Lendo antigos recortes do jornal O Estado de S. Paulo, encontrei três artigos que dialogam com o problema do quadrinho no Brasil de uma forma curiosa, embora um tanto trágica. O mais velho deles, publicado do Caderno 2 de 21 de maio de 1995, faz parte de uma grande reportagem sobre as histórias em quadrinhos que toma praticamente todo o caderno. Assinado por Jotabê Medeiros, o texto tem o revelador título "Brasileiros enfrentam amadorismo editorial" e ilustra essa constatação com depoimentos dos grandes Luiz Gê e Flávio Colin (1930-2002), ambos amargurados com a falta de estrutura do mercado brasileiro, que não dispunha – e ainda não dispõe – de editores competentes que deem condições aos artistas viverem das obras que deles publicam.
OK, isso é discutível. De fato, há artistas que sobrevivem de quadrinhos no País, mas são poucos e mal pagos, continuam na luta ou porque não sabem ou não querem fazer outra coisa: são mártires diletantes, à margem do mercado, recebendo irregularmente royalties ridículos ou produzindo suas próprias publicações, sem conseguir distribuir porque não há acesso ao serviço dominado por um monopólio predador.
O segundo recorte, datado de 2 de janeiro de 2016, traz o artigo "Um fantasma a menos", assinado por Guilherme Sobota, também publicado no Caderno 2, sobre o lançamento do livro O grifo de Abdera (que merece atenção) com direito a uma entrevista com o autor, um dos grandes nomes da literatura brasileira surgidos nos últimos anos, o paulistano Lourenço Mutarelli. Todos sabemos quem é Mutarelli: quadrinhista bem sucedido, autor de uma série de títulos cultuados pelos leitores, como a série de álbuns do detetive Diomedes. A certa altura, diz o autor: "O (quadrinhista) que eu era morreu. Não consigo mais fazer quadrinhos como fazia antes". E mais adiante "... é quase uma estupidez trabalhar 12 horas por dia, todos os dias, e não ter retorno. No auge, conseguia o dinheiro para pagar o aluguel". Ou seja, de Colin a Mutarelli, nada mudou.
Finalmente, o artigo "Brasileiros criam site de streaming de quadrinhos", assinado por Matheus Mans, publicado em 27 de julho de 2015 no caderno Economia. Trata do lançamento da plataforma Cosmic Reader, criada pelos cearenses Ramon Cavalcante e George Pedrosa. Inspirados no Netflix, que está desbancando a tv a cabo, a ideia é abandonar de vez o mercado real e focar no digital. E é aí que está o erro. Abandonar o mercado real é assumir que o produto fracassou definitivamente.
As histórias em quadrinhos são cria do formato real. Sua linguagem evoluiu a partir das limitações gráficas do produto impresso, que não tem eficiência no formato digital. O sucesso de um produto virtual só tem valor se a ele estiver associado um produto real, que é com o que se vai ganhar dinheiro de verdade. O talento do produto virtual é divulgar o autor e sua arte, com objetivo de se chegar ao mercado real onde se pode vender revistas, livros, álbuns, figurinhas, jogos, brinquedos, licenciamentos para produtos de consumo e adaptação para cinema e tv. Ainda que se esteja tentando muito, o quadrinho digital não mostra potência comercial para sustentar um mercado por si só.
A esperança no digital parece ser apenas mais um capítulo do engodo do quadrinho no Brasil, uma tragédia anunciada há décadas, porque somente o quadrinho que dá certo nas bancas é que vai dar certo no espaço digital.
Não será possível criar no País um mercado de quadrinhos saudável e vigoroso abdicando-se da banca e das livrarias. Não existe atalho. É preciso que artistas e editores enfrentem o criminoso monopólio da distribuição que aí está, pois, sem a vitória nessa frente, tudo o mais é inútil.
Somente amor e talento não bastam: continua sendo fundamental tratar o produto editorial em seu espaço comercial dominante, com competência e seriedade. Ou continuaremos vítimas do vaticínio de Jotabê Medeiros no longínquo 1995, com os quadrinhistas brasileiros para sempre enfrentando a maldição do amadorismo editorial.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Somnium 71
Originalmente publicado em março de 1999, o número 71 do boletim Somnium, do Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC, tem 32 páginas e traz contos de António de Macedo (Portugal), Carlos Orsi e Lucio Manfredi, artigos Gerson Lodi-Ribeiro e Hindemberg Alves da Frota, e a seção "FC em notícias", com um panorama do fandom naquele ano. A capa traz uma ilustração de Alex Coimbra.
A edição está disponível para leitura online e download em dois links: Issuu e 4shared.
A edição está disponível para leitura online e download em dois links: Issuu e 4shared.
Juvenatrix 175
Está disponível o número 175 do fanzine eletrônico de horror e ficção científica Juvenatrix, editado por Renato Rosatti. A edição tem 11 páginas e traz resenhas dos filmes O soldado do futuro (Soldier, 1998), A caverna (The cave, 2005) e A bolha assassina (The blob, 1988). Divulgação de fanzines, livros, filmes e bandas independentes de rock extremo completam a edição, que traz na capa a arte de Erik Muller Thurm.
Para obter uma cópia, basta solicitar pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.
Para obter uma cópia, basta solicitar pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.
O homem da biosfera XIII
O escritor Ronald Rahal publicou há poucos dias, pela editora Agbook/Clube de Autores, o romance de ficção científica O homem da Biosfera XIII. Depois de destruir toda a natureza do planeta, os últimos homens sobrevivem aprisionados em gigantescos domos. Para impedir o que parece ser o fim inevitável da humanidade, um homem empreende uma ousada viagem ao passado.
O livro também está disponível em formato virtual nos saites Amazon e Saraiva.
O livro também está disponível em formato virtual nos saites Amazon e Saraiva.
O clube da Luluzinha
Miguel Carqueija mostra que está disposto a passar por cima da crise e lança mais um ebook, o terceiro neste início de ano. Trata-se de O clube da Luluzinha, publicado em formato de texto no saite Recanto das Letras, sequência imediata à novela O fantasma do apito (Coleção Scarium Fantástica nº2, 2007) dentro da série Liga Mundial, história policial passada numa realidade alternativa menos tecnológica que a nossa. Depois de conseguirem escapar das tramas sórdidas do Conde Bruxelas, as universitárias Andréia, Carol e Fátima, estudantes da Faculdade Modelo da Serra dos Órgãos, auxiliadas pela delegada Irina, partem em perseguição do vilão através uma São Paulo anacrônica e, em decorrência de uma forte tempestade, precisam se deter numa estalagem de beira de estrada onde acontecimentos sinistros irão se verificar.
