Enquanto preparamos a nova edição do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, eu e Marcello Simão Branco participamos de mais uma edição do programa Perfil Literário, apresentado por Oscar D'Ambrósio na Rádio Unesp.
Falamos, desta vez, sobre a edição referente ao ano de 2012, publicada em setembro último pela Devir Livraria. Comentamos os destaques e antecipamos algumas das atrações da edição de 2013, que deve ser publicada em alguns meses.
O saite do programa está com uma nova e elegante interface, com o programa disponível em áudio e vídeo.
O vídeo da entrevista anterior, sobre o Anuário 2011, também pode ser conferido aqui.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Turma da tribo
Todo quadrinhista brasileiro tem um sonho. Alguns sonham em criar um super-herói de sucesso, que ganhe desenhos animados na tv e filmes no cinema. Outros sonham em atingir o estrelato internacional com novelas gráficas para adultos, com muita ação e violência. Outros ainda desejam ser os herdeiros de Walt Disney, administrando miríades de personagens infantis e parques temáticos.
Mas há um grupo bem menor, do qual eu pessoalmente faço parte, que sempre quis criar um Asterix brasileiro, com aventuras e personagens que amalgamem o jeito brasileiro de ser, da mesma forma que Asterix representa a cultura francesa. Não é uma tarefa fácil, pois todos os temas que lembram o Brasil parecem antipatizar imediatamente os críticos, que costumam acusar de ser conceitos estereotipados. A recorrência e agressividade dessas críticas têm inibido muitos autores, que evitam os temas mais imediatos, como gaúchos, cangaceiros, carnaval, futebol e, principalmente, povos nativos.
Nada disso desmotivou Gian Danton, roteirista várias vezes premiados por suas histórias, que acaba de publicar o primeiro número da revista Turma da tribo, publicado com recursos da Secretaria de Cultura do Governo do Amapá.
O capricho do trabalho é patente no traço do ilustrador Ricardo Manhães, artista experiente no mercado europeu que deu uma interpretação elegante à divertida história dos índios da aldeia dos cunani, localizada numa reserva florestal, surpreendidos por um desmatamento clandestino próximo, um problema que está na ordem do dia em muitas regiões deste País. Os habitantes da aldeia são muito variados e divertidos. Um deles, por exemplo, é um gênio que sabe projetar e construir traquitanas de alta tecnologia. Além disso, estão também presentes seres da mitologia nativa, que ajudam os heróis em suas dificuldades.
Devido aos desenhos em linha clara e algumas soluções adotadas, Turma da tribo realmente guarda muita relação com o modo europeu de fazer quadrinhos, e não é por acaso que o primeiro e o último quadrinhos remetem, sem medo de ser feliz, ao famoso baixinho gaulês – o ilustrador efetivamente confessa que prestou homenagens a Urdezo, André Franquin e Hergé.
A se lamentar apenas o formato pequeno – o estilo sugere o de álbum – o que não deixa de ser uma vantagem pois, dessa forma, a revista deve ter obtido uma tiragem maior e uma distribuição muito mais ampla. A história tem apenas 22 páginas e, além dela, a edição apresenta duas páginas com o processo de produção da história.
Mais informações sobre Turma da tribo na fanpage do projeto e no blog de Gian Danton, aqui.
Mas há um grupo bem menor, do qual eu pessoalmente faço parte, que sempre quis criar um Asterix brasileiro, com aventuras e personagens que amalgamem o jeito brasileiro de ser, da mesma forma que Asterix representa a cultura francesa. Não é uma tarefa fácil, pois todos os temas que lembram o Brasil parecem antipatizar imediatamente os críticos, que costumam acusar de ser conceitos estereotipados. A recorrência e agressividade dessas críticas têm inibido muitos autores, que evitam os temas mais imediatos, como gaúchos, cangaceiros, carnaval, futebol e, principalmente, povos nativos.
Nada disso desmotivou Gian Danton, roteirista várias vezes premiados por suas histórias, que acaba de publicar o primeiro número da revista Turma da tribo, publicado com recursos da Secretaria de Cultura do Governo do Amapá.
O capricho do trabalho é patente no traço do ilustrador Ricardo Manhães, artista experiente no mercado europeu que deu uma interpretação elegante à divertida história dos índios da aldeia dos cunani, localizada numa reserva florestal, surpreendidos por um desmatamento clandestino próximo, um problema que está na ordem do dia em muitas regiões deste País. Os habitantes da aldeia são muito variados e divertidos. Um deles, por exemplo, é um gênio que sabe projetar e construir traquitanas de alta tecnologia. Além disso, estão também presentes seres da mitologia nativa, que ajudam os heróis em suas dificuldades.
