Está disponível para download gratuito o número 68 do fanzine de ficção científica e horror Megalon, editado por Marcello Simão Branco e publicado originalmente em março de 2003.
Esta edição de 24 páginas traz a primeira publicação do excepcional conto de fc "Estes 15 minutos", de Carlos Orsi – que já vale o download –, mas tem muito mais: artigos de José Carlos Neves e H. Bruce Franklin (EUA), e as seções fixas "Diário do fandom", "Publicações recebidas", "Terras alternativas" e "Arte fantástica brasileira". A capa traz um desenho de Edgar Franco.
Como parte da série série Pulp Brasil, o editor dispõe a capa do Magazine de Ficção Científica nº 16, publicado em julho 1971.
E para que todos completem suas coleções, Branco redisponibilizou em um novo servidor as seis primeiras edições do fanzine e seus respectivos bônus, cujos links estavam indisponíveis há anos:
Megalon 1
Megalon 2
Megalon 3
Megalon 3 (bônus)
Megalon 4
Megalon 4 (bônus)
Megalon 5
Megalon 6
Graças ao Megalon, a leitura do próximo feriadão está garantida.
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
Juvenatrix 172
Está disponível o número 172 do fanzine eletrônico de horror e ficção científica Juvenatrix, editado por Renato Rosatti.
A edição tem 15 páginas e traz uma ficção de autoria do próprio editor, resenha de Miguel Carqueija ao livro O mundo fantástico de H.P. Lovecraft, e resenhas de filmes recentes O ataque do tubarão de 3 cabeças (2015), A forca (2015), Guerras na estrada (2015), A queda da Terra (2015), Sobrenatural: A origem (2015), Pânico em Seattle (2012), O Pé Grande (2012), e os clássicos Vinte milhões de léguas a Marte (1956) e Mesa of lost women (1953). Divulgação de fanzines, livros e bandas independentes completam a edição, que traz na capa um desenho de Angelo Junior.
Para obter uma cópia, basta solicitar pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.
A edição tem 15 páginas e traz uma ficção de autoria do próprio editor, resenha de Miguel Carqueija ao livro O mundo fantástico de H.P. Lovecraft, e resenhas de filmes recentes O ataque do tubarão de 3 cabeças (2015), A forca (2015), Guerras na estrada (2015), A queda da Terra (2015), Sobrenatural: A origem (2015), Pânico em Seattle (2012), O Pé Grande (2012), e os clássicos Vinte milhões de léguas a Marte (1956) e Mesa of lost women (1953). Divulgação de fanzines, livros e bandas independentes completam a edição, que traz na capa um desenho de Angelo Junior.
Para obter uma cópia, basta solicitar pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.
Bombardeando
A escritora Érica Bombardi, autora do romance de alta fantasia Além do deserto, publicado em 2013 com recursos do Programa de Apoio à Cultura-Proac, não está acomodada nos louros desse cobiçado prêmio. Nos últimos anos, tem submetido seus textos à diversas antologias e recentemente, teve um deles selecionado no Prêmio Miró de Literatura 2014, que lançou uma antologia com os trabalhos classificados, Contos premiados, organizada por Sergio Massucci Calderaro para a Editora Insular. A maior parte dos textos é realista, o que faz destacar o trabalho especulativo de Érica, "Perfeição", que fala sobre a intervenção de um ser sobrenatural no momento crucial de uma revolução política.
O volume tem 194 páginas e, além de Érica, apresenta os autores Andressa Barichello, Celso Antonio Lopes da Silva, Davi Yoshinobu Kikuchi, Fabiane Cristina Guimarães, Julio Jorge Lobo Pimentel, Leonardo Triandopolis Vieira, Lucas Denir Espindola, Luciano Tarcísio Agrizzi Altoé, Luiz Antonio Lianza da Franca Filho, L. A. Tecau, Marcelo da Silva Rocha, Nicolino Novello, Nicollas Sousa Bilatto, Oscar Andrade Lourenção Nestarez, Rafael Luiz Zen, Rebecca Davanso Fernandes Morgado, Roselaine Hahn, Sonia Cristina de Abreu Pestana, Tatti Simões, Tiago Masutti Brasil, Vinícius Lima Figueiredo e Yéssica Klein.
Érica também está com dois ebooks disponíveis nas livrarias virtuais. A caçadora de dragões d'água conta a história de Estessa, que tem de capturar um animal especial para conseguir o posto de líder de sua tribo. E em Dia inteiro, um menino questiona os pais sobre quantos dias tem a vida e, como resposta, recebe a história de um monstro chamado Nada. As narrativas de Érica são bastante sombrias, mas repletas de ternura e sensibilidade, uma mistura que sempre cai bem.
O volume tem 194 páginas e, além de Érica, apresenta os autores Andressa Barichello, Celso Antonio Lopes da Silva, Davi Yoshinobu Kikuchi, Fabiane Cristina Guimarães, Julio Jorge Lobo Pimentel, Leonardo Triandopolis Vieira, Lucas Denir Espindola, Luciano Tarcísio Agrizzi Altoé, Luiz Antonio Lianza da Franca Filho, L. A. Tecau, Marcelo da Silva Rocha, Nicolino Novello, Nicollas Sousa Bilatto, Oscar Andrade Lourenção Nestarez, Rafael Luiz Zen, Rebecca Davanso Fernandes Morgado, Roselaine Hahn, Sonia Cristina de Abreu Pestana, Tatti Simões, Tiago Masutti Brasil, Vinícius Lima Figueiredo e Yéssica Klein.
Érica também está com dois ebooks disponíveis nas livrarias virtuais. A caçadora de dragões d'água conta a história de Estessa, que tem de capturar um animal especial para conseguir o posto de líder de sua tribo. E em Dia inteiro, um menino questiona os pais sobre quantos dias tem a vida e, como resposta, recebe a história de um monstro chamado Nada. As narrativas de Érica são bastante sombrias, mas repletas de ternura e sensibilidade, uma mistura que sempre cai bem.
Lucchetti renasce
Rubens Ferreira Lucchetti é o mais prolífico autor brasileiro de ficção fantástica. E digo isso sem nenhuma dúvida, porque Lucchetti escreveu mais de 1500 livros: histórias de espionagem, mistério, faroeste, guerra e terror foram seus terrenos mais férteis, mas o que lhe trouxe maior reconhecimento foram mesmo as histórias de terror. Sua parceria com o mestre dos quadrinhos Nico Rosso é memorável e seus roteiros para os filmes do José Mojica Marins e Ivan Cardoso estão entre as mais importantes obras da filmografia brasileira.
Contudo, sua obra literária não recebeu ainda o devido valor pois a maior parte dela foi assinada com pseudônimos, sem esquecer o fato de que as edições eram direcionadas ao mercado de bancas e nunca receberam reedições. Pelo menos até agora.
Depois que, em 2013, a editora Devaneio publicou Fantasmagorias, coletânea de contos de R. F. Lucchetti organizada por seu filho Marco Aurélio, indicada ao prêmio Jabuti na categoria de ilustração (pelos desenhos de Emir Ribeiro), o autor voltou a ribalta. No ano seguinte, o Grupo Editorial ACP, através de seu selo Corvo, deu início a coleção R. F. Lucchetti, também organizada por Marco Aurélio, que consiste numa série de romances e coletâneas do autor, recuperando textos que há muito estavam esquecidos. O primeiro volume, Máscaras do pavor, foi publicado originalmente em 1975, com uma história de mistério com assassinatos inspirados em filmes da Universal. O segundo volume O museu dos horrores, acaba de ser publicado e relata uma onda de crimes que assombra um museu.
A projeto da coleção prevê a publicação de 15 títulos, cada um focalizado num tema clássico do gênero. Eis aqui a lista compçeta dos títulos anunciados:
1 - As máscaras do pavor
2 - O museu dos horrores
3 - O abominável Dr. Zola
4 - Os amantes da Sra. Powers
5 - Os olhos do vampiro
6 - Rachel
7 - O emissário de Satã
8 - Gênesis: Depois do fim
9 - No domínio do mistério
10 - Cherchez la femme! (Procure a mulher!)
11 - Uma loura à janela
12 - Nasce uma lenda
13 - O fantasma da prima Lavínia
14 - A filha das trevas
15 - O fantasma de Greenstock
Além destes, está proposto ainda um volume extra O lago maldito, com uma história inédita escrita pelo mestre em parceria com Marco Aurélio, também ele escritor. Ótimas notícias, portanto.
Contudo, sua obra literária não recebeu ainda o devido valor pois a maior parte dela foi assinada com pseudônimos, sem esquecer o fato de que as edições eram direcionadas ao mercado de bancas e nunca receberam reedições. Pelo menos até agora.
Depois que, em 2013, a editora Devaneio publicou Fantasmagorias, coletânea de contos de R. F. Lucchetti organizada por seu filho Marco Aurélio, indicada ao prêmio Jabuti na categoria de ilustração (pelos desenhos de Emir Ribeiro), o autor voltou a ribalta. No ano seguinte, o Grupo Editorial ACP, através de seu selo Corvo, deu início a coleção R. F. Lucchetti, também organizada por Marco Aurélio, que consiste numa série de romances e coletâneas do autor, recuperando textos que há muito estavam esquecidos. O primeiro volume, Máscaras do pavor, foi publicado originalmente em 1975, com uma história de mistério com assassinatos inspirados em filmes da Universal. O segundo volume O museu dos horrores, acaba de ser publicado e relata uma onda de crimes que assombra um museu.