O texto, já visto no livro Tempo das caçadoras (Coleção Scarium Fantástica nº4, 2009), conta agora com prefácios de Leti Ribeiro e Ísis Dumont, e posfácio da jornalista Glaucia Ribeiro.
O autor promete disponibilizar em breve as sequências O olho mortal e O castelo dos homens mecânicos.
O texto, já visto no livro Tempo das caçadoras (Coleção Scarium Fantástica nº4, 2009), conta agora com prefácios de Leti Ribeiro e Ísis Dumont, e posfácio da jornalista Glaucia Ribeiro.
O autor promete disponibilizar em breve as sequências O olho mortal e O castelo dos homens mecânicos.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
Sobrenatural
Publicada em 2015, a coletânea de contos de fantasia Sobrenatural é a estreia literária do tradutor lisboeta Samir Karimo.
Diz o texto de divulgação: "Será que D. Juan vai para o paraíso ou para o inferno? Quem é Valquíria? A morte sente-se só ou se dá bem com a Vida? O que são pré textos? O que são as incongruências? Qual é a verdadeira história do Capuchinho Vermelho? Quem é Ranhokitus? Para saber leiam os contos deste livro, onde a realidade e a ficção se misturam".
Com capa de Juan Miguel Aguilera, o volume está disponível em formato digital nas versões português e espanhol.
Diz o texto de divulgação: "Será que D. Juan vai para o paraíso ou para o inferno? Quem é Valquíria? A morte sente-se só ou se dá bem com a Vida? O que são pré textos? O que são as incongruências? Qual é a verdadeira história do Capuchinho Vermelho? Quem é Ranhokitus? Para saber leiam os contos deste livro, onde a realidade e a ficção se misturam".
Com capa de Juan Miguel Aguilera, o volume está disponível em formato digital nas versões português e espanhol.
Somnium 70
Originalmente publicado em dezembro de 1998, o número 70 do boletim Somnium, do Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC, tem 24 páginas e traz contos de Simone Saueressig e Norton Coll, artigo Gerson Lodi-Ribeiro, e as seções "FC em notícias" e "Listserver". A capa traz uma ilustração de Angelo Ribeiro.
A edição está disponível para leitura online e download em dois links: Issuu e 4shared.
A edição está disponível para leitura online e download em dois links: Issuu e 4shared.
As mulheres e a produção de fc no Brasil
Está "no ar" mais um episódio de Ghost Writer, podcast sobre literatura, produzido e a apresentado por Ricardo Herdy e Raphael Modena.
Nesta edição, as escritoras Simone Saueressig, Finisia Fideli e Marcia Olivieri, acompanhadas de Cesar Silva, debatem a presença feminina na ficção científica brasileira, com muitos dados históricos e recomendações de leitura.
O programa pode ser ouvido online ou baixado gratuitamente no saite do Ghost Writer, aqui.
Vale a pena explorar todo o acervo, que tem uma boa quantidade de episódios interessantes.
Nesta edição, as escritoras Simone Saueressig, Finisia Fideli e Marcia Olivieri, acompanhadas de Cesar Silva, debatem a presença feminina na ficção científica brasileira, com muitos dados históricos e recomendações de leitura.
O programa pode ser ouvido online ou baixado gratuitamente no saite do Ghost Writer, aqui.
Vale a pena explorar todo o acervo, que tem uma boa quantidade de episódios interessantes.
Espaço negro
Novela de ficção científica de autoria de Miguel Carqueija, Espaço negro dá sequência a A face oculta da galáxia, recentemente divulgado aqui.
O agente da Cosmopol, Horácio Castelo Azul, é enviado ao planeta Sombrio para recuperar a arma que pertencera ao mafioso Bengala. Para isso, Castelo Azul, na companhia da agora lendária Vésper, terá de se envolver de corpo e alma na guerra contra a organização anarquista Terror Cósmico.
O novela, que vem referendada por comentários do escritor Ronald Rahal e a poetisa Leti Ribeiro, está disponível em formato de texto no saite Recanto das Letras, aqui.
O agente da Cosmopol, Horácio Castelo Azul, é enviado ao planeta Sombrio para recuperar a arma que pertencera ao mafioso Bengala. Para isso, Castelo Azul, na companhia da agora lendária Vésper, terá de se envolver de corpo e alma na guerra contra a organização anarquista Terror Cósmico.
O novela, que vem referendada por comentários do escritor Ronald Rahal e a poetisa Leti Ribeiro, está disponível em formato de texto no saite Recanto das Letras, aqui.
QI 136
Está circulando o número 136 do fanzine Quadrinhos Independentes-QI, editado por Edgard Guimarães, dedicado ao estudo das histórias em quadrinhos, destacando a produção independente e os fanzines brasileiros.
Esta edição vem com 28 páginas e traz uma entrevista com o saudoso ilustrador Jayme Cortez, um pequeno artigo sobre os anéis do Fantasma, depoimento de José Ruy sobre o periódico português Papagaio, um texto sobre a raríssima revista 22-2000 Cidade Alerta – ilustrada por Edmundo Rodrigues –, quadrinhos de Luiz Claudio Lopes Faria, Chagas Lima e do próprio editor, além das seções "Fórum", "Mantendo contato" e o catálogo "Edições independentes" com os lançamentos do bimestre. A capa, como tem sido praxe nos últimos anos, tem uma ilustração de Guimarães colorizada manualmente.
Junto ao QI, os assinantes receberam o volume 3 da Pequena Biblioteca sobre Histórias em Quadrinhos, subtitulado Suplemento de quadrinhos da Folha de S. Paulo. Este fanzine de 56 páginas traz um cuidadoso e detalhado estudo sobre esse conhecido semanário, publicado entre 1972 e 1977, onde desfilaram uma mancheia de personagens nacionais e estrangeiros, muitos deles nunca vistos em outra publicação.
O QI é distribuído exclusivamente por assinaturas e não tem versão digital. Mais informações com o editor pelo email edgard@ita.br.
Esta edição vem com 28 páginas e traz uma entrevista com o saudoso ilustrador Jayme Cortez, um pequeno artigo sobre os anéis do Fantasma, depoimento de José Ruy sobre o periódico português Papagaio, um texto sobre a raríssima revista 22-2000 Cidade Alerta – ilustrada por Edmundo Rodrigues –, quadrinhos de Luiz Claudio Lopes Faria, Chagas Lima e do próprio editor, além das seções "Fórum", "Mantendo contato" e o catálogo "Edições independentes" com os lançamentos do bimestre. A capa, como tem sido praxe nos últimos anos, tem uma ilustração de Guimarães colorizada manualmente.