Devido aos desenhos em linha clara e algumas soluções adotadas, Turma da tribo realmente guarda muita relação com o modo europeu de fazer quadrinhos, e não é por acaso que o primeiro e o último quadrinhos remetem, sem medo de ser feliz, ao famoso baixinho gaulês – o ilustrador efetivamente confessa que prestou homenagens a Urdezo, André Franquin e Hergé.
A se lamentar apenas o formato pequeno – o estilo sugere o de álbum – o que não deixa de ser uma vantagem pois, dessa forma, a revista deve ter obtido uma tiragem maior e uma distribuição muito mais ampla. A história tem apenas 22 páginas e, além dela, a edição apresenta duas páginas com o processo de produção da história.
Mais informações sobre Turma da tribo na fanpage do projeto e no blog de Gian Danton, aqui.
Prisioneiros do passado
Novela de ficção científica escrita a quatro mãos por Miguel Carqueija e Ronald Rahal, Prisoneiros do passado discute as complicadas relações familiares que, mesmo num futuro distante, não mudaram absolutamente nada.
Num cenário de degradação ambiental, um casal em crise disputa a autoridade familiar enquanto procura pela filha desparecida depois de um desastrado experimento científico.
O romance tem prefácio assinado pelo jovem escritor de ficção científica Ricardo Guilherme dos Santos e está disponível em arquivo de texto para download gratuito no saite Recanto das Letras, aqui.
Num cenário de degradação ambiental, um casal em crise disputa a autoridade familiar enquanto procura pela filha desparecida depois de um desastrado experimento científico.
O romance tem prefácio assinado pelo jovem escritor de ficção científica Ricardo Guilherme dos Santos e está disponível em arquivo de texto para download gratuito no saite Recanto das Letras, aqui.
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Resenha: Ditadura do prazer
Desde que a geração chamada como Segunda Onda da ficção científica brasileira chegou às universidades, temos conhecido um bom número de trabalhos acadêmicos sobre o gênero. Até o final do século 20, eram poucos os casos e ainda mais raros os que chegavam a ser publicados em maior tiragem, por isso a grande importância que os estudiosos da literatura de gênero dão aos ensaios Introdução ao estudo da "science-fiction", de André Carneiro, Ficção científica, de Gilberto Schoereder, Ficção científica: Ficção, ciência ou uma épica de época, de Raul Fiker, e "Ficção científica no Brasil: Um planeta quase desabitado", de Fausto Cunha, citados em praticamente todos os estudos sérios sobre o gênero no Brasil.
Ainda que se possa levantar mais alguns bons títulos na bibliografia de referência do século passado, a maior parte dela era mesmo traduzida. O próprio ensaio de Cunha, citado acima, foi prefácio para um livro traduzido: No mundo da ficção científica, de L. David Allen.
Até a virada do século, a principal plataforma de discussão estava estruturada nos fanzines, que dedicavam muito espaço para abrigar ensaios e debates. Algumas dessas discussões realmente impactaram a produção nacional, mas praticamente não saíram dos muros do fandom.
Essa mudança de paradigma para os estudos de não-ficção no Brasil é de todo bem vinda, pois está finalmente ampliando o alcance do tema a pesquisadores de outras áreas e construindo uma bibliografia de referência que leva em conta o material produzido no País e o impacto que ela causa em nossa sociedade, numa discussão em primeira-mão. Há que se festejar também a variedade dos temas de pesquisa, que têm avançado para além de estudos genéricos, definindo recortes interessantes que abrem janelas para discussões ainda mais especializadas. Este é o caso de Ditadura do prazer: Sobre ficção científica e utopia, primeiro livro de Ramiro Giroldo, Doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo e professor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, que lhe publicou o livro.
O autor explica, na introdução do ensaio, que se trata de um livro "calcado na dissertação de mestrado 'A ditadura do prazer: Ficção científica e literatura utópica em Amorquia, de André Carneiro', defendida em 2008 no Programa de Pós-Gradução (DLE-CCHS/UFMS) – Mestrado em Estudos de Linguagens", trabalho este que foi bastante comentado a época.