A projeto da coleção prevê a publicação de 15 títulos, cada um focalizado num tema clássico do gênero. Eis aqui a lista compçeta dos títulos anunciados:
1 - As máscaras do pavor
2 - O museu dos horrores
3 - O abominável Dr. Zola
4 - Os amantes da Sra. Powers
5 - Os olhos do vampiro
6 - Rachel
7 - O emissário de Satã
8 - Gênesis: Depois do fim
9 - No domínio do mistério
10 - Cherchez la femme! (Procure a mulher!)
11 - Uma loura à janela
12 - Nasce uma lenda
13 - O fantasma da prima Lavínia
14 - A filha das trevas
15 - O fantasma de Greenstock
Além destes, está proposto ainda um volume extra O lago maldito, com uma história inédita escrita pelo mestre em parceria com Marco Aurélio, também ele escritor. Ótimas notícias, portanto.
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Essencial 2014 - Autores estrangeiros
No que se refere a livros de autores estrangeiros, a fantasia ainda é o gênero mais publicado, mas 2014 fica marcado pelo crescimento significativo dos títulos de ficção científica, enquanto a fantasia e o horror estiveram mais ou menos estáveis em relação a 2013. Esse crescimento particular da fc se reveste de importância ainda maior por conta da representatividade dos títulos publicados.
Na fantasia, o destaque vai para Elric de Melniboné: A traição ao imperador (Elric of Melniboné), do escritor britânico Michael Moorcock, publicado no Brasil pela Editora Évora no selo Generale. Trata-se do resgate oportuno de uma obra importante da fantasia mundial, originalmente publicada em 1972, de um dos mais expressivos autores do gênero, que andava esquecido pelas editoras brasileiras: o único livro do autor publicado aqui até então era A espada diabólica (Stormbringer), oitavo e último livro da mesma série, traduzido pela Francisco Alves nos anos 1970. Elric segue a linha da fantasia heróica que fez grande sucesso com Conan, de Robert E. Howard, embora os personagens sejam diametralmente opostos.
Contudo, as similaridades entre os dois universos são tantas que, nos quadrinhos, Elric chegou a contracenar com o bárbaro cimério. Stormbringer, a espada viva de Elric, é provavelmente a mais conhecida arma da literatura fantástica, ao lado de Excalibur. Também vale registrar a publicação de Discworld: Pequenos deuses (Small gods), de Terry Pratchett (1948-2015), pela Editora Bertrand Brasil, 13º volume dessa série de romances cômicos que é bastante conhecida dos leitores brasileiros.
Como já foi dito, 2014 foi o ano do ressurgimento ficção científica no Brasil, e a relação de livros essenciais é grande, a começar do megarromance Graça infinita (Infinite jest), de David Foster Wallace (1962-2008), publicado pela Companhia das Letras, ficção científica de contornos políticos e sociais considerada pela crítica como "o último grande romance do século 20" (ele é de 1996). Sua leitura é uma verdadeira maratona de mais de mil páginas, sem contar as 136 páginas do apêndice de notas, que é uma atração em si.
Graça infinita se insere na estética pós-moderna New Weird, assim como A cidade e a cidade (The city & the city), de China Miéville, que também chegou ao Brasil em 2014 pela Editora Boitempo, outro título reconhecido tanto pela crítica mainstream quanto pela especializada.
Battle royale, de Koushun Takami, pela Globo Livros, é outra publicação surpreendente. Primeiro porque é um dos raros exemplos da ficção científica japonesa traduzida no Brasil, segundo porque trata-se de um trabalho razoavelmente recente (o livro é de 1999) e extremamente violento, ao ponto de ter se tornado polêmico no país de origem. Apesar do brutalismo ser um estilo popular entre os autores brasileiros, o nível da violência em Battle royale extrapola todos os limites dos protocolos do gênero. Apesar disso – ou talvez por isso mesmo –, o romance fez uma bem sucedida carreira, com adaptações para os quadrinhos e para o cinema.
Mais ao gosto do leitor ocidental, a editora Intrínseca trouxe ao país, com tradução de Braulio Tavares, o romance Aniquilação (Annihilation), de Jeff VanderMeer, autor da moderna fc norte americana, publicado aqui meses antes de ganhar o prestigioso Prêmio Nebula. Trata-se do primeiro volume da trilogia Comando Sul, cuja segunda parte, Autoridade (Authority), já foi publicada em 2015 pela mesma editora. A história, repleta de mistérios, remete ao clássico Stalker, dos escritores russos Arkadi e Boris Strugastski, e é igualmente perturbadora.
Também surpreendeu a publicação de O círculo (The circle), de Dave Eggers pela Companhia das Letras, ficção científica na fronteira do mainstream, que discute com incômodo vigor a presença cada vez maior da vigilância tecnológica na sociedade moderna, sugerindo que os extremos denunciados por George Orwell em 1984 talvez não estejam tão longe de se tornarem realidade, se é que já não estão bem diante dos nossos narizes.
Dois clássicos inéditos no país marcaram presença nas livrarias em 2014: A nebulosa de Andrômeda (Andromeda nebula), livro de 1957 do escritor russo Ivan Efremov (1908-1972), pela pequena editora Polo Books, e a coletânea O salmão da dúvida (The salmon of doubt), trabalho póstumo e inacabado do britânico Douglas Adams (1952-2001), pela Arqueiro.
Para quem conhece estes autores, não há necessidade de maiores explicações: são leituras mais que obrigatórias.
No campo do horror, os destaques são pesos pesados: Doutor Sono (Doctor Sleep), de Stephen King – sequência ao clássico absoluto O iluminado (The shinning) –, pela Suma das Letras, e Outros reinos (Other kingdoms), um dos últimos trabalhos do sempre relevante Richard Matheson (1926-2013), pela Civilização Brasileira.
Este ano, um fato incomum revelou que há uma grande tempestade ao longe que pode mudar radicalmente o panorama da publicação de fc&f no Brasil. Nada menos que três editoras publicaram, simultaneamente, a coletânea The king in yellow, de Robert W. Chambers (1865-1933), influente clássico da literatura gótica publicado em 1895.
Pela Intrínseca e pela Clock Tower, o volume levou o nome de O rei de amarelo, e pela Arte & Letra, O símbolo amarelo e outros contos. Isso aconteceu porque a obra de Chambers entrou em domínio público e as atentas editoras logo aproveitaram a oportunidade. Curioso é que todos os editores tenham escolhido justamente o mesmo título, sendo que Chambers, que foi um autor produtivo, tem muito mais para ser aproveitado. O fato é que todos estão esperando ansiosamente pelos grandes títulos estrangeiros caiam em domínio público, enquanto clássicos da ficção especulativa nacional seguem esquecidos. Decerto que há alguma lição para ser aprendida nisso tudo.
Na fantasia, o destaque vai para Elric de Melniboné: A traição ao imperador (Elric of Melniboné), do escritor britânico Michael Moorcock, publicado no Brasil pela Editora Évora no selo Generale. Trata-se do resgate oportuno de uma obra importante da fantasia mundial, originalmente publicada em 1972, de um dos mais expressivos autores do gênero, que andava esquecido pelas editoras brasileiras: o único livro do autor publicado aqui até então era A espada diabólica (Stormbringer), oitavo e último livro da mesma série, traduzido pela Francisco Alves nos anos 1970. Elric segue a linha da fantasia heróica que fez grande sucesso com Conan, de Robert E. Howard, embora os personagens sejam diametralmente opostos.
Contudo, as similaridades entre os dois universos são tantas que, nos quadrinhos, Elric chegou a contracenar com o bárbaro cimério. Stormbringer, a espada viva de Elric, é provavelmente a mais conhecida arma da literatura fantástica, ao lado de Excalibur. Também vale registrar a publicação de Discworld: Pequenos deuses (Small gods), de Terry Pratchett (1948-2015), pela Editora Bertrand Brasil, 13º volume dessa série de romances cômicos que é bastante conhecida dos leitores brasileiros.
Como já foi dito, 2014 foi o ano do ressurgimento ficção científica no Brasil, e a relação de livros essenciais é grande, a começar do megarromance Graça infinita (Infinite jest), de David Foster Wallace (1962-2008), publicado pela Companhia das Letras, ficção científica de contornos políticos e sociais considerada pela crítica como "o último grande romance do século 20" (ele é de 1996). Sua leitura é uma verdadeira maratona de mais de mil páginas, sem contar as 136 páginas do apêndice de notas, que é uma atração em si.
Graça infinita se insere na estética pós-moderna New Weird, assim como A cidade e a cidade (The city & the city), de China Miéville, que também chegou ao Brasil em 2014 pela Editora Boitempo, outro título reconhecido tanto pela crítica mainstream quanto pela especializada.
Battle royale, de Koushun Takami, pela Globo Livros, é outra publicação surpreendente. Primeiro porque é um dos raros exemplos da ficção científica japonesa traduzida no Brasil, segundo porque trata-se de um trabalho razoavelmente recente (o livro é de 1999) e extremamente violento, ao ponto de ter se tornado polêmico no país de origem. Apesar do brutalismo ser um estilo popular entre os autores brasileiros, o nível da violência em Battle royale extrapola todos os limites dos protocolos do gênero. Apesar disso – ou talvez por isso mesmo –, o romance fez uma bem sucedida carreira, com adaptações para os quadrinhos e para o cinema.