Junto ao QI, os assinantes receberam o volume 3 da Pequena Biblioteca sobre Histórias em Quadrinhos, subtitulado Suplemento de quadrinhos da Folha de S. Paulo. Este fanzine de 56 páginas traz um cuidadoso e detalhado estudo sobre esse conhecido semanário, publicado entre 1972 e 1977, onde desfilaram uma mancheia de personagens nacionais e estrangeiros, muitos deles nunca vistos em outra publicação.
O QI é distribuído exclusivamente por assinaturas e não tem versão digital. Mais informações com o editor pelo email edgard@ita.br.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Somnium 69
Originalmente publicado em outubro de 1998, o número 69 do boletim Somnium, do Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC, tem 24 páginas e traz contos de Braulio Tavares e Roberto de Sousa Causo, artigos de Gerson Lodi-Ribeiro e Hindemberg Alves da Frota, e a seção "Listserver", com transcrições dos debates ocorridos na lista de discussões do CLFC na internet. A capa traz uma ilustração de Roberto Schima.
A edição está disponível para leitura online e download
em dois links: Issuu e 4shared.
A edição está disponível para leitura online e download
em dois links: Issuu e 4shared.
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
O essencial da literatura fantástica no Brasil em 2015
2015 foi o ano da crise. Não se falou em outra coisa ao longo do ano e praticamente todos os setores sentiram o impacto da desaceleração da economia brasileira. Ainda que haja um forte componente político no processo, não se pode negar que realmente aconteceu uma mudança de paradigma pois, com a desvalorização do Real, importar ficou mais caro e a produção interna e exportação voltaram a ser as bolas da vez. Alguns setores até obtiveram crescimento justamente por conta dessa mudança de contornos, mas o mercado editorial de ficção especulativa não reagiu da mesma forma porque o interesse das grandes editoras que dominam o mercado ainda está nos textos de autores estrangeiros, especialmente aqueles que vêm associados a lançamentos cinematográficos, por isso a produção nacional segue desprezada, subsistindo em pequenas editoras de nicho e na publicação autoral.
A queda nos números em relação a 2014 foi percebida em todos os setores editoriais, mas isso é assunto para outro artigo, que virá quando a lista de lançamentos de 2015 do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica estiver encerrada. Aqui, como em outros anos, falaremos do essencial que a fc&f apresentou em 2015, e não foi pouco. Mas antes, cabe fazer uma importante observação sobre o que foi o maior diferencial do mercado nesse ano: as volta vigorosa das novelizações.
Nos anos 1990, houve um período em que mercado foi dominado pela publicação de novelizações – também conhecidas como tie-ins – principalmente ligadas aos seriados de televisão Star trek e X files, sucessos que então sustentavam grandes clubes de fãs no País. Não é exatamente o que está acontecendo agora porque o mercado está muito maior e as franquias mais variadas, e com autores brasileiros aproveitando a onda. Além das sempre lembradas séries de tv, agora temos também novelizações de cinema (Star wars), séries de quadrinhos (Marvel) e jogos eletrônicos, com destaque para a novelização Dois mundos um herói (Suma das Letras), assinada pelo youtuber Rezende Evil e inspirada no jogo eletrônico Minecraft, que foi o lançamento mais badalado e comercialmente bem sucedido da fantasia nacional em 2015.
A fantasia continua sendo o gênero mais praticado pelo mercado, tomando mais da metade do total de lançamentos de literatura fantástica e é nela que se destacam os autores mais bem sucedidos, como Eduardo Spohr com o terceiro volume de série Filhos do Éden: Paraíso perdido (Verus), e Carolina Munhóz com Por um toque de ouro e O mundo das vozes silenciadas – este assinado em parceria com Sophia Abrahão –, ambos pela Rocco.
Dos autores mais identificados com o fandom, é preciso registrar a edição de Flores do jardim de Balaur, de Carlos Orsi, novela de fantasia heroica ao estilo weird originalmente publicada no fanzine Juvenatrix em 1999.
Felipe Castilho publicou o terceiro volume de sua série O legado folclórico: Ferro, água & escuridão (Gutenberg) que vale a pena conhecer, assim como o curioso Tijucamérica (Paralela), romance do cronista esportivo José Trajano, que envereda pelos caminhos do futebol.
A série Crônicas de Salicanda, de Pauline Alphen chegou ao terceiro volume com A aliança (L'alliance, Seguinte). Esta autora tem uma característica diferenciada: apesar de brasileira de nascimento, seus livros são traduzidos aqui pois foram originalmente publicados na França, onde ela reside há muitos anos.
Entre os autores estrangeiros, destacou-se o romance arturiano O gigante enterrado (The buried giant), do nipobritânico Kazuo Ishiguro, publicado pela Companhia das Letras. Ainda que parte de sua notoriedade tenha advindo da polêmica criada em torno de declarações pouco simpáticas do autor sobre o gênero da fantasia, o livro é excelente e merece a leitura. Quando a polêmica varreu as redes sociais, o multipremiado fantasista britânico Neil Gaiman foi um dos primeiros a sair em defesa de Ishiguro.
E Gaiman também apareceu de forma importante em 2015, com dois livros: A bela e a adormecida (The sleeper and the spindle, Rocco) e A verdade é uma caverna nas Montanhas Negras (The truth is a cave in the Black Mountains, Intrínseca).
Como a fantasia não dá sinal de enfraquecimento e os títulos à mão já foram todos publicados, as editoras partiram em busca de obras e autores esquecidos que, de outra forma, talvez nunca desembarcassem aqui. É o caso de Diana Wynne Jones (1934-2011), autora de grande prestígio no exterior mas pouco publicada aqui. A edição de O vitral encantado (Enchanted glass) pela Record é uma tímida tentativa em dar à autora de O castelo animado (Howl's moving castle) e Crestomanci (Chrestomanci) a atenção que lhe é devida. Outro nome importante lembrado em 2015 foi o escritor e ilustrador americano Dr. Seuss (1904-1991) com O desaparecimento do Lórax (The Lorax), pelo selo infantil da Companhia das Letras, um clássico do gênero. E também Chris Van Allsburg, com Jumanji, numa das derradeiras publicações da editora Cosac Naify, que anunciou no final do ano o encerramento de suas atividades. Vale ainda lembrar da publicação de Pequenos deuses (Small gods), do britânico Terry Pratchett (1948-2015), 13º volume da série Discworld, publicado pela Record no selo Bertrand Brasil.
Desde 2014, a ficção científica voltou a despertar interesse entre as editoras. A pequena Editora Draco, especializada no gênero, trouxe em 2015 alguns títulos que merecem a atenção, por autores historicamente ligados ao fandom: E de extermínio, de Cirilo Lemos, Encruzilhada, de Lúcio Manfredi, e Estranhos no paraíso, de Gerson Lodi-Ribeiro, enquanto Roberto de Sousa Causo apareceu com a coletânea Shiroma: Matadora ciborgue, pela Devir Livraria. Outro nome conhecido no fandom, há anos ausente da atividade autoral, é Henrique Flory que, pela Editora Arte e Ciência, publicou O elo, sequência de Projeto evolução, romance dos anos 1990 também republicado agora.