O livro está dividido em três partes: "Sobre ficção cientifica", "Sobre utopia" e "A ditadura de prazer". Na primeira parte, o autor levanta as origens do gênero e da expressão science fiction, creditada ao editor norte-americano Hugo Gernsback, bem como o termo abrasileirado e concensualizado, 'ficção científica'. Ainda hoje se discute a validade e abrangência do termo e não são poucos os que não gostam dele – tanto lá como cá –, mas nenhum outro se estabeleceu tão solidamente no mercado editorial e no imaginários dos leitores.
Giroldo evoca os estudos de Darko Suvin, acadêmico de origem croata, professor da McGill University de Montreal, que no ensaio Pour une poétique de la science fiction tem uma forma bastante técnica de definir o alcance do termo, baseado nos aspectos cognitivo e não-cognitivo da questão. Também invoca o conceito freudiano de unheimlich (algo como 'estranhamento') que, articulado às proposições de Zuvin, servirá de linha mestra à análise de Giroldo sobre o tema principal do seu ensaio: a utopia.
Na segunda parte, o autor busca por Tomas More e seu trabalho seminal, Utopia, amplamente estudada por diversos pesquisadores, para identificar seus aspectos originais. Quase sempre, ouvimos dizer que "utopia" significa "lugar nenhum" (ou-topos), mas Giroldo comenta que também pode ser "lugar bom" (eu-topos), o que já é suficiente para gerar uma ótima discussão.
Outro foco interessante do estudo de Giroldo é o confronto dos aspectos positivos e negativos das utopias de forma geral – como a falta de liberdade individual –, de forma que toda a utopia aciona imediatamente uma distopia, conforme o ponto de vista adotado, pois perfeição utópica implica na perda da liberdade e na formatação do ser humano num estado homogêneo sem expectativas. Para isso, Giroldo toma exemplos de importantes textos da ficção científica, como Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, Nós, de Ivanovitch Zamiatin, A cidade e as estrelas, de Arthur C. Clarke, Fazenda Modelo, de Chico Buarque, A adaptação do funcionário Ruam, de Mauro Chaves, Piscina livre e Amorquia, ambos de André Carneiro, além de citar diversas outras obras igualmente relevantes.
Discussões sobre as já citadas ideias de Freud e More voltam a pautar a terço final do ensaio, com uma discussão ainda mais aprofundada sobre a busca pelo desprazer, agregando ao estudo os livros de 1984, de George Orwell, Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, Os amantes do ano 3050, de Philip Jose Farmer, e a novela "Diário da nave perdida", de André Carneiro.
Em um texto breve, o autor faz suas considerações finais, colocando na balança as definições de bem e mal frente a visão da utopia e da distopia, que me fez pensar se existe de fato alguma fronteira entre a utopia, a distopia e a ficção científica como um todo, ideia esta que gerou um interessante debate com Giroldo pelas redes sociais. Sem dúvida, esta é uma discussão que está apenas começando.
Ainda que se possa levantar mais alguns bons títulos na bibliografia de referência do século passado, a maior parte dela era mesmo traduzida. O próprio ensaio de Cunha, citado acima, foi prefácio para um livro traduzido: No mundo da ficção científica, de L. David Allen.
Até a virada do século, a principal plataforma de discussão estava estruturada nos fanzines, que dedicavam muito espaço para abrigar ensaios e debates. Algumas dessas discussões realmente impactaram a produção nacional, mas praticamente não saíram dos muros do fandom.
Essa mudança de paradigma para os estudos de não-ficção no Brasil é de todo bem vinda, pois está finalmente ampliando o alcance do tema a pesquisadores de outras áreas e construindo uma bibliografia de referência que leva em conta o material produzido no País e o impacto que ela causa em nossa sociedade, numa discussão em primeira-mão. Há que se festejar também a variedade dos temas de pesquisa, que têm avançado para além de estudos genéricos, definindo recortes interessantes que abrem janelas para discussões ainda mais especializadas. Este é o caso de Ditadura do prazer: Sobre ficção científica e utopia, primeiro livro de Ramiro Giroldo, Doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo e professor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, que lhe publicou o livro.
O autor explica, na introdução do ensaio, que se trata de um livro "calcado na dissertação de mestrado 'A ditadura do prazer: Ficção científica e literatura utópica em Amorquia, de André Carneiro', defendida em 2008 no Programa de Pós-Gradução (DLE-CCHS/UFMS) – Mestrado em Estudos de Linguagens", trabalho este que foi bastante comentado a época.