Mais ao gosto do leitor ocidental, a editora Intrínseca trouxe ao país, com tradução de Braulio Tavares, o romance Aniquilação (Annihilation), de Jeff VanderMeer, autor da moderna fc norte americana, publicado aqui meses antes de ganhar o prestigioso Prêmio Nebula. Trata-se do primeiro volume da trilogia Comando Sul, cuja segunda parte, Autoridade (Authority), já foi publicada em 2015 pela mesma editora. A história, repleta de mistérios, remete ao clássico Stalker, dos escritores russos Arkadi e Boris Strugastski, e é igualmente perturbadora.
Também surpreendeu a publicação de O círculo (The circle), de Dave Eggers pela Companhia das Letras, ficção científica na fronteira do mainstream, que discute com incômodo vigor a presença cada vez maior da vigilância tecnológica na sociedade moderna, sugerindo que os extremos denunciados por George Orwell em 1984 talvez não estejam tão longe de se tornarem realidade, se é que já não estão bem diante dos nossos narizes.
Dois clássicos inéditos no país marcaram presença nas livrarias em 2014: A nebulosa de Andrômeda (Andromeda nebula), livro de 1957 do escritor russo Ivan Efremov (1908-1972), pela pequena editora Polo Books, e a coletânea O salmão da dúvida (The salmon of doubt), trabalho póstumo e inacabado do britânico Douglas Adams (1952-2001), pela Arqueiro.
Para quem conhece estes autores, não há necessidade de maiores explicações: são leituras mais que obrigatórias.
No campo do horror, os destaques são pesos pesados: Doutor Sono (Doctor Sleep), de Stephen King – sequência ao clássico absoluto O iluminado (The shinning) –, pela Suma das Letras, e Outros reinos (Other kingdoms), um dos últimos trabalhos do sempre relevante Richard Matheson (1926-2013), pela Civilização Brasileira.
Este ano, um fato incomum revelou que há uma grande tempestade ao longe que pode mudar radicalmente o panorama da publicação de fc&f no Brasil. Nada menos que três editoras publicaram, simultaneamente, a coletânea The king in yellow, de Robert W. Chambers (1865-1933), influente clássico da literatura gótica publicado em 1895.
Pela Intrínseca e pela Clock Tower, o volume levou o nome de O rei de amarelo, e pela Arte & Letra, O símbolo amarelo e outros contos. Isso aconteceu porque a obra de Chambers entrou em domínio público e as atentas editoras logo aproveitaram a oportunidade. Curioso é que todos os editores tenham escolhido justamente o mesmo título, sendo que Chambers, que foi um autor produtivo, tem muito mais para ser aproveitado. O fato é que todos estão esperando ansiosamente pelos grandes títulos estrangeiros caiam em domínio público, enquanto clássicos da ficção especulativa nacional seguem esquecidos. Decerto que há alguma lição para ser aprendida nisso tudo.
sábado, 22 de agosto de 2015
Essencial 2014 - Autores brasileiros
Até 2013, a fc&f no Brasil foi acompanhada de pertinho pelo Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica. Essa missão está agora disseminada num grande número de iniciativas de fãs e acadêmicos, de forma que há muitas interpretações e análises circulando, especialmente na internet. Contudo, minha análise pessoal ainda pode ter algum valor para aqueles que gostam de discutir os lançamentos mais expressivos da literatura especulativa no Brasil. Assim sendo, vou exercitar aqui a minha opinião baseada na lista do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2014 - Lançamentos, recentemente publicado aqui.
Começando pelos autores brasileiros, o gênero da fantasia segue firme e forte como o preferido de autores, editores e leitores, tomando pelo menos metade dos lançamentos de ficção fantástica. É claro que caberia discutir os limites de cada gênero e até mesmo questionar se um determinado título faz parte ou não do rol das obras especulativas – há muitas definições e algumas delas são diametralmente opostas – mas tomo a liberdade de usar a minha: se não é claramente fc ou terror, é fantasia. E entram na definição as histórias de realismo mágico e fantástico.
Dessa forma, destaco, na fantasia, os livros A cabeça do santo, de Socorro Acioli, publicado pela Companhia das Letras, e Os sóis da América, de Simone Saueressig, publicado pela autora em quatro volumes ao longo de 2013 e 2014. Ambas são autoras experientes no gênero, com diversos títulos publicados por grandes editoras. Socorro investiu num romance regionalista moderno que trata de costumes e tradições bem brasileiras, enquanto Simone fez um romance de alta fantasia em um continente americano povoado por seres mitológicos inspirados nas culturas de diversos povos, entre os quais os brasileiros, embora estes não sejam predominantes.
Também destaco o segundo volume da coletânea Hiperconexões: Realidade expandida, organizada por Luiz para a editora Patuá. Trata-se de uma proposta que, se não é de toda original, é bastante rara: uma seleta de poemas de ficção científica de diversos autores, todos explorando o tema do pós-humanismo. O primeiro volume foi publicado em 2013, pela editora Terracota.
Na ficção científica, Luiz Bras também sustentou uma boa posição com Distrito Federal, publicado pela Patuá, romance que o autor prefere chamar de rapsódia, uma fantasia tecnológica sobre a corrupção e suas consequências.
Também vale destacar A lição de anatomia do temível Dr. Louison, de Enéias Tavares, publicação da LeYa Brasil/Casa da Palavra.
O romance foi vencedor da primeira edição do Prêmio Fantasy e inaugurou a coleção Brasiliana Steampunk.
Trata-se de uma ficção alternativa que reúne, numa mesma aventura, diversos personagens da literatura fantástica brasileira.
Entre as coletâneas, é impossível não voltar a Luiz Bras e sua Pequena coleção de grandes horrores, pela editora Circuito, um conjunto de narrativas muito curtas que brincam com ícones da cultura pop e dialogam com várias obras do gênero.
No horror, vale a pena buscar por As máscaras do pavor, do veterano escritor e roteirista R. F. Lucchetti, uma das maiores personalidades do gênero no país, muito conhecido por suas parcerias como o ilustrador Nico Rosso, nos quadrinhos, e com José Mojica Marins, no cinema. O romance é o primeiro de uma coleção do autor – conhecido como o homem dos mil livros – numa parceria das editoras Devaneio e Corvo.
Entre as coletâneas, vale registrar Flores mortais, de Giulia Moon, pela Giz Editorial e Sete monstros brasileiros, de Braulio Tavares, pela Casa da Palavra. A primeira reúne contos com as vampiras criadas pela autora, que é uma das melhores escritoras da Terceira Onda da ficção fantástica brasileira. A segunda é mais uma contribuição valiosa do experiente escritor paraibano Braulio Tavares, desta feita navegando no ainda pouco explorado panteão de criaturas assustadoras da mitologia nacional.
Boa parte dos títulos citados neste artigo dispõe de resenhas neste blogue, é só buscar no índice de tags.
No próximo post, apontarei os títulos essenciais em 2014 da fc&f estrangeira traduzidos no Brasil.
Começando pelos autores brasileiros, o gênero da fantasia segue firme e forte como o preferido de autores, editores e leitores, tomando pelo menos metade dos lançamentos de ficção fantástica. É claro que caberia discutir os limites de cada gênero e até mesmo questionar se um determinado título faz parte ou não do rol das obras especulativas – há muitas definições e algumas delas são diametralmente opostas – mas tomo a liberdade de usar a minha: se não é claramente fc ou terror, é fantasia. E entram na definição as histórias de realismo mágico e fantástico.
Dessa forma, destaco, na fantasia, os livros A cabeça do santo, de Socorro Acioli, publicado pela Companhia das Letras, e Os sóis da América, de Simone Saueressig, publicado pela autora em quatro volumes ao longo de 2013 e 2014. Ambas são autoras experientes no gênero, com diversos títulos publicados por grandes editoras. Socorro investiu num romance regionalista moderno que trata de costumes e tradições bem brasileiras, enquanto Simone fez um romance de alta fantasia em um continente americano povoado por seres mitológicos inspirados nas culturas de diversos povos, entre os quais os brasileiros, embora estes não sejam predominantes.
Também destaco o segundo volume da coletânea Hiperconexões: Realidade expandida, organizada por Luiz para a editora Patuá. Trata-se de uma proposta que, se não é de toda original, é bastante rara: uma seleta de poemas de ficção científica de diversos autores, todos explorando o tema do pós-humanismo. O primeiro volume foi publicado em 2013, pela editora Terracota.
Na ficção científica, Luiz Bras também sustentou uma boa posição com Distrito Federal, publicado pela Patuá, romance que o autor prefere chamar de rapsódia, uma fantasia tecnológica sobre a corrupção e suas consequências.
Também vale destacar A lição de anatomia do temível Dr. Louison, de Enéias Tavares, publicação da LeYa Brasil/Casa da Palavra.
O romance foi vencedor da primeira edição do Prêmio Fantasy e inaugurou a coleção Brasiliana Steampunk.
Trata-se de uma ficção alternativa que reúne, numa mesma aventura, diversos personagens da literatura fantástica brasileira.
