintino sonha em voltar a vida pacífica e previsível de agricultor da qual foi sequestrado, mas seu talento com as armas acaba por torná-lo uma referência no grupo cangaceiro. Até o dia em que, depois de uma tocaia à traição que dizimou o bando, Quintino consegue escapar e se torna um pacato comerciante numa cidadezinha esquecida. O rumo da história muda radicalmente, saindo das correrias e tiroteios para uma relação social estável com a comunidade, onde Quintino vai encontrar o amor e a realização pessoal, bem como as tragédias da vida ordinária, que são tão ou mais dolorosas que aquelas enfrentadas no cangaço. Resta a Quintino a fuga para dentro de si mesmo.
Veiga nunca decepciona seus leitores. Trata-se de um verdadeiro gigante da narrativa, que faz emergir o maravilhoso das situações mais corriqueiras. Porque, afinal, a vida é por si só um milagre e cada detalhe dela é, em si, um fato tão fantástico quanto improvável, conforme o ponto de vista. Ponto de vista este que Veiga, como um experiente fotógrafo, é mestre em focalizar.
Desde 2015, quando se comemorou o centenário do nascimento do fantasista goiano José J. Veiga (1915-1999), e o catálogo do autor passou a integrar o acervo da Companhia das Letras, que iniciou a republicação de suas obras em uma coleção dedicada ao autor. Foram publicados em 2015 a coletânea Os cavalinhos do Platiplanto e os romances A hora dos ruminantes e Sombras de reis barbudos. Depois de um pequeno hiato, a coleção seguiu em frente em 2016 com o lançamento da coletânea De jogos e festas, publicada originalmente em 1980. O acabamento segue o padrão da coleção, com a capa ilustrada por Deco Frakas, mas sem capas duras desta vez.
Trata-se de uma seleta com apenas três textos, sendo duas novelas e um conto, além de um posfácio assinado por José Castello, em que comenta curiosidades sobre o autor e sua obra, principalmente a amizade com o também escritor João Guimarães Rosa.
Em respeito a opinião do autor, o volume não tem prefácio – o que é explicado por Castello –, e entra de cara na novela que dá nome ao livro e toma quase a metade de suas páginas. Esta é uma história de contornos realistas, em torno do mistério da morte de Vicente, cuja solução passa a ser o obsessão de seu irmão mais novo, Mário, que retornou à cidade natal depois de um período de afastamento. Há uma série de detalhes que o autor tece em torno desse mistério e de suas consequências familiares e sociais, mistérios estes que vão alterando a percepção e o comportamento de Mário que, aos poucos, vai assumindo a personalidade do irmão para tentar entender os motivos e o causador de sua morte, envolvendo-se com seus amigos, e demais pessoas de sue passado. A narrativa tem momentos oníricos característicos das obras de Veiga, mas sem a proposital indefinição do tempo da ação: desta vez, quando é sonho, sabemos que é.
Bem no centro do livro, temos o conto curto "Quando a Terra era redonda", o texto mais fantástico do volume. É escrito em forma de um artigo, como se fosse um texto de estudo acadêmico. Nele, o estudioso comenta, em algum momento do futuro distante, sobre as característica do mundo no tempo em que a Terra era redonda, pois em sua época ela não é mais: tornou-se chata assim com o tudo o que antes era arredondado. Assim, discute como, no passado, deveria ser a percepção de um mundo redondo, algo quase incompreensível para os habitantes do futuro. O texto é divertidíssimo, e dialoga com o clássico da ficção científica Planolâdia, do escritor britânico Edwin A. Abbott (1838-1926).
A segunda metade do volume é ocupada pela novela "O trono no morro", uma espécie de versão veiguiana a Grande Sertão: Veredas, de seu grande amigo Guimarães Rosa. O início do texto tem um tom de fantasia medieval, que vai se justificar ao final da leitura. A história é sobre Quintino que, quando jovem, foi "recrutado" pelo bando de Gumercindo Frade, cangaceiro violento que o inicia na arte da bala. Quintino sonha em voltar a vida pacífica e previsível de agricultor da qual foi sequestrado, mas seu talento com as armas acaba por torná-lo uma referência no grupo cangaceiro. Até o dia em que, depois de uma tocaia à traição que dizimou o bando, Quintino consegue escapar e se torna um pacato comerciante numa cidadezinha esquecida. O rumo da história muda radicalmente, saindo das correrias e tiroteios para uma relação social estável com a comunidade, onde Quintino vai encontrar o amor e a realização pessoal, bem como as tragédias da vida ordinária, que são tão ou mais dolorosas que aquelas enfrentadas no cangaço. Resta a Quintino a fuga para dentro de si mesmo.
Veiga nunca decepciona seus leitores. Trata-se de um verdadeiro gigante da narrativa, que faz emergir o maravilhoso das situações mais corriqueiras. Porque, afinal, a vida é por si só um milagre e cada detalhe dela é, em si, um fato tão fantástico quanto improvável, conforme o ponto de vista. Ponto de vista este que Veiga, como um experiente fotógrafo, é mestre em focalizar.