O livro está dividido em três partes: "Sobre ficção cientifica", "Sobre utopia" e "A ditadura de prazer". Na primeira parte, o autor levanta as origens do gênero e da expressão science fiction, creditada ao editor norte-americano Hugo Gernsback, bem como o termo abrasileirado e concensualizado, 'ficção científica'. Ainda hoje se discute a validade e abrangência do termo e não são poucos os que não gostam dele – tanto lá como cá –, mas nenhum outro se estabeleceu tão solidamente no mercado editorial e no imaginários dos leitores.
Giroldo evoca os estudos de Darko Suvin, acadêmico de origem croata, professor da McGill University de Montreal, que no ensaio Pour une poétique de la science fiction tem uma forma bastante técnica de definir o alcance do termo, baseado nos aspectos cognitivo e não-cognitivo da questão. Também invoca o conceito freudiano de unheimlich (algo como 'estranhamento') que, articulado às proposições de Zuvin, servirá de linha mestra à análise de Giroldo sobre o tema principal do seu ensaio: a utopia.
Na segunda parte, o autor busca por Tomas More e seu trabalho seminal, Utopia, amplamente estudada por diversos pesquisadores, para identificar seus aspectos originais. Quase sempre, ouvimos dizer que "utopia" significa "lugar nenhum" (ou-topos), mas Giroldo comenta que também pode ser "lugar bom" (eu-topos), o que já é suficiente para gerar uma ótima discussão.
Outro foco interessante do estudo de Giroldo é o confronto dos aspectos positivos e negativos das utopias de forma geral – como a falta de liberdade individual –, de forma que toda a utopia aciona imediatamente uma distopia, conforme o ponto de vista adotado, pois perfeição utópica implica na perda da liberdade e na formatação do ser humano num estado homogêneo sem expectativas. Para isso, Giroldo toma exemplos de importantes textos da ficção científica, como Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, Nós, de Ivanovitch Zamiatin, A cidade e as estrelas, de Arthur C. Clarke, Fazenda Modelo, de Chico Buarque, A adaptação do funcionário Ruam, de Mauro Chaves, Piscina livre e Amorquia, ambos de André Carneiro, além de citar diversas outras obras igualmente relevantes.
Discussões sobre as já citadas ideias de Freud e More voltam a pautar a terço final do ensaio, com uma discussão ainda mais aprofundada sobre a busca pelo desprazer, agregando ao estudo os livros de 1984, de George Orwell, Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, Os amantes do ano 3050, de Philip Jose Farmer, e a novela "Diário da nave perdida", de André Carneiro.
Em um texto breve, o autor faz suas considerações finais, colocando na balança as definições de bem e mal frente a visão da utopia e da distopia, que me fez pensar se existe de fato alguma fronteira entre a utopia, a distopia e a ficção científica como um todo, ideia esta que gerou um interessante debate com Giroldo pelas redes sociais. Sem dúvida, esta é uma discussão que está apenas começando.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Prêmio Bang!
A editora Saída de Emergência, a partir de sua sede em Portugal, anunciou nas redes sociais a realização de um concurso de romances de ficção fantástica produzidos originalmente em língua portuguesa, cujo vencedor, além de um prêmio de três mil euros, terá a obra publicada em Portugal e também no Brasil, em um contrato de sete anos.
Os manuscritos precisam ter duzentas páginas no mínimo, podem ser de fantasia, ficção científica, história alternativa, horror, realismo mágico, entre outros gêneros, devem ser inéditos e não estarem comprometidos em outros concursos.
O regulamento, disponível aqui, não deixa claro se outros manuscritos bem classificados no concurso serão também publicados – é aventada a possibilidade de "menções honrosas" –, mas parece que somente o vencedor levará o prometido prêmio em dinheiro.
Algumas cláusulas soam um tanto rigorosas, além de que o foro do concurso é, para o caso de qualquer demanda, em Portugal. Mas, visto que não há um concurso similar exclusivo para a ficção de gênero no Brasil, é uma oportunidade que merece ser avaliada. Afinal de contas, o contrato fideliza apenas o livro; o autor terá toda a liberdade de seguir com sua carreira pessoal e publicar outros títulos onde e quando quiser.
As obras podem ser submetidas até o dia 6 de julho de 2014, e o resultado será divulgado no dia 15 de dezembro. O formulário de inscrição está disponível aqui.