Entre as coletâneas, é impossível não voltar a Luiz Bras e sua Pequena coleção de grandes horrores, pela editora Circuito, um conjunto de narrativas muito curtas que brincam com ícones da cultura pop e dialogam com várias obras do gênero.
No horror, vale a pena buscar por As máscaras do pavor, do veterano escritor e roteirista R. F. Lucchetti, uma das maiores personalidades do gênero no país, muito conhecido por suas parcerias como o ilustrador Nico Rosso, nos quadrinhos, e com José Mojica Marins, no cinema. O romance é o primeiro de uma coleção do autor – conhecido como o homem dos mil livros – numa parceria das editoras Devaneio e Corvo.
Entre as coletâneas, vale registrar Flores mortais, de Giulia Moon, pela Giz Editorial e Sete monstros brasileiros, de Braulio Tavares, pela Casa da Palavra. A primeira reúne contos com as vampiras criadas pela autora, que é uma das melhores escritoras da Terceira Onda da ficção fantástica brasileira. A segunda é mais uma contribuição valiosa do experiente escritor paraibano Braulio Tavares, desta feita navegando no ainda pouco explorado panteão de criaturas assustadoras da mitologia nacional.
Boa parte dos títulos citados neste artigo dispõe de resenhas neste blogue, é só buscar no índice de tags.
No próximo post, apontarei os títulos essenciais em 2014 da fc&f estrangeira traduzidos no Brasil.
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
Anuário 2014 - Lançamentos
Mas o Anuário não acabou?
Como publicação comercial sim, mas continuo a fazer os estudos que antecediam cada edição, para não perder de vista o panorama da fc&f no Brasil que, enfim, foi o que me fez começar a fazê-lo. Para entender como o gênero caminha e visualizar suas tendências, continua necessário acompanhar o mercado nacional, daí, as listas não pararam. Apesar do Anuário 2014 não estar na pauta de publicações, as listas continuam úteis para quem, como eu, gosta de seguir de perto a evolução editorial do gênero no país.
Dessa forma, está disponível aqui para leitura e download gratuitos, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2014 - Lançamentos, com uma ampla lista de livros de fantasia, ficção científica e horror publicados no Brasil ao longo do referido ano. Trata-se de uma relação certamente incompleta, visto que é fruto de uma pesquisa algo liberal. Não estão listados, por exemplo, muitos dos lançamentos das editoras por demanda, que inflacionaram bastante algumas das relações de anos anteriores, mas cujos saites são difíceis de navegar e pesquisar.
A edição registra 692 títulos, entre inéditos e relançamentos nacionais e estrangeiros, números que confirmam o crescimento do mercado em relação a 2013, com a redução na quantidade de publicações de autores brasileiros compensada pelo crescimento na edição de livros de autores estrangeiros, como se pode ver no quadro comparativo abaixo:
Observa-se também o acentuado crescimento da publicação de ficção científica de autores estrangeiros, que parece revelar que o gênero pode, enfim, ter rompido com o círculo vicioso de preconceito dos editores pelo gênero, embora isso ainda não tenha reflexo entre a edição de autores brasileiros.
Muito mais pode ser concluído a partir do estudo desta edição, bem como das anteriores, que podem igualmente acessadas nos links abaixo:
Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2013 - Lançamentos
Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2012 - Lançamentos
Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2011 - Lançamentos
Como publicação comercial sim, mas continuo a fazer os estudos que antecediam cada edição, para não perder de vista o panorama da fc&f no Brasil que, enfim, foi o que me fez começar a fazê-lo. Para entender como o gênero caminha e visualizar suas tendências, continua necessário acompanhar o mercado nacional, daí, as listas não pararam. Apesar do Anuário 2014 não estar na pauta de publicações, as listas continuam úteis para quem, como eu, gosta de seguir de perto a evolução editorial do gênero no país.
Dessa forma, está disponível aqui para leitura e download gratuitos, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2014 - Lançamentos, com uma ampla lista de livros de fantasia, ficção científica e horror publicados no Brasil ao longo do referido ano. Trata-se de uma relação certamente incompleta, visto que é fruto de uma pesquisa algo liberal. Não estão listados, por exemplo, muitos dos lançamentos das editoras por demanda, que inflacionaram bastante algumas das relações de anos anteriores, mas cujos saites são difíceis de navegar e pesquisar.
A edição registra 692 títulos, entre inéditos e relançamentos nacionais e estrangeiros, números que confirmam o crescimento do mercado em relação a 2013, com a redução na quantidade de publicações de autores brasileiros compensada pelo crescimento na edição de livros de autores estrangeiros, como se pode ver no quadro comparativo abaixo:
Observa-se também o acentuado crescimento da publicação de ficção científica de autores estrangeiros, que parece revelar que o gênero pode, enfim, ter rompido com o círculo vicioso de preconceito dos editores pelo gênero, embora isso ainda não tenha reflexo entre a edição de autores brasileiros.
Muito mais pode ser concluído a partir do estudo desta edição, bem como das anteriores, que podem igualmente acessadas nos links abaixo:
Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2013 - Lançamentos
Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2012 - Lançamentos
Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2011 - Lançamentos
domingo, 16 de agosto de 2015
A fc&f e seus contos
No último dia 15 de agosto, foi iniciado na Biblioteca Pública Malba Tahan, em São Bernardo do Campo, um ciclo de oficinas de leitura dedicado à ficção fantástica. Ao longo de oito encontros quinzenais, serão debatidos os fundamentos do gênero a partir do estudo de autores estrangeiros e brasileiros de destaque, apresentando sua vida e obra, lendo alguns de seus contos, contextualizando-os na literatura e sugerindo títulos disponíveis para leitura no acervo da biblioteca.
A coordenação dos encontros está sob responsabilidade de Cesar Silva, autor do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica e também deste blogue. Os encontros ocorrem sempre aos sábados, das 10 às 12 horas.
Este primeiro encontro foi dedicado ao escritor americano Edgar Alan Poe, sendo lido o poema "O corvo", na tradução de Machado de Assis. Foi notável a predominância de um público abaixo dos 20 anos de idade, especialmente por se tratar de um estudo sobre um autor do século 19, mas isso só vem demonstrar o crescente interesse que a literatura fantástica causa no público jovem adulto.
As datas e temas dos próximos encontros da oficina são: 29/08: André Carneiro; 12/09: H. P. Lovecraft; 26/09: José J. Veiga; 10/10: Ray Bradbury; 24/10: Murilo Rubião; 07/11: Jorge Luiz Borges; 28/11: Nelson de Oliveira/Luiz Brás. Outros autores também serão abordados.
A Biblioteca Malba Tahan fica na Rua Helena Jacquei, 208, Rudge Ramos. A participação é gratuita e as inscrições podem ser feitas pelo email mtahansbc@gmail.com, pelos telefones (11)4368-1010 e 4367-2330, ou no próprio local.
A coordenação dos encontros está sob responsabilidade de Cesar Silva, autor do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica e também deste blogue. Os encontros ocorrem sempre aos sábados, das 10 às 12 horas.
Este primeiro encontro foi dedicado ao escritor americano Edgar Alan Poe, sendo lido o poema "O corvo", na tradução de Machado de Assis. Foi notável a predominância de um público abaixo dos 20 anos de idade, especialmente por se tratar de um estudo sobre um autor do século 19, mas isso só vem demonstrar o crescente interesse que a literatura fantástica causa no público jovem adulto.
As datas e temas dos próximos encontros da oficina são: 29/08: André Carneiro; 12/09: H. P. Lovecraft; 26/09: José J. Veiga; 10/10: Ray Bradbury; 24/10: Murilo Rubião; 07/11: Jorge Luiz Borges; 28/11: Nelson de Oliveira/Luiz Brás. Outros autores também serão abordados.
A Biblioteca Malba Tahan fica na Rua Helena Jacquei, 208, Rudge Ramos. A participação é gratuita e as inscrições podem ser feitas pelo email mtahansbc@gmail.com, pelos telefones (11)4368-1010 e 4367-2330, ou no próprio local.
42 Toalhas
Está disponível o primeiro episódio do podcast 42 Toalhas, produzido pelo saite The Talking Nerds, que é dedicado principalmente à mídia audiovisual. O podcast, contudo, dá o seu primeiro passo no ambiente literário, com o tema "Ficção científica no Brasil" e a presença dos escritores Enéias Tavares e Roberto de Sousa Causo.
Disse Causo sobre a experiência: "A conversa com Tavares foi ótima. Ele é o autor de A lição de anatomia do temível Dr. Louison, romance steampunk ganhador do Prêmio Fantasy, livro que eu recomendo muito, já que o achei um dos melhores romances brasileiros de fc dos últimos anos (e que também pode ser lido como horror). De minha parte, falei mais do meu romance de space opera Glória Sombria".
Rafael Silveira "O Toupeira" também participa do batepapo, que tem apresentação de Nando Moraes. O episódio pode ser ouvido online ou baixado aqui.
Disse Causo sobre a experiência: "A conversa com Tavares foi ótima. Ele é o autor de A lição de anatomia do temível Dr. Louison, romance steampunk ganhador do Prêmio Fantasy, livro que eu recomendo muito, já que o achei um dos melhores romances brasileiros de fc dos últimos anos (e que também pode ser lido como horror). De minha parte, falei mais do meu romance de space opera Glória Sombria".