Ventania brava, de Luis Bras (Sesi-SP), junto à história alternativa A segunda pátria, de Miguel Sanches Neto (Intrínseca), formaram o núcleo da fc nacional que melhor dialogou com o mainstream em 2015. Mas o livro brasileiro de fc mais comentado no ano foi Le Chevalier e a Exposição Universal, de A. Z. Cordenonsi (Avec), romance steampunk que mistura ficção com personagens reais numa aventura à moda de Sherlock Holmes.
Entre os estrangeiros, é preciso antes de mais nada registrar a presença intensiva da coleção alemã Perry Rhodan da editora SSPG, que lançou regularmente cerca de seis volumes digitais por mês ao longo de todo o ano. Trata-se da série mais longa da literatura, com mais de dois mil livros e ainda em publicação.
O escritor americano Jeff Vandermeer retornou à série Comando Sul com Autoridade (Authority), pela editora Intrínseca, que explora possibilidades aterradoras advindas do contato com uma vida alienígena com a qual a comunicação não é uma possibilidade.
O último policial (The last policeman), do também americano Ben H. Winters, pela editora Rocco, aproxima a literatura policial da ficção científica ao contar a história de um homem obcecado em desvendar um assassinato nos dias finais da humanidade no planeta Terra, prestes a sofrer o impacto de um meteoro gigante. Trata-se do primeiro de uma trilogia, cujo segundo volume Cidade dos últimos dias (Countdown city, Philip K. Dick Award 2014) foi lançado pela mesma editora logo nos primeiros dias de 2016.
A editora Aleph, que investe principalmente na republicação de grandes clássicos da fc e tem como carro-chefe o escritor americano William Gibson – autor do prestigiado Neuromancer, que a editora tem republicado seguidamente desde sua primeira edição em 1991 –, dele traduziu História zero (Zero history), terceiro volume da série Blue ant que, por ser ambientada no presente, nem sempre é considerada ficção científica, mas segue os protocolos especulativos do cyberpunk para discutir o impacto psicossocial da tecnologia moderna.
Outro importante representante do cyberpunk que desembarcou por aqui em 2015 foi Ian McDonald com o romance Brasyl, pela editora Saída de Emergência Brasil, numa história que une três realidades, uma delas na cidade do Rio de Janeiro.
O horror é historicamente um gênero de produção estável e sustentou seu espaço em 2015. André Vianco, o maior bestseller da fc&f nacional, estreou o selo autoral Calíope na editora Giz, com o inédito romance Estrela da manhã. Também vale conferir a coletânea O vilarejo, de Rapahel Montes (Suma das Letras), que tem sido bem avaliada no ambiente mainstream.
Apesar de sua tradição e importância como nascedouro de talentos, as antologias tiveram um momento discreto em 2015. Contudo, vale destacar Vampiros, estreia da coleção Sobrenatural (Avec), organizada pelo escritor Duda Falcão com contos de importantes nomes do gênero como Giulia Moon, Carlos Patati, Nazareth Fonseca, Lord A. e Simone Saueressig, entre outros. Contudo, a grande novidade de 2015 no horror nacional foi a volta do mestre R. F. Lucchetti, com dois títulos: O museu dos horrores (Corvo) e O Escorpião Escarlate: O roteiro original (Laços).
Entre os estrangeiros destacou-se outro mestre, Stephen King, com nada menos que três livros publicados no ano: a coletânea Escuridão total sem estrelas (Full dark, no stars), e os romances Joyland e Revival, todos pela Suma das Letras, hoje selo da Companhia das Letras.
Outro mestre do gênero que apareceu em 2015 foi Clive Barker, com a novela original Hellraiser: Renascido do inferno (The hellbound heart), pela Darkside.
A dama do horror, Anne Rice, retornou ao universo de Entrevista com o vampiro (Interview with the vampire) no novo romance As crônicas vampirescas: Príncipe Lestat (Prince Lestat), pela Rocco. Até mesmo George R. R. Martin não resistiu aos encantos vampíricos e apareceu nas livrarias com Sonho febril (Fevre dream) pela LeYa Brasil. O romance é de 1982, mas só chegou agora devido ao sucesso de Martin com livros de fantasia medieval.
Finalmente, mas não menos importante, foi a publicação da coletânea Solomon Kane: A saga completa, de Robert E. Howard (1906-1936) pela editora Generale, reunindo os nove contos escritos por Howard para o destemido puritano caçador de bruxas.
Diante deste quadro, a conclusão é que não há do que se lamentar. A publicação de fc&f não parece estar vulnerável aos humores do mercado, prova que seu crescimento nos últimos anos não foi fruto de uma bolha; e a crise pode até ser benéfica para o setor, depurando o mercado dos evidentes excessos que em nada contribuem para o estabelecimento de uma fc&f sólida e relevante.
Ainda há muito que trilhar para tornar a ficção fantástica um espaço profissional ao exercício artístico, mas já é possível dizer, no que se refere aos aspectos conceituais, que a ficção fantástica brasileira está amadurecendo. Autores e editores que conseguirem superar a crise estarão prontos para assumir a liderança do mercado quando as coisas melhorarem.
Perseverar é, sem dúvida, a palavra de ordem para 2016.
Livros citados:
Dois mundos, um herói, Rezende Evil (Suma das Letras)
Filhos do Éden: Paraíso perdido, Eduardo Spohr (Verus)
Por um toque de ouro, Carolina Munhóz (Rocco)
O mundo das vozes silenciadas, Carolina Munhóz e Sophia Abrahão (Rocco)
Flores do jardim de Balaur, Carlos Orsi (Draco)
O legado folclórico: Ferro, água & escuridão, Felipe Castilho (Gutenberg)
Tijucamérica, José Trajano (Paralela)
Crônicas de Salicanda: A aliança, Pauline Alphen (Seguinte)
O gigante enterrado, Kazuo Ishiguro (Companhia das Letras)
A bela e a adormecida, Neil Gaiman (Rocco)
A verdade é uma caverna nas Montanhas Negras, Neil Gaiman (Intrínseca)
O vitral encantado, Diana Wynne Jones (Record)
O desaparecimento do Lórax, Dr. Seuss (Companhia das Letras)
Jumanji, Chris Van Allsburg (Cosac Naify)
Pequenos deuses, Terry Pratchett (Bertrand Brasil)
E de extermínio, Cirilo Lemos (Draco)
Encruzilhada, Lúcio Manfredi (Draco)
Estranhos no paraíso, Gerson Lodi-Ribeiro (Draco)
Shiroma: Matadora ciborgue, Roberto de Sousa Causo (Devir)
O elo, Henrique Flory (Arte e Ciência)
Ventania brava, Luis Bras (Sesi-SP)
A segunda pátria, Miguel Sanches Neto (Intrínseca)
Le Chevalier e a Exposição Universal, A. Z. Cordenonsi (Avec)
Perry Rhodan (SSPG)
Autoridade, Jeff Vandermeer (Intrínseca)
O último policial, Ben H. Winters (Rocco)
História zero, William Gibson (Aleph)
Brasyl, Ian McDonald (Saída de Emergência Brasil)
Estrela da manhã, André Vianco (Giz)
O vilarejo, Rapahel Montes (Suma das Letras)
Vampiros, Duda Falcão, org. (Avec)
O museu dos horrores, R. F. Lucchetti (Corvo) e
O Escorpião Escarlate: O roteiro original, R. F. Lucchetti (Laços).
