É claro que perdi muitas ótimas oportunidades ao longo das duas semanas que durou a Feira, mas no dia 11 consegui assistir algumas, especialmente a de dois colegas ilustradores cujos trabalhos admiro bastante: Jô Oliveira e Thaís Linhares.
Jô Oliveira é um veterano desenhista de quadrinhos, que começou sua carreira profissional desenhando selos para os Correios, com os quais ganhou diversos prêmios e muito prestígio. A influência do cordel manifesta-se fortemente em seu estilo, que remete à xilogravura, embora seja feito diretamente no papel.
Depois de ver dois workshops em que Jô demonstrou à sua jovem audiência como usar figuras geométricas simples para obter desenhos complexos, segui-o a outra palestra, desta vez ao lado dos poetas e pesquisadores de cordel, Marco Haurélio e José Santos, para os quais Jô ilustrou o livro História de combates, amores e aventuras do valoroso cavaleiro Palmeirim de Inglaterra, recontando em poesia cordelista essa tradicional fantasia ibérica de Francisco de Morais (1500-1572). Enquanto Haurélio fazia rimas com os nomes da garotada e das professoras presentes, Jô mostrou todo o seu talento elaborando, num flipchart, lindas ilustrações do cavaleiro medieval que é protagonista do livro.
De Haurélio, recebi o livro Florentino e Mariquinha no tribunal do destino (Ed. Louzeiro, 2012), um cordel de trinta páginas com um trabalho meticuloso sobre alguns componentes importantes da cultura brasileira.
Uma ótima notícia que Jô me passou foi que sua mais significativa obra nos quadrinhos, Hans Staden: Um aventureiro no novo mundo, publicada originalmente em 1989 na revista italiana Corto Maltese, terá uma nova edição brasileira. Adaptada a partir de um livro de Monteiro Lobato, o trabalho já teve uma edição brasileira em 2005 pela Conrad, hoje esgotada.
No período da tarde, acompanhei as palestras da ilustradora carioca Thaís Linhares, que conheço desde os anos 1980 quando ela editava o fanzine de fantasia Grimoire, que continua sendo um dos mais bonitos fanzines brasileiros já publicados. Com mais de 100 livros publicados, Thaís estava lançando o livro Vovó Dragão, escrito por ela mesma, que revelou ser uma história autobiográfica em homenagem a avó materna, que lhe contava histórias quando criança.
A escritora-ilustradora é especialista em desenhos desse gênero, principalmente cavaleiros e dragões; suas apresentações focaram esses elementos e valeram por uma aula. Thaís ainda promoveu um outro livro na Felisb, O mergulho do rei, de Caio Ducca, ilustrado por ela.
Depois das palestras, conversamos longamente sobre a situação profissional dos ilustradores e escritores de ficção fantástica no Brasil, no estande da Aelij – Associação dos Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil, agremiação muito bem organizada que está sempre promovendo a apoiando seus associados, entre eles Thais e Jô Oliveira. Um modelo que poderia ser imitado pelos autores e ilustradores de ficção fantástica em geral, se um dia for superada a histórica batalha de egos que assola o fandom.
Ainda podia ser apreciada na Feira uma exposição emocionante sobre os ilustradores brasileiros de livros infanto-juvenis, com destaque especial para saudosos mestres do traço, como André Le Blanc, Jaime Cortez, Luiz Sá, Nico Rosso e tantos outros que já se foram. Uma homenagem justa e merecida.
Agora é esperar pela próxima edição, em 2015. Estarei lá, se Deus quiser.
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