Rafael Silveira "O Toupeira" também participa do batepapo, que tem apresentação de Nando Moraes. O episódio pode ser ouvido online ou baixado aqui.
Mais Poemas de personagens
O escritor Miguel Carqueija disponibilizou um segundo volume da série Poemas de personagens, com uma seleta de poesias que homenageiam diversos personagens da cultura pop, tais como Sailor Moon, Batman, Fu Manchu, Zé Carioca, Hagar, Peninha, Tom e Jerry, Horácio, Carlitos, e até o Jeca de Mazzaroppi. O prefácio é assinado pela escritora Adria Comparini.
O arquivo está disponível em formato de texto no saite Recanto das Letras, aqui.
O arquivo está disponível em formato de texto no saite Recanto das Letras, aqui.
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Especulando sobre o cinema brasileiro
Uma coisa sobre a qual trato pouco aqui é cinema. Apesar de ser uma arte muito popular e manter amplo diálogo com a ficção especulativa, como podemos comprovar pelas superproduções internacionais de maior audiência entre os brasileiros, são raros os casos de fc&f no cinema nacional. Tirando José Mojica Marins e Ivan Cardoso, os cineastas locais não se mostram entusiasmados com o gênero. Sem dúvida que há alguma produção, especialmente no âmbito dos curta metragens e das animações, mas nos longas o panorama segue o mesmo visual árido que Fausto Cunha afirmou ser o da ficção científica na literatura brasileira no ensaio "Um planeta quase desabitado", prefácio à edição brasileira de No mundo da ficção científica, de L. David Allen.
Alguns pesquisadores têm feito levantamentos interessantes sobre o assunto, como o escritor João Batista Melo no livro Lanterna mágica (Civilização Brasileira, 2011) e o professor Alfredo Suppia, da Universidade de Federal de Juiz de Fora, que publicou no Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2011 (Devir, 2012) um artigo detalhando essa relação conflituosa. Ainda assim, é preciso ser criativo para reunir alguma filmografia, aproveitando histórias de realismo mágico e absurdismo que nem sempre são reconhecidas como ficção especulativa. Mas parece que as coisas estão mudando. Em 2014, estrearam pelo menos quatro longas metragens cujos argumentos focam efetivamente o gênero fantástico.
Branco sai, preto fica, de Adirley Queirós, lança mão da ficção científica para denunciar o apartheid social que impera na capital do país. Nele, um viajante de 2073, vindo numa máquina do tempo montada em um contêiner, chega ao nosso tempo para investigar um incidente de violência no qual um homem – Marquim, o protagonista – perdeu uma das pernas. O futuro de onde ele vem mostra uma Brasília sofisticada e poderosa, ilhada por favelas, na qual só se pode entrar com passaportes. O filme foi vencedor do Festival de Brasília.
O amuleto, de Jeferson De, investe num drama de terror para contar uma história de mistério e violência numa floresta assombrada por fantasmas de bruxas.
A narrativa segue o padrão das histórias de psicopatas sobrenaturais como Sexta-feira treze e A hora do pesadelo, com jovens sendo mortos de formas bizarras. Apesar de um elenco formado por celebridades globais e do prestígio do diretor, que também filmou Bróder e Carolina, o filme foi esculhambado pela crítica. Mas quem é que liga para isso?
Outro filme de horror que estreou em 2014 foi Isolados, de Tomas Portella, no qual um casal enfrenta o sobrenatural num casarão isolado na região serrana do Rio de Janeiro, onde já aconteceram casos de violência. Trata-se de uma releitura de um dos temas mais recorrentes do gênero, o das casas assombradas, que tem recebido muita atenção dos realizadores do gênero. A ideia remete, é claro, a clássicos como A casa da noite eterna, The evil dead e Horror em Amityville mas, sendo Portella um diretor que tem no currículo filmes como Meu nome não é Johnny e Qualquer gato viralata, dá para esperar coisas um tantinho diferentes.
Enfim, mas não necessariamente completando a lista que deve ter mais filmes perdidos em meio a produção independente, O menino no espelho, de Guilherme Fiúza Zenha, fantasia inspirada numa história de Fernando Sabino, sobre um menino que ganha um duplo de si mesmo quando este sai do espelho. É o título mais enfronhado na tradição do cinema brasileiro para crianças, que utiliza a fantasia de forma mais frequente, como visto em Castelo Ratimbum, O menino maluquinho e Os Xeretas, entre outros. Mas, mesmo assim, é importante que um filme como este tenha vindo complementar a grade dos subgêneros da ficção fantástica num mesmo ano. Tomara que não tenha sido apenas uma coincidência e que a fc&f tenha vindo para ficar também no cinema nacional.
Alguns pesquisadores têm feito levantamentos interessantes sobre o assunto, como o escritor João Batista Melo no livro Lanterna mágica (Civilização Brasileira, 2011) e o professor Alfredo Suppia, da Universidade de Federal de Juiz de Fora, que publicou no Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2011 (Devir, 2012) um artigo detalhando essa relação conflituosa. Ainda assim, é preciso ser criativo para reunir alguma filmografia, aproveitando histórias de realismo mágico e absurdismo que nem sempre são reconhecidas como ficção especulativa. Mas parece que as coisas estão mudando. Em 2014, estrearam pelo menos quatro longas metragens cujos argumentos focam efetivamente o gênero fantástico.
Branco sai, preto fica, de Adirley Queirós, lança mão da ficção científica para denunciar o apartheid social que impera na capital do país. Nele, um viajante de 2073, vindo numa máquina do tempo montada em um contêiner, chega ao nosso tempo para investigar um incidente de violência no qual um homem – Marquim, o protagonista – perdeu uma das pernas. O futuro de onde ele vem mostra uma Brasília sofisticada e poderosa, ilhada por favelas, na qual só se pode entrar com passaportes. O filme foi vencedor do Festival de Brasília.
O amuleto, de Jeferson De, investe num drama de terror para contar uma história de mistério e violência numa floresta assombrada por fantasmas de bruxas.
A narrativa segue o padrão das histórias de psicopatas sobrenaturais como Sexta-feira treze e A hora do pesadelo, com jovens sendo mortos de formas bizarras. Apesar de um elenco formado por celebridades globais e do prestígio do diretor, que também filmou Bróder e Carolina, o filme foi esculhambado pela crítica. Mas quem é que liga para isso?
Outro filme de horror que estreou em 2014 foi Isolados, de Tomas Portella, no qual um casal enfrenta o sobrenatural num casarão isolado na região serrana do Rio de Janeiro, onde já aconteceram casos de violência. Trata-se de uma releitura de um dos temas mais recorrentes do gênero, o das casas assombradas, que tem recebido muita atenção dos realizadores do gênero. A ideia remete, é claro, a clássicos como A casa da noite eterna, The evil dead e Horror em Amityville mas, sendo Portella um diretor que tem no currículo filmes como Meu nome não é Johnny e Qualquer gato viralata, dá para esperar coisas um tantinho diferentes.
Enfim, mas não necessariamente completando a lista que deve ter mais filmes perdidos em meio a produção independente, O menino no espelho, de Guilherme Fiúza Zenha, fantasia inspirada numa história de Fernando Sabino, sobre um menino que ganha um duplo de si mesmo quando este sai do espelho. É o título mais enfronhado na tradição do cinema brasileiro para crianças, que utiliza a fantasia de forma mais frequente, como visto em Castelo Ratimbum, O menino maluquinho e Os Xeretas, entre outros. Mas, mesmo assim, é importante que um filme como este tenha vindo complementar a grade dos subgêneros da ficção fantástica num mesmo ano. Tomara que não tenha sido apenas uma coincidência e que a fc&f tenha vindo para ficar também no cinema nacional.
sábado, 8 de agosto de 2015
Graça infinita
Graça infinita (Infinite jest), David Foster Wallace. Tradução de Caetano W. Galindo. 1136 páginas. Editora Companhia das Letras, São Paulo, 2014.
Leitores de ficção científica são muito desconfiados. Traumatizados por décadas de críticas nada favoráveis a suas histórias preferidas, aprenderam a desconfiar de toda e qualquer opinião, especialmente quando vem do mainstream e ainda mais quando é unânime. Os leitores de fc têm na ponta da língua uma ampla coleção de frases feitas usadas pelos críticos, entre as quais se destaca a máxima "Se é bom, certamente não é ficção científica". O trauma é tão intenso que, quando a crítica é favorável, a desconfiança é ainda maior. Porque, afinal, quem nunca entendeu absolutamente nada de fc certamente deve estar enganado. Fica valendo outro velho jargão: "Não li e não gostei" e o preconceito pela crítica acaba por tornar os fãs de fc igualmente preconceituosos. Deve ser por isso que Graça infinita, obra monumental do escritor novaiorquino David Foster Wallace (1962-2008) extremamente bem avaliada pela crítica, não despertou entusiasmo no meio dos fãs de fc quando de sua publicação no Brasil, ainda em 2014 pela Editora Companhia das Letras. O que é uma enorme e inaceitável injustiça porque, neste caso, as boas palavras da crítica em relação ao livro estão cobertas de razão. E o livro é mesmo ficção científica sem nenhuma sombra de dúvida. Mais do que isso: é muito provável que seja o melhor livro de fc já escrito. Mas aí já é o meu entusiasmo pessoal falando.