Escuridão total sem estrelas, Stephen King (Suma das Letras)
Joyland, Stephen King (Suma das Letras)
Revival, Stephen King (Suma das Letras)
Hellraiser: Renascido do inferno, Clive Barker (Darkside)
As crônicas vampirescas: Príncipe Lestat, Anne Rice (Rocco)
Sonho febril, George R. R. Martin (LeYa Brasil)
Solomon Kane: A saga completa, Robert E. Howard (Generale)
A queda nos números em relação a 2014 foi percebida em todos os setores editoriais, mas isso é assunto para outro artigo, que virá quando a lista de lançamentos de 2015 do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica estiver encerrada. Aqui, como em outros anos, falaremos do essencial que a fc&f apresentou em 2015, e não foi pouco. Mas antes, cabe fazer uma importante observação sobre o que foi o maior diferencial do mercado nesse ano: as volta vigorosa das novelizações.
Nos anos 1990, houve um período em que mercado foi dominado pela publicação de novelizações – também conhecidas como tie-ins – principalmente ligadas aos seriados de televisão Star trek e X files, sucessos que então sustentavam grandes clubes de fãs no País. Não é exatamente o que está acontecendo agora porque o mercado está muito maior e as franquias mais variadas, e com autores brasileiros aproveitando a onda. Além das sempre lembradas séries de tv, agora temos também novelizações de cinema (Star wars), séries de quadrinhos (Marvel) e jogos eletrônicos, com destaque para a novelização Dois mundos um herói (Suma das Letras), assinada pelo youtuber Rezende Evil e inspirada no jogo eletrônico Minecraft, que foi o lançamento mais badalado e comercialmente bem sucedido da fantasia nacional em 2015.
A fantasia continua sendo o gênero mais praticado pelo mercado, tomando mais da metade do total de lançamentos de literatura fantástica e é nela que se destacam os autores mais bem sucedidos, como Eduardo Spohr com o terceiro volume de série Filhos do Éden: Paraíso perdido (Verus), e Carolina Munhóz com Por um toque de ouro e O mundo das vozes silenciadas – este assinado em parceria com Sophia Abrahão –, ambos pela Rocco.
Dos autores mais identificados com o fandom, é preciso registrar a edição de Flores do jardim de Balaur, de Carlos Orsi, novela de fantasia heroica ao estilo weird originalmente publicada no fanzine Juvenatrix em 1999.
Felipe Castilho publicou o terceiro volume de sua série O legado folclórico: Ferro, água & escuridão (Gutenberg) que vale a pena conhecer, assim como o curioso Tijucamérica (Paralela), romance do cronista esportivo José Trajano, que envereda pelos caminhos do futebol.
A série Crônicas de Salicanda, de Pauline Alphen chegou ao terceiro volume com A aliança (L'alliance, Seguinte). Esta autora tem uma característica diferenciada: apesar de brasileira de nascimento, seus livros são traduzidos aqui pois foram originalmente publicados na França, onde ela reside há muitos anos.
Entre os autores estrangeiros, destacou-se o romance arturiano O gigante enterrado (The buried giant), do nipobritânico Kazuo Ishiguro, publicado pela Companhia das Letras. Ainda que parte de sua notoriedade tenha advindo da polêmica criada em torno de declarações pouco simpáticas do autor sobre o gênero da fantasia, o livro é excelente e merece a leitura. Quando a polêmica varreu as redes sociais, o multipremiado fantasista britânico Neil Gaiman foi um dos primeiros a sair em defesa de Ishiguro.
E Gaiman também apareceu de forma importante em 2015, com dois livros: A bela e a adormecida (The sleeper and the spindle, Rocco) e A verdade é uma caverna nas Montanhas Negras (The truth is a cave in the Black Mountains, Intrínseca).
Como a fantasia não dá sinal de enfraquecimento e os títulos à mão já foram todos publicados, as editoras partiram em busca de obras e autores esquecidos que, de outra forma, talvez nunca desembarcassem aqui. É o caso de Diana Wynne Jones (1934-2011), autora de grande prestígio no exterior mas pouco publicada aqui. A edição de O vitral encantado (Enchanted glass) pela Record é uma tímida tentativa em dar à autora de O castelo animado (Howl's moving castle) e Crestomanci (Chrestomanci) a atenção que lhe é devida. Outro nome importante lembrado em 2015 foi o escritor e ilustrador americano Dr. Seuss (1904-1991) com O desaparecimento do Lórax (The Lorax), pelo selo infantil da Companhia das Letras, um clássico do gênero. E também Chris Van Allsburg, com Jumanji, numa das derradeiras publicações da editora Cosac Naify, que anunciou no final do ano o encerramento de suas atividades. Vale ainda lembrar da publicação de Pequenos deuses (Small gods), do britânico Terry Pratchett (1948-2015), 13º volume da série Discworld, publicado pela Record no selo Bertrand Brasil.
Desde 2014, a ficção científica voltou a despertar interesse entre as editoras. A pequena Editora Draco, especializada no gênero, trouxe em 2015 alguns títulos que merecem a atenção, por autores historicamente ligados ao fandom: E de extermínio, de Cirilo Lemos, Encruzilhada, de Lúcio Manfredi, e Estranhos no paraíso, de Gerson Lodi-Ribeiro, enquanto Roberto de Sousa Causo apareceu com a coletânea Shiroma: Matadora ciborgue, pela Devir Livraria. Outro nome conhecido no fandom, há anos ausente da atividade autoral, é Henrique Flory que, pela Editora Arte e Ciência, publicou O elo, sequência de Projeto evolução, romance dos anos 1990 também republicado agora.