Os manuscritos precisam ter duzentas páginas no mínimo, podem ser de fantasia, ficção científica, história alternativa, horror, realismo mágico, entre outros gêneros, devem ser inéditos e não estarem comprometidos em outros concursos.
O regulamento, disponível aqui, não deixa claro se outros manuscritos bem classificados no concurso serão também publicados – é aventada a possibilidade de "menções honrosas" –, mas parece que somente o vencedor levará o prometido prêmio em dinheiro.
Algumas cláusulas soam um tanto rigorosas, além de que o foro do concurso é, para o caso de qualquer demanda, em Portugal. Mas, visto que não há um concurso similar exclusivo para a ficção de gênero no Brasil, é uma oportunidade que merece ser avaliada. Afinal de contas, o contrato fideliza apenas o livro; o autor terá toda a liberdade de seguir com sua carreira pessoal e publicar outros títulos onde e quando quiser.
As obras podem ser submetidas até o dia 6 de julho de 2014, e o resultado será divulgado no dia 15 de dezembro. O formulário de inscrição está disponível aqui.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Megalon 38
Com 71 edições publicadas entre 1988 e 2004, o fanzine de ficção científica e horror Megalon voltou a circular em maio de 2012, graças ao empenho de seu editor, Marcello Simão Branco, que está disponibilizando gratuitamente versões digitais de toda a coleção, distribuída periodicamente na mesma sequência em que foi publicada. Há poucos dias, foi disponibilizado o Megalon 38, publicado originalmente em dezembro 1995, edição comemorativa ao sétimo aniversário da publicação, que veio com 52 páginas, uma nova apresentação gráfica e o mesmo contéudo de qualidade que, já naquela época, havia dado cinco Prêmios Nova ao fanzine.
A edição investe nos autores estrangeiros, com entrevistas com os americanos Orson Scott Card, Steven Fox, Tim Powers e o argentino Horacio Moreno. Também colaboram os brasileiros Jorge Luiz Calife, José Carlos Neves, Roberto de Sousa Causo e Braulio Tavares, com artigos ou conduzindo as entrevistas. A única ficção deste número é a parte final de "Neblina e a ninja", novela de Miguel Carqueija, apresentada em forma de seriado ao longa das últimas edições. A capa traz uma ilustração do americano Steven Fox.
Também está disponível um arquivo bônus com diversos documentos da época, ótimos para reconstituir o panorama daquele momento do fandom.
A edição investe nos autores estrangeiros, com entrevistas com os americanos Orson Scott Card, Steven Fox, Tim Powers e o argentino Horacio Moreno. Também colaboram os brasileiros Jorge Luiz Calife, José Carlos Neves, Roberto de Sousa Causo e Braulio Tavares, com artigos ou conduzindo as entrevistas. A única ficção deste número é a parte final de "Neblina e a ninja", novela de Miguel Carqueija, apresentada em forma de seriado ao longa das últimas edições. A capa traz uma ilustração do americano Steven Fox.
Também está disponível um arquivo bônus com diversos documentos da época, ótimos para reconstituir o panorama daquele momento do fandom.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Titãs atacam!
Dois meses depois do lançamento oficial, em novembro, chegou às bancas o primeiro número da revista Ataque dos titãs (Shingeki no kyojin), novela gráfica de ficção científica de autoria do jovem artista japonês Hajime Isayama, publicada no Brasil pela editora Panini.
A série faz um sucesso estrondoso no Japão – com mais de 25 milhões de exemplares vendidos – e chegou ao Brasil com grande expectativa, uma vez que a versão em desenho animado já circula pelos saites especializados e conta com inúmeros fãs no País. Tanto que a primeira tiragem foi esgotada apenas pelas reservas feitas nas gibiterias, daí o atraso nas bancas.
Lançada originalmente em 2006 em forma de seriado na revista Weekly Shōnen Magazine, Ataque dos titãs conta a história de Eren Jaeger, adolescente que sonha conhecer o mundo. Mas isso é impossível desde que, há cem anos, depois de um devastador ataque planetário de zumbis gigantes – os titãs – o que restou da humanidade é obrigado a viver em uma região cercada e subdividida por muralhas de cinquenta metros de altura, conduzido por um governo militar que treina os soldados em uma tecnologia baseada em espadas elétricas, ganchos e cabos de aço que os faz praticamente voar ao enfrentar os monstros, que só podem ser mortos se forem mutilados no seu único ponto vulnerável: a nuca.