Graça infinita é um romance massivo de cerca de 600 mil palavras, publicado originalmente em 1996 nos EUA, considerado pela crítica americana como o último grande romance do século 20. Em termos de extensão, não é nenhuma novidade. Há dezenas de livros que têm essa dimensão e alguns são até maiores. Portanto, não é o tamanho do livro que conta aqui, embora ele seja ótimo também por isso. O que torna Graça infinita memorável é que se trata de uma literatura de alta octanagem, repleta de todo tipo de gadgets que a literatura pós-moderna já ousou aproveitar: citações, experiências formais, discursos descontrutivistas, solilóquios em fluxo de pensamento, linguagem não convencional, sexo, drogas, rock'n'roll e violência próprias da cultura popular deste início de século. Mas não só isso.
Há uma história em Graça infinita. Só não dá para saber com muita certeza quem é o protagonista porque a narrativa é de tal forma fragmentada e são tantos os personagens que algumas vezes parece que estamos lendo, de fato, uma coletânea de contos decapitados, passados todos no mesmo universo. Digo decapitados porque a maior parte dessas histórias não tem início e muitas delas também não têm fim.
De forma geral, o livro acompanha a vida dos três irmãos da família Incandenza: Orin, Hal e Mario. Orin, o mais velho, é atleta profissional, jogador de futebol americano com sérios problemas para dormir. Hal é um gênio viciado em maconha que estuda no ATE, colégio voltado à formação de jogadores de tênis de alto desempenho; e o caçula, Mario, é um adolescente mentalmente deficiente e com um defeito congênito (sua cabeça é desproporcional ao corpo). O pai, James Incandenza – chamado pelos filhos de "Sipróprio" –, também ele um gênio da tecnologia ótica, fundador do ETA e cineasta experimental com uma extensa filmografia, suicidou-se alguns anos antes, mas sua herança maldita ecoa fortemente na vida dos filhos e da esposa, que os meninos chamam de "Mães". A família Incandenza vive em Boston, num futuro impreciso no qual a contagem dos anos é patrocinada por grandes corporações (no caso, estamos em AFGD que, por extenso, significa Ano da Fralda Geriátrica Depend) e os países da América do Norte foram politicamente unificados na Organização das Nações da América do Norte – Onan, para os íntimos – que passa por uma situação de instabilidade política com diversas comunidades terroristas lutando pela separação, como os violentos grupos canadenses Assassinos Cadeirantes e Frente de Libertação de Quebec, entre outros. Os grupos disputam a posse de uma arma chamada por eles de O Entretenimento, que nada mais é que uma das diversas versões de Graça infinita, filme produzido por James Incandenza que tem um nível de mesmerização tão potente que leva seus expectadores à morte. Cópias remetidas anonimamente já causaram baixas em cargos importantes do governo e uma exibição em rede do filme – essa sociedade futura é tão viciada em audiovisuais quanto a nossa – pode ser o ato que permitirá resultados efetivos na luta separatista. A curiosa apresentação gráfica do livro, que não tem nada escrito em sua capa, remete justamente ao cartucho de O Entretenimento.
Wallace elabora o cenário desse futuro com uma riqueza de detalhes que beira a de uma enciclopédia e torna o improvável extremamente convincente. Para coroar o capricho do autor, o livro contém um caderno de mais de 130 páginas, em corpo reduzido, com notas tão bem elaboradas que são peças literárias em si, como por exemplo o verbete que detalha a filmografia de James Incandenza, divertidíssima para quem aprecia boa ficção científica.
A obra de Wallace – que se suicidou em 2008 – dialoga com as de outros dois autores associados à literatura pós-moderna: Thomas Pynchon e China Miéville, que também trafegam pela ficção científica e o experimentalismo formal. A diferença entre eles é que Graça Infinita não é uma obra hermética e cifrada. Apesar das ousadas propostas formais e estilísticas, o texto é claro e acessível, focado em dramas explicitamente humanos: não é necessário ser um iniciado em fc ou em literatura pós-moderna para entender o que o autor diz. Talvez seja isso que tenha deixado os fãs de fc tão aborrecidos... azar deles.
Leitores de ficção científica são muito desconfiados. Traumatizados por décadas de críticas nada favoráveis a suas histórias preferidas, aprenderam a desconfiar de toda e qualquer opinião, especialmente quando vem do mainstream e ainda mais quando é unânime. Os leitores de fc têm na ponta da língua uma ampla coleção de frases feitas usadas pelos críticos, entre as quais se destaca a máxima "Se é bom, certamente não é ficção científica". O trauma é tão intenso que, quando a crítica é favorável, a desconfiança é ainda maior. Porque, afinal, quem nunca entendeu absolutamente nada de fc certamente deve estar enganado. Fica valendo outro velho jargão: "Não li e não gostei" e o preconceito pela crítica acaba por tornar os fãs de fc igualmente preconceituosos. Deve ser por isso que Graça infinita, obra monumental do escritor novaiorquino David Foster Wallace (1962-2008) extremamente bem avaliada pela crítica, não despertou entusiasmo no meio dos fãs de fc quando de sua publicação no Brasil, ainda em 2014 pela Editora Companhia das Letras. O que é uma enorme e inaceitável injustiça porque, neste caso, as boas palavras da crítica em relação ao livro estão cobertas de razão. E o livro é mesmo ficção científica sem nenhuma sombra de dúvida. Mais do que isso: é muito provável que seja o melhor livro de fc já escrito. Mas aí já é o meu entusiasmo pessoal falando.
Graça infinita é um romance massivo de cerca de 600 mil palavras, publicado originalmente em 1996 nos EUA, considerado pela crítica americana como o último grande romance do século 20. Em termos de extensão, não é nenhuma novidade. Há dezenas de livros que têm essa dimensão e alguns são até maiores. Portanto, não é o tamanho do livro que conta aqui, embora ele seja ótimo também por isso. O que torna Graça infinita memorável é que se trata de uma literatura de alta octanagem, repleta de todo tipo de gadgets que a literatura pós-moderna já ousou aproveitar: citações, experiências formais, discursos descontrutivistas, solilóquios em fluxo de pensamento, linguagem não convencional, sexo, drogas, rock'n'roll e violência próprias da cultura popular deste início de século. Mas não só isso.
Há uma história em Graça infinita. Só não dá para saber com muita certeza quem é o protagonista porque a narrativa é de tal forma fragmentada e são tantos os personagens que algumas vezes parece que estamos lendo, de fato, uma coletânea de contos decapitados, passados todos no mesmo universo. Digo decapitados porque a maior parte dessas histórias não tem início e muitas delas também não têm fim.
De forma geral, o livro acompanha a vida dos três irmãos da família Incandenza: Orin, Hal e Mario. Orin, o mais velho, é atleta profissional, jogador de futebol americano com sérios problemas para dormir. Hal é um gênio viciado em maconha que estuda no ATE, colégio voltado à formação de jogadores de tênis de alto desempenho; e o caçula, Mario, é um adolescente mentalmente deficiente e com um defeito congênito (sua cabeça é desproporcional ao corpo). O pai, James Incandenza – chamado pelos filhos de "Sipróprio" –, também ele um gênio da tecnologia ótica, fundador do ETA e cineasta experimental com uma extensa filmografia, suicidou-se alguns anos antes, mas sua herança maldita ecoa fortemente na vida dos filhos e da esposa, que os meninos chamam de "Mães". A família Incandenza vive em Boston, num futuro impreciso no qual a contagem dos anos é patrocinada por grandes corporações (no caso, estamos em AFGD que, por extenso, significa Ano da Fralda Geriátrica Depend) e os países da América do Norte foram politicamente unificados na Organização das Nações da América do Norte – Onan, para os íntimos – que passa por uma situação de instabilidade política com diversas comunidades terroristas lutando pela separação, como os violentos grupos canadenses Assassinos Cadeirantes e Frente de Libertação de Quebec, entre outros. Os grupos disputam a posse de uma arma chamada por eles de O Entretenimento, que nada mais é que uma das diversas versões de Graça infinita, filme produzido por James Incandenza que tem um nível de mesmerização tão potente que leva seus expectadores à morte. Cópias remetidas anonimamente já causaram baixas em cargos importantes do governo e uma exibição em rede do filme – essa sociedade futura é tão viciada em audiovisuais quanto a nossa – pode ser o ato que permitirá resultados efetivos na luta separatista. A curiosa apresentação gráfica do livro, que não tem nada escrito em sua capa, remete justamente ao cartucho de O Entretenimento.
Wallace elabora o cenário desse futuro com uma riqueza de detalhes que beira a de uma enciclopédia e torna o improvável extremamente convincente. Para coroar o capricho do autor, o livro contém um caderno de mais de 130 páginas, em corpo reduzido, com notas tão bem elaboradas que são peças literárias em si, como por exemplo o verbete que detalha a filmografia de James Incandenza, divertidíssima para quem aprecia boa ficção científica.
A obra de Wallace – que se suicidou em 2008 – dialoga com as de outros dois autores associados à literatura pós-moderna: Thomas Pynchon e China Miéville, que também trafegam pela ficção científica e o experimentalismo formal. A diferença entre eles é que Graça Infinita não é uma obra hermética e cifrada. Apesar das ousadas propostas formais e estilísticas, o texto é claro e acessível, focado em dramas explicitamente humanos: não é necessário ser um iniciado em fc ou em literatura pós-moderna para entender o que o autor diz. Talvez seja isso que tenha deixado os fãs de fc tão aborrecidos... azar deles.