Ventania brava, de Luis Bras (Sesi-SP), junto à história alternativa A segunda pátria, de Miguel Sanches Neto (Intrínseca), formaram o núcleo da fc nacional que melhor dialogou com o mainstream em 2015. Mas o livro brasileiro de fc mais comentado no ano foi Le Chevalier e a Exposição Universal, de A. Z. Cordenonsi (Avec), romance steampunk que mistura ficção com personagens reais numa aventura à moda de Sherlock Holmes.
Entre os estrangeiros, é preciso antes de mais nada registrar a presença intensiva da coleção alemã Perry Rhodan da editora SSPG, que lançou regularmente cerca de seis volumes digitais por mês ao longo de todo o ano. Trata-se da série mais longa da literatura, com mais de dois mil livros e ainda em publicação.
O escritor americano Jeff Vandermeer retornou à série Comando Sul com Autoridade (Authority), pela editora Intrínseca, que explora possibilidades aterradoras advindas do contato com uma vida alienígena com a qual a comunicação não é uma possibilidade.
O último policial (The last policeman), do também americano Ben H. Winters, pela editora Rocco, aproxima a literatura policial da ficção científica ao contar a história de um homem obcecado em desvendar um assassinato nos dias finais da humanidade no planeta Terra, prestes a sofrer o impacto de um meteoro gigante. Trata-se do primeiro de uma trilogia, cujo segundo volume Cidade dos últimos dias (Countdown city, Philip K. Dick Award 2014) foi lançado pela mesma editora logo nos primeiros dias de 2016.
A editora Aleph, que investe principalmente na republicação de grandes clássicos da fc e tem como carro-chefe o escritor americano William Gibson – autor do prestigiado Neuromancer, que a editora tem republicado seguidamente desde sua primeira edição em 1991 –, dele traduziu História zero (Zero history), terceiro volume da série Blue ant que, por ser ambientada no presente, nem sempre é considerada ficção científica, mas segue os protocolos especulativos do cyberpunk para discutir o impacto psicossocial da tecnologia moderna.
Outro importante representante do cyberpunk que desembarcou por aqui em 2015 foi Ian McDonald com o romance Brasyl, pela editora Saída de Emergência Brasil, numa história que une três realidades, uma delas na cidade do Rio de Janeiro.
O horror é historicamente um gênero de produção estável e sustentou seu espaço em 2015. André Vianco, o maior bestseller da fc&f nacional, estreou o selo autoral Calíope na editora Giz, com o inédito romance Estrela da manhã. Também vale conferir a coletânea O vilarejo, de Rapahel Montes (Suma das Letras), que tem sido bem avaliada no ambiente mainstream.
Apesar de sua tradição e importância como nascedouro de talentos, as antologias tiveram um momento discreto em 2015. Contudo, vale destacar Vampiros, estreia da coleção Sobrenatural (Avec), organizada pelo escritor Duda Falcão com contos de importantes nomes do gênero como Giulia Moon, Carlos Patati, Nazareth Fonseca, Lord A. e Simone Saueressig, entre outros. Contudo, a grande novidade de 2015 no horror nacional foi a volta do mestre R. F. Lucchetti, com dois títulos: O museu dos horrores (Corvo) e O Escorpião Escarlate: O roteiro original (Laços).
Entre os estrangeiros destacou-se outro mestre, Stephen King, com nada menos que três livros publicados no ano: a coletânea Escuridão total sem estrelas (Full dark, no stars), e os romances Joyland e Revival, todos pela Suma das Letras, hoje selo da Companhia das Letras.
Outro mestre do gênero que apareceu em 2015 foi Clive Barker, com a novela original Hellraiser: Renascido do inferno (The hellbound heart), pela Darkside.
A dama do horror, Anne Rice, retornou ao universo de Entrevista com o vampiro (Interview with the vampire) no novo romance As crônicas vampirescas: Príncipe Lestat (Prince Lestat), pela Rocco. Até mesmo George R. R. Martin não resistiu aos encantos vampíricos e apareceu nas livrarias com Sonho febril (Fevre dream) pela LeYa Brasil. O romance é de 1982, mas só chegou agora devido ao sucesso de Martin com livros de fantasia medieval.
Finalmente, mas não menos importante, foi a publicação da coletânea Solomon Kane: A saga completa, de Robert E. Howard (1906-1936) pela editora Generale, reunindo os nove contos escritos por Howard para o destemido puritano caçador de bruxas.
Diante deste quadro, a conclusão é que não há do que se lamentar. A publicação de fc&f não parece estar vulnerável aos humores do mercado, prova que seu crescimento nos últimos anos não foi fruto de uma bolha; e a crise pode até ser benéfica para o setor, depurando o mercado dos evidentes excessos que em nada contribuem para o estabelecimento de uma fc&f sólida e relevante.
Ainda há muito que trilhar para tornar a ficção fantástica um espaço profissional ao exercício artístico, mas já é possível dizer, no que se refere aos aspectos conceituais, que a ficção fantástica brasileira está amadurecendo. Autores e editores que conseguirem superar a crise estarão prontos para assumir a liderança do mercado quando as coisas melhorarem.
Perseverar é, sem dúvida, a palavra de ordem para 2016.
Livros citados:
Dois mundos, um herói, Rezende Evil (Suma das Letras)
Filhos do Éden: Paraíso perdido, Eduardo Spohr (Verus)
Por um toque de ouro, Carolina Munhóz (Rocco)
O mundo das vozes silenciadas, Carolina Munhóz e Sophia Abrahão (Rocco)
Flores do jardim de Balaur, Carlos Orsi (Draco)
O legado folclórico: Ferro, água & escuridão, Felipe Castilho (Gutenberg)
Tijucamérica, José Trajano (Paralela)
Crônicas de Salicanda: A aliança, Pauline Alphen (Seguinte)
O gigante enterrado, Kazuo Ishiguro (Companhia das Letras)
A bela e a adormecida, Neil Gaiman (Rocco)
A verdade é uma caverna nas Montanhas Negras, Neil Gaiman (Intrínseca)
O vitral encantado, Diana Wynne Jones (Record)
O desaparecimento do Lórax, Dr. Seuss (Companhia das Letras)
Jumanji, Chris Van Allsburg (Cosac Naify)
Pequenos deuses, Terry Pratchett (Bertrand Brasil)
E de extermínio, Cirilo Lemos (Draco)
Encruzilhada, Lúcio Manfredi (Draco)
Estranhos no paraíso, Gerson Lodi-Ribeiro (Draco)
Shiroma: Matadora ciborgue, Roberto de Sousa Causo (Devir)
O elo, Henrique Flory (Arte e Ciência)
Ventania brava, Luis Bras (Sesi-SP)
A segunda pátria, Miguel Sanches Neto (Intrínseca)
Le Chevalier e a Exposição Universal, A. Z. Cordenonsi (Avec)
Perry Rhodan (SSPG)
Autoridade, Jeff Vandermeer (Intrínseca)
O último policial, Ben H. Winters (Rocco)
História zero, William Gibson (Aleph)
Brasyl, Ian McDonald (Saída de Emergência Brasil)
Estrela da manhã, André Vianco (Giz)
O vilarejo, Rapahel Montes (Suma das Letras)
Vampiros, Duda Falcão, org. (Avec)
O museu dos horrores, R. F. Lucchetti (Corvo) e
O Escorpião Escarlate: O roteiro original, R. F. Lucchetti (Laços).