Bang! 18
Está disponível para download gratuito a versão digital da revista portuguesa Bang! número 18, publicação da editora Saída de Emergência totalmente dedicada à literatura fantástica.
Muito bem produzida e editada por Safaa Dib, a revista tem 88 páginas em cores fartamente ilustradas, e traz ficções de Rosa Maria Salazar e Emanuel R. Marques, quadrinhos de Estevão Ribeiro, artigos de Eric Novello, Jorge Palinhos, António Monteiro, João Lameiras, Pedro Piedade Marques, Pedro Lisboa, Diana Sousa, Eduarda Barata, Randall Munroe e Carl Bialik, sobre diversos livros publicados em Portugal, muitos deles com edição brasileira. Também há uma divertida seção na qual diversos ilustradores dão suas versões para as figuras clássicas do terror e um portfólio do ilustrador português Tiago Pimentel.
Para baixar uma cópia é necessário estar logado no saite da editora e o cadastro também é gratuito. As edições anteriores também estão todas disponíveis. Vale muito a pena.
Muito bem produzida e editada por Safaa Dib, a revista tem 88 páginas em cores fartamente ilustradas, e traz ficções de Rosa Maria Salazar e Emanuel R. Marques, quadrinhos de Estevão Ribeiro, artigos de Eric Novello, Jorge Palinhos, António Monteiro, João Lameiras, Pedro Piedade Marques, Pedro Lisboa, Diana Sousa, Eduarda Barata, Randall Munroe e Carl Bialik, sobre diversos livros publicados em Portugal, muitos deles com edição brasileira. Também há uma divertida seção na qual diversos ilustradores dão suas versões para as figuras clássicas do terror e um portfólio do ilustrador português Tiago Pimentel.
Para baixar uma cópia é necessário estar logado no saite da editora e o cadastro também é gratuito. As edições anteriores também estão todas disponíveis. Vale muito a pena.
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Escuridão total sem estrelas, Stephen King
Escuridão total sem estrelas (Full dark, no stars), Stephen King. Tradução de Viviane Diniz. 390 páginas. Editora Objetiva, selo Suma das Letras, Rio de Janeiro, 2015.
A dúvida mais frequente entre o público leigo sobre o gênero do terror é se há alguma diferença entre "terror" e "horror". É provável que os dicionários considerem os dois termos como sinônimos e é isso mesmo. Contudo, os especialistas aproveitaram a diferença de grafia para definir "terror" como o nome do gênero de forma geral, que inclui todos os tipos de histórias que aterrorizam independente do agente do medo, enquanto que "horror" define especificamente aquelas cuja emoção emana de um vetor sobrenatural. Porque, é claro, existem muitas histórias em que o monstro não vem da mitologia, de outra dimensão ou de outro planeta: são pessoas normais, homens e mulheres que, como vemos todos os dias no noticiário policial, podem ser tão maldosos e degenerados quanto qualquer monstro de fantasia.
Dessa forma, seriam "de terror" as histórias de psicopatas, assassinos seriais, violência doméstica, perversões, tragédias fatais, canibalismo, etc, e como "de horror" as histórias de fantasmas, vampiros, lobisomens, alienígenas, zumbis etc que, geralmente, têm níveis de leitura mais ricos no campo metafórico.
Os livros assinados pelo escritor norte americano Stephen King são usualmente associados ao horror. E muitos deles são de fato vinculados ao sobrenatural. Contudo, King dá a todos eles um aspecto naturalista tão palpável que facilmente somos levados a questionar se estão efetivamente instalados nesse campo. Histórias como O iluminado (The shining), um de seus maiores sucessos, ficam na fronteira dessa definição, contemplando tanto a leitura fantástica quanto a naturalista, conforme a interpretação do leitor.
É o que acontece com as quatro histórias do autor que compõe a coletânea Escuridão total sem estrelas, publicada originalmente em 2010 nos EUA e traduzida em 2015 no Brasil pelo selo Suma das Letras da editora Objetiva. São histórias em que o maravilhoso se confunde com o psicológico e tudo o que parece sobrenatural pode ser apenas fruto da imaginação perturbada do protagonista.
A primeira história, "1922", é a mais longa e pesada do conjunto. Conta como uma família comum do meio-oeste americano, que sempre viveu mais ou menos bem, desmorona por quase nada, embora pareça quase tudo a princípio. Um fazendeiro, pressionado pela esposa que pretende vender as terras que herdou para morar na cidade grande, temeroso por perder suas próprias terras, planeja e executa, com a concordância do filho adolescente, o assassinato da mulher. Todos os cuidados que toma para não ser incriminado dão certo, mas ele não contava com a imaturidade do filho que engravida a namorada a quem ama profundamente e que, em tese, foi o argumento usado pelo pai para convencer o filho a ser seu cúmplice; e alguém que matou a própria mãe para não ser afastado de sua amada certamente não terá escrúpulos de passar por cima de qualquer outra dificuldade. O narrativa tem uma estrutura recorrente na obra do autor, como visto por exemplo no conhecido romance O cemitério (Pet sematary), em que uma decisão equivocada do protagonista, ainda que decorrente de circunstâncias com as quais o leitor compactua, desencadeia uma série de eventos que, passo a passo, levam-no à perdição completa.
O segundo conto é "Gigante do volante", que tem um interessante viés metaliguístico. Autora de uma popular série de livros de detetive, ao retornar de uma palestra numa cidadezinha próxima de onde mora, é atacada e estuprada por um maníaco – o Gigante do Volante do título – que acredita que a matou. Mas ela sobrevive e inicia uma cruzada de justiça para terminar de vez com a onda de violência que a vitimou. Mas, para isso, terá de se tornar ela mesma um monstro.
A seguir, encontramos o curioso "Extensão justa", um conto de humor negro que também aborda a questão da justiça. Um homem com câncer terminal encontra-se com um estranho vendedor ambulante que lhe oferece uma barganha com o que ele chama de "extensões" numa prosaica e bem pouco séria barraquinha de rua. No caso, o homem está interessado em estender sua vida um pouco mais, mas o vendedor exige, além de uma comissão de 10% de todos os seus ganhos futuros depositados uma vez ao ano numa conta no exterior, que indique alguém que irá receber o refluxo do mal que será tirado dele. Este aparenta ser o texto mais sobrenatural do livro mas, ainda aqui, podemos fazer uma leitura realista em que a aparição bizarra não seja real e esteja apenas na imaginação desesperada do personagem. Mas os resultados parecem indicar um pouco mais do que isso.
Fechando o volume, "Um bom casamento" conta como as coisas se encaminham entre um casal que tem o que parece ser um casamento perfeito há mais de 25 anos – financeiramente próspero e com filhos adultos e bem criados – quando a esposa encontra, por acidente, provas de que seu marido talvez seja um famigerado psicopata que assassinou diversas mulheres e crianças ao longo das últimas décadas.
Como acontece nos livros deste mestre do horror, os contos fazem inúmeras citações da cultura pop, como canções, livros, filmes de cinema e televisão, que cria um ambiente confiável e realista, e, em alguns casos, são fundamentais para se compreender o enredo. Nada está ali por acaso e, como nas mais elaboradas histórias de mistério, todo detalhe será aproveitado no final.
King diz no posfácio que este volume, ganhador dos prêmios Bram Stoker 2010 e British Fantasy 2011 de melhor coletânea: "Tentei dar o meu melhor em Escuridão total sem estrelas para mostrar o que as pessoas poderiam fazer, e como poderiam se comportar, sob certas circunstâncias terríveis", e é justamente esta a costura que alinhava estas quatro trabalhos tão diferentes entre si.
O que nos assusta de verdade em Escuridão total sem estrelas não é a violência e as mortes, sempre descritas com riqueza de detalhes dignas de uma imagem em alta definição, mas sim o fato de que, sob a mesma pressão, talvez nós também tenhamos talento para realizar coisas igualmente terríveis. O inferno não é o outro; está dentro de nós pronto para emergir: é só ter o motivo certo. Como diz King ao final de seu posfácio: "...acredito que a maioria das pessoas é essencialmente boa. Sei que eu sou. É quanto a você que não tenho tanta certeza". Touchê!
A dúvida mais frequente entre o público leigo sobre o gênero do terror é se há alguma diferença entre "terror" e "horror". É provável que os dicionários considerem os dois termos como sinônimos e é isso mesmo. Contudo, os especialistas aproveitaram a diferença de grafia para definir "terror" como o nome do gênero de forma geral, que inclui todos os tipos de histórias que aterrorizam independente do agente do medo, enquanto que "horror" define especificamente aquelas cuja emoção emana de um vetor sobrenatural. Porque, é claro, existem muitas histórias em que o monstro não vem da mitologia, de outra dimensão ou de outro planeta: são pessoas normais, homens e mulheres que, como vemos todos os dias no noticiário policial, podem ser tão maldosos e degenerados quanto qualquer monstro de fantasia.
Dessa forma, seriam "de terror" as histórias de psicopatas, assassinos seriais, violência doméstica, perversões, tragédias fatais, canibalismo, etc, e como "de horror" as histórias de fantasmas, vampiros, lobisomens, alienígenas, zumbis etc que, geralmente, têm níveis de leitura mais ricos no campo metafórico.