Escuridão total sem estrelas, Stephen King (Suma das Letras)
Joyland, Stephen King (Suma das Letras)
Revival, Stephen King (Suma das Letras)
Hellraiser: Renascido do inferno, Clive Barker (Darkside)
As crônicas vampirescas: Príncipe Lestat, Anne Rice (Rocco)
Sonho febril, George R. R. Martin (LeYa Brasil)
Solomon Kane: A saga completa, Robert E. Howard (Generale)
Somnium 68
Originalmente publicado em junho de 1998, o número 68 do boletim Somnium, do Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC, tem 23 páginas e traz contos de Gerson Lodi-Ribeiro e Simone Saueressig, quadrinhos de Alexandre Grecco, e as seções "FC em Notícias" e "Listserver". A capa traz uma ilustração de Maurício Tavares.
A edição está disponível para leitura online e download
em dois links: Issuu e 4shared.
A edição está disponível para leitura online e download
em dois links: Issuu e 4shared.
David Bowie (1947-2016)
O mundo perdeu, no último domingo, dia 10 de janeiro, o talento criativo daquele que era conhecido como Camaleão do Rock, o cantor e compositor britânico David Bowie.
Nascido em Londres em 1947 e batizado como David Robert Jones, desde o início da carreira demonstrou interesse pela arte fantástica. Diz-se que se inspirou no personagem David Bowman, do filme 2001, uma odisseia no espaço, para adotar o nome com o qual faria fama. O filme também serviu de inspiração para um de seus primeiros sucessos, a canção "Space oddity", de 1969, composta em homenagem ao pouso do homem na Lua.
No disco conceitual The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, de 1972, Bowie criou uma história de ficção científica com laivos teatrais e andróginos para emoldurar as canções, obtendo enorme repercussão e tornando-se um dos álbuns mais influentes da história do rock.
Bowie também esteve envolvido com o cinema; suas composições apareceram nas trilhas sonoras de muitos filmes e ele próprio trabalhou como ator em diversos deles, com destacada atuação em histórias de fc&f, como na fc O homem que caiu na Terra (The man who fell to Earth, Nicolas Roeg, 1976, com o qual recebeu o Saturn Award de melhor ator), o horror Fome de viver (The hunger, Tony Scott, 1983), e a fantasia Labirinto (Labyrinth, Jim Henson, 1986) e o steampunk O grande truque (The prestige, Christopher Nolan, 1995).
Talvez tenha sido esse lado de sua carreira que despertou no filho, o cineasta Duncan Jones, o interesse pelo gênero, uma vez que este tem realizado filmes de fc como Lunar (Moon, 2009) e Contra o tempo (Source code, 2011).
Mas o legado de Bowie está de fato em sua música. Bowie gravou dezenas de álbuns antológicos, nos mais variados estilos, indo do pop ao rock progressivo e à música eletrônica sem nenhum constrangimento. Além disso, e gravou com grandes astros da música pop, como Freddy Mercury, Mick Jagger e Tina Turner.
Numa votação feita pela revista Rolling Stone entre especialistas, Bowie foi cotado em 39º lugar na lista dos 100 maiores artistas do rock de todos os tempos.
David Bowie é, sem dúvida um nome importante na música popular, mas também é, por muitos motivos, importante também para a ficção fantástica.
Nascido em Londres em 1947 e batizado como David Robert Jones, desde o início da carreira demonstrou interesse pela arte fantástica. Diz-se que se inspirou no personagem David Bowman, do filme 2001, uma odisseia no espaço, para adotar o nome com o qual faria fama. O filme também serviu de inspiração para um de seus primeiros sucessos, a canção "Space oddity", de 1969, composta em homenagem ao pouso do homem na Lua.
No disco conceitual The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, de 1972, Bowie criou uma história de ficção científica com laivos teatrais e andróginos para emoldurar as canções, obtendo enorme repercussão e tornando-se um dos álbuns mais influentes da história do rock.
Bowie também esteve envolvido com o cinema; suas composições apareceram nas trilhas sonoras de muitos filmes e ele próprio trabalhou como ator em diversos deles, com destacada atuação em histórias de fc&f, como na fc O homem que caiu na Terra (The man who fell to Earth, Nicolas Roeg, 1976, com o qual recebeu o Saturn Award de melhor ator), o horror Fome de viver (The hunger, Tony Scott, 1983), e a fantasia Labirinto (Labyrinth, Jim Henson, 1986) e o steampunk O grande truque (The prestige, Christopher Nolan, 1995).
Talvez tenha sido esse lado de sua carreira que despertou no filho, o cineasta Duncan Jones, o interesse pelo gênero, uma vez que este tem realizado filmes de fc como Lunar (Moon, 2009) e Contra o tempo (Source code, 2011).
Mas o legado de Bowie está de fato em sua música. Bowie gravou dezenas de álbuns antológicos, nos mais variados estilos, indo do pop ao rock progressivo e à música eletrônica sem nenhum constrangimento. Além disso, e gravou com grandes astros da música pop, como Freddy Mercury, Mick Jagger e Tina Turner.
Numa votação feita pela revista Rolling Stone entre especialistas, Bowie foi cotado em 39º lugar na lista dos 100 maiores artistas do rock de todos os tempos.
David Bowie é, sem dúvida um nome importante na música popular, mas também é, por muitos motivos, importante também para a ficção fantástica.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Somnium 67
Originalmente publicado em março de 1998, o número 67 do boletim Somnium, editado por Cesar Silva para o Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC, tem 24 páginas e traz contos de Lucio Manfredi e Adriana Simon, artigos de Gerson Lodi-Ribeiro e Hindemberg Alves da Frota, além das seções "FC em Notícias" e "Listserver". A capa traz uma ilustração de Alexandre Grecco.
A edição está disponível para leitura online e download
em dois links: Issuu e 4shared.
A edição está disponível para leitura online e download
em dois links: Issuu e 4shared.
Conexão Literatura 7
Está circulando o número 7 da revista eletrônica Conexão Literatura, editada por Ademir Pascale pela Fábrica de Ebooks.
A edição tem 42 páginas e traz contos de Ricardo de Lohem, Miriam Santiago, Misa Ferreira, Neyd Montingelli e Regina Bostulim, artigos de Amanda Leonardi, Angelo Tiago de Miranda, Luiz Valério de Paula Trindade, e entrevistas com os autores R. L. Gomide e Regiane Barros A. Neves. A revista é gratuita e pode ser baixada aqui. A revista está aberta a colaborações. Mais informações podem ser obtidas no próprio exemplar.
A edição tem 42 páginas e traz contos de Ricardo de Lohem, Miriam Santiago, Misa Ferreira, Neyd Montingelli e Regina Bostulim, artigos de Amanda Leonardi, Angelo Tiago de Miranda, Luiz Valério de Paula Trindade, e entrevistas com os autores R. L. Gomide e Regiane Barros A. Neves. A revista é gratuita e pode ser baixada aqui. A revista está aberta a colaborações. Mais informações podem ser obtidas no próprio exemplar.
Na pista com THX 1138
Reconhecemos hoje o nome de George Lucas como o criador da saga Star wars, que se tornou uma franquia lucrativa e multimidiática com uma infinidade de subprodutos disponíveis no mercado para gáudio de fãs e colecionadores. Mas são poucos os que se recordam de THX 1138, longa metragem que Lucas dirigiu em 1971, na verdade uma versão expandida de seu trabalho de graduação na University of Southern California. Trata-se também este de um filme de ficção científica, que conta sobre uma sociedade futurista totalitária na qual os cidadãos são prisioneiros em uma metrópole subterrânea, vigiados constantemente por androides e impedidos de sentir qualquer emoção.
A certa altura, o protagonista (Robert Duvall) tenta uma fuga, e é perseguido implacavelmente. No momento mais empolgante da história, aparece em cena o automóvel Lola T70, protótipo de design extremamente agressivo. É esse o modelo que o designer americano Bryan Tan projetou e pode ser baixado aqui. A partir de poucas peças em papel e uma montagem bastante simples, é possível obter uma réplica em escala desse inspirador veículo.
A certa altura, o protagonista (Robert Duvall) tenta uma fuga, e é perseguido implacavelmente. No momento mais empolgante da história, aparece em cena o automóvel Lola T70, protótipo de design extremamente agressivo. É esse o modelo que o designer americano Bryan Tan projetou e pode ser baixado aqui. A partir de poucas peças em papel e uma montagem bastante simples, é possível obter uma réplica em escala desse inspirador veículo.
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
Somnium de volta para o futuro
No final de 2015, meu computador sofreu uma pane geral, decorrente de problemas de obsolescência que vinham travando o sistema há algum tempo. Para recuperar a máquina, foram preciso vários upgrades – incluindo um novo hd – e, como sempre acontece nestes casos, a reinstalação de todo o sistema. Apesar de ter preservado todos os arquivos de trabalho, vários drivers e programas foram perdidos. A máquina se recuperou e, entre boas e más notícias, consegui resgatar muitos arquivos antigos que estavam bloqueados pelos erros do sistema anterior. Entre eles, as artes originais dos boletins Somnium, do Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC, do período em que eu fui o seu editor, entre 1997 e 1999. Foram recuperados oito volumes – do 66 ao 73 – que, apesar de alguma mudança nas fontes, podem novamente circular no fandom, agora em arquivo digital como muitos sempre me pediam. A partir deste post, disponibilizarei links para acesso às edições 66 a 73.
Ainda é possível que eu consiga recuperar os volumes 63, 64 e 65, que também foram produzidos por mim, embora tenham sido editados por Marcello Simão Branco entre 1996 e 1997. Contudo, devido a forma como foram originalmente produzidas, estas edições precisarão receber um pouco mais de carinho para ficarem em condições de gerar um ebook.
O Somnium 66, originalmente publicado em dezembro de 1997, tem 24 páginas e traz um conto de Dora Incontri, artigos de Gerson Lodi-Ribeiro, Roberto de Sousa Causo e Marcello Simão Branco, a seção "FC em Notícias", por Adriana Simon – uma verdadeira máquina do tempo para o leitor de hoje – e a estreia de "Listserver", seção que registrou os mais interessantes debates que aconteceram na lista de discussões hospedada pela DKS, nos primeiros tempos da internet. A capa traz uma ilustração de Roberto Schima.
A edição está disponível para leitura online e download em dois links: Issuu e 4shared.
Ainda é possível que eu consiga recuperar os volumes 63, 64 e 65, que também foram produzidos por mim, embora tenham sido editados por Marcello Simão Branco entre 1996 e 1997. Contudo, devido a forma como foram originalmente produzidas, estas edições precisarão receber um pouco mais de carinho para ficarem em condições de gerar um ebook.
O Somnium 66, originalmente publicado em dezembro de 1997, tem 24 páginas e traz um conto de Dora Incontri, artigos de Gerson Lodi-Ribeiro, Roberto de Sousa Causo e Marcello Simão Branco, a seção "FC em Notícias", por Adriana Simon – uma verdadeira máquina do tempo para o leitor de hoje – e a estreia de "Listserver", seção que registrou os mais interessantes debates que aconteceram na lista de discussões hospedada pela DKS, nos primeiros tempos da internet. A capa traz uma ilustração de Roberto Schima.
A edição está disponível para leitura online e download em dois links: Issuu e 4shared.
A face oculta da galáxia
O escritor carioca Miguel Carqueija anuncia que o romance de ficção científica A face oculta da galáxia, publicado em versão digital pela Casa da Cultura em 2006, e pelo Recanto dos Escritores em 2013, ganhou nova edição pela Agbooks que, além de oferecer o volume em arquivo digital, pela primeira vez dá ao leitor a opção de adquiri-lo impresso, em papel.
A história fala sobre Joana Pimentel, mulher comum e com família que levava uma vida dupla como agente secreta da Cosmopol, onde era conhecida pelo codinome Vésper, até ter perdido o marido num acidente trágico que a levou a se afastar do mercenarismo. Alguns anos depois, ela é chamada para uma nova missão que relutantemente aceita por conta da situação financeira difícil. Incomodada pela consciência de todas as violências que já praticou, este será um trabalho crucial para o destino de Vésper.
O prefácio é do escritor Jorge Luiz Calife.
A história fala sobre Joana Pimentel, mulher comum e com família que levava uma vida dupla como agente secreta da Cosmopol, onde era conhecida pelo codinome Vésper, até ter perdido o marido num acidente trágico que a levou a se afastar do mercenarismo. Alguns anos depois, ela é chamada para uma nova missão que relutantemente aceita por conta da situação financeira difícil. Incomodada pela consciência de todas as violências que já praticou, este será um trabalho crucial para o destino de Vésper.
O prefácio é do escritor Jorge Luiz Calife.