Os livros assinados pelo escritor norte americano Stephen King são usualmente associados ao horror. E muitos deles são de fato vinculados ao sobrenatural. Contudo, King dá a todos eles um aspecto naturalista tão palpável que facilmente somos levados a questionar se estão efetivamente instalados nesse campo. Histórias como O iluminado (The shining), um de seus maiores sucessos, ficam na fronteira dessa definição, contemplando tanto a leitura fantástica quanto a naturalista, conforme a interpretação do leitor.
É o que acontece com as quatro histórias do autor que compõe a coletânea Escuridão total sem estrelas, publicada originalmente em 2010 nos EUA e traduzida em 2015 no Brasil pelo selo Suma das Letras da editora Objetiva. São histórias em que o maravilhoso se confunde com o psicológico e tudo o que parece sobrenatural pode ser apenas fruto da imaginação perturbada do protagonista.
A primeira história, "1922", é a mais longa e pesada do conjunto. Conta como uma família comum do meio-oeste americano, que sempre viveu mais ou menos bem, desmorona por quase nada, embora pareça quase tudo a princípio. Um fazendeiro, pressionado pela esposa que pretende vender as terras que herdou para morar na cidade grande, temeroso por perder suas próprias terras, planeja e executa, com a concordância do filho adolescente, o assassinato da mulher. Todos os cuidados que toma para não ser incriminado dão certo, mas ele não contava com a imaturidade do filho que engravida a namorada a quem ama profundamente e que, em tese, foi o argumento usado pelo pai para convencer o filho a ser seu cúmplice; e alguém que matou a própria mãe para não ser afastado de sua amada certamente não terá escrúpulos de passar por cima de qualquer outra dificuldade. O narrativa tem uma estrutura recorrente na obra do autor, como visto por exemplo no conhecido romance O cemitério (Pet sematary), em que uma decisão equivocada do protagonista, ainda que decorrente de circunstâncias com as quais o leitor compactua, desencadeia uma série de eventos que, passo a passo, levam-no à perdição completa.
O segundo conto é "Gigante do volante", que tem um interessante viés metaliguístico. Autora de uma popular série de livros de detetive, ao retornar de uma palestra numa cidadezinha próxima de onde mora, é atacada e estuprada por um maníaco – o Gigante do Volante do título – que acredita que a matou. Mas ela sobrevive e inicia uma cruzada de justiça para terminar de vez com a onda de violência que a vitimou. Mas, para isso, terá de se tornar ela mesma um monstro.
A seguir, encontramos o curioso "Extensão justa", um conto de humor negro que também aborda a questão da justiça. Um homem com câncer terminal encontra-se com um estranho vendedor ambulante que lhe oferece uma barganha com o que ele chama de "extensões" numa prosaica e bem pouco séria barraquinha de rua. No caso, o homem está interessado em estender sua vida um pouco mais, mas o vendedor exige, além de uma comissão de 10% de todos os seus ganhos futuros depositados uma vez ao ano numa conta no exterior, que indique alguém que irá receber o refluxo do mal que será tirado dele. Este aparenta ser o texto mais sobrenatural do livro mas, ainda aqui, podemos fazer uma leitura realista em que a aparição bizarra não seja real e esteja apenas na imaginação desesperada do personagem. Mas os resultados parecem indicar um pouco mais do que isso.
Fechando o volume, "Um bom casamento" conta como as coisas se encaminham entre um casal que tem o que parece ser um casamento perfeito há mais de 25 anos – financeiramente próspero e com filhos adultos e bem criados – quando a esposa encontra, por acidente, provas de que seu marido talvez seja um famigerado psicopata que assassinou diversas mulheres e crianças ao longo das últimas décadas.
Como acontece nos livros deste mestre do horror, os contos fazem inúmeras citações da cultura pop, como canções, livros, filmes de cinema e televisão, que cria um ambiente confiável e realista, e, em alguns casos, são fundamentais para se compreender o enredo. Nada está ali por acaso e, como nas mais elaboradas histórias de mistério, todo detalhe será aproveitado no final.
King diz no posfácio que este volume, ganhador dos prêmios Bram Stoker 2010 e British Fantasy 2011 de melhor coletânea: "Tentei dar o meu melhor em Escuridão total sem estrelas para mostrar o que as pessoas poderiam fazer, e como poderiam se comportar, sob certas circunstâncias terríveis", e é justamente esta a costura que alinhava estas quatro trabalhos tão diferentes entre si.
O que nos assusta de verdade em Escuridão total sem estrelas não é a violência e as mortes, sempre descritas com riqueza de detalhes dignas de uma imagem em alta definição, mas sim o fato de que, sob a mesma pressão, talvez nós também tenhamos talento para realizar coisas igualmente terríveis. O inferno não é o outro; está dentro de nós pronto para emergir: é só ter o motivo certo. Como diz King ao final de seu posfácio: "...acredito que a maioria das pessoas é essencialmente boa. Sei que eu sou. É quanto a você que não tenho tanta certeza". Touchê!
Astaroth 64
Depois de um lapso de quase sete anos, volta ser publicado o fanzine de cinema fantástico Astaroth, editado por Renato Rosatti.
O editor, que também publica os fanzines Juvenatrix e Boca do Inferno, além do blogue Infernotícias, confidenciou que sentia falta de fazer um fanzine simples e descomprometido, daí a decisão em retomar o antigo título. A ideia é reapresentar artigos do período em que seus fanzines eram publicados em papel com tiragens muito pequenas, que poucos tiveram acesso.
Bem mais simples que na série anterior, o novo Astaroth tem quatro páginas no formato A4 e traz um único e longo artigo sobre o remake de O planeta dos macacos, de 2001. A versão impressa é distribuída gratuitamente em eventos, e a digital pode ser solicitada pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.
O editor, que também publica os fanzines Juvenatrix e Boca do Inferno, além do blogue Infernotícias, confidenciou que sentia falta de fazer um fanzine simples e descomprometido, daí a decisão em retomar o antigo título. A ideia é reapresentar artigos do período em que seus fanzines eram publicados em papel com tiragens muito pequenas, que poucos tiveram acesso.
Bem mais simples que na série anterior, o novo Astaroth tem quatro páginas no formato A4 e traz um único e longo artigo sobre o remake de O planeta dos macacos, de 2001. A versão impressa é distribuída gratuitamente em eventos, e a digital pode ser solicitada pelo email renatorosatti@yahoo.com.br.
Megalon 67
Está disponível para download gratuito o número 67 do fanzine de ficção científica e horror Megalon, editado por Marcello Simão Branco e publicado originalmente em dezembro de 2002.
A edição tem 30 páginas e traz ficções de Rogério Amaral de Vasconcellos, Miguel Carqueija e Simone Saueressig; uma seção de entrevistas especiais com o autor gaúcho Max Mallman, com os quadrinhistas Alvimar Pires dos Anjos e André Diniz e com o escritor americano James Rittenhouse; uma resenha detalhada da cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2002, além das seções fixas "Diário do fandom" e "Publicações recebidas". A capa traz um desenho de Mozart Couto.
Como parte da série série Pulp Brasil, o editor disponibiliza a capa da revista Isaac Asimov Magazine nº25, publicada em janeiro de 1993.
A edição tem 30 páginas e traz ficções de Rogério Amaral de Vasconcellos, Miguel Carqueija e Simone Saueressig; uma seção de entrevistas especiais com o autor gaúcho Max Mallman, com os quadrinhistas Alvimar Pires dos Anjos e André Diniz e com o escritor americano James Rittenhouse; uma resenha detalhada da cerimônia de entrega do Prêmio Argos 2002, além das seções fixas "Diário do fandom" e "Publicações recebidas". A capa traz um desenho de Mozart Couto.
Como parte da série série Pulp Brasil, o editor disponibiliza a capa da revista Isaac Asimov Magazine nº25, publicada em janeiro de 1993.
Conexão Literatura 2
Está circulando o segundo número da revista eletrônica Conexão Literatura, dedicada ao universo da literatura fantástica. Esta edição homenageia Edgar Allan Poe (1809-1849), ilustre escritor americano que teve uma vida difícil e morreu na miséria, mas que é hoje respeitado e muitos reputam como pioneiro em todos os gêneros da literatura especulativa.
A publicação tem 61 páginas e traz ficções de Ricardo de Lohem Dania Pedroza, Miriam Santiago e Daniel Borba, artigos de Miguel Carqueija, Dennis Donato Piasecki, Renato A. Azevedo, Angelo Miranda, Dione Souto Rosa e Adriana Chaves, e entrevistas com Luis Maldonalle, Marcos Mioni, Shirley Couto, Lorena Rocque, Jean Carlos de Andrade e Sérgio Vencio.
Conexão Literatura pode ser baixada gratuitamente aqui.
A publicação tem 61 páginas e traz ficções de Ricardo de Lohem Dania Pedroza, Miriam Santiago e Daniel Borba, artigos de Miguel Carqueija, Dennis Donato Piasecki, Renato A. Azevedo, Angelo Miranda, Dione Souto Rosa e Adriana Chaves, e entrevistas com Luis Maldonalle, Marcos Mioni, Shirley Couto, Lorena Rocque, Jean Carlos de Andrade e Sérgio Vencio.
Conexão Literatura pode ser baixada gratuitamente aqui.