Com o passar dos anos, a vida quase se normalizou dentro dos muros e, exceto pelo medo constante, o povo vive mais ou menos em paz numa condição de baixa tecnologia, uma vez que todos os recursos são destinados à manutenção das tropas e das muralhas, e ao conforto da classe dominante que vive nas áreas mais protegidas.
Até o dia em que surge um titã nunca visto, mais alto que os muros, e com sua força descomunal abre uma brecha na muralha externa, permitindo a invasão em massa dos titãs e obrigando a população a recuar para trás da segunda das três muralhas que cercam a cidade, com muitas mortes no processo. Durante o ataque, Eren testemunha a morte da sua mãe, devorada por um titã, e jura que um dia será um matador de titãs. Mas, para isso, terá de alistar-se e dominar não só o perigoso equipamento militar, mas também seu temperamento explosivo e inconsequente.
Contudo, no porão da antiga casa de Eren, jaz uma informação deixada por seu pai, um cientista desaparecido há anos, que pode revelar o mistério da natureza dos titãs. Mas esse segredo está agora numa zona infestada e, para lá chegar, será necessário fazer o que em cem anos nunca se conseguiu: vencer os gigantes antropófagos.
A história, ágil e emocionante, ecoa conceitos vistos anteriormente no clássico da ficção científica Nausicaa do Vale do Vento, de Hayao Miyazaki, que também parte do fato da civilização ter desmoronado depois de um ataque de gigantes. Repleta de conceitos morais típicos de tempos de guerra, como escolhas difíceis, fome, medo, traição, covardia, amor, sacrifício, confiança, fé, abnegação e coragem, aproxima-se também de outro bom mangá de ficção militarista, Fullmetal alchemist, de Hiromu Arakawa, com a qual compartilha a mistura de ficção científica, fantasia e horror – por vezes escatológico –, mas as semelhanças ficam por aí.
A edição brasileira será bimestral, uma boa decisão da Panini uma vez que o seriado ainda está em publicação no Japão, onde já conta com onze volumes. No passado, outras editoras deixaram os leitores brasileiros na mão ao tentarem maximizar seus lucros publicando afoitamente séries inacabadas, que ficaram pelo meio sem qualquer satisfação. Mas este parece ser um risco que, se não está de todo afastado, vale a pena correr.
Ataque dos titãs tem 192 páginas e custa R$11,90.
A série faz um sucesso estrondoso no Japão – com mais de 25 milhões de exemplares vendidos – e chegou ao Brasil com grande expectativa, uma vez que a versão em desenho animado já circula pelos saites especializados e conta com inúmeros fãs no País. Tanto que a primeira tiragem foi esgotada apenas pelas reservas feitas nas gibiterias, daí o atraso nas bancas.
Lançada originalmente em 2006 em forma de seriado na revista Weekly Shōnen Magazine, Ataque dos titãs conta a história de Eren Jaeger, adolescente que sonha conhecer o mundo. Mas isso é impossível desde que, há cem anos, depois de um devastador ataque planetário de zumbis gigantes – os titãs – o que restou da humanidade é obrigado a viver em uma região cercada e subdividida por muralhas de cinquenta metros de altura, conduzido por um governo militar que treina os soldados em uma tecnologia baseada em espadas elétricas, ganchos e cabos de aço que os faz praticamente voar ao enfrentar os monstros, que só podem ser mortos se forem mutilados no seu único ponto vulnerável: a nuca.
Com o passar dos anos, a vida quase se normalizou dentro dos muros e, exceto pelo medo constante, o povo vive mais ou menos em paz numa condição de baixa tecnologia, uma vez que todos os recursos são destinados à manutenção das tropas e das muralhas, e ao conforto da classe dominante que vive nas áreas mais protegidas.
Até o dia em que surge um titã nunca visto, mais alto que os muros, e com sua força descomunal abre uma brecha na muralha externa, permitindo a invasão em massa dos titãs e obrigando a população a recuar para trás da segunda das três muralhas que cercam a cidade, com muitas mortes no processo. Durante o ataque, Eren testemunha a morte da sua mãe, devorada por um titã, e jura que um dia será um matador de titãs. Mas, para isso, terá de alistar-se e dominar não só o perigoso equipamento militar, mas também seu temperamento explosivo e inconsequente.
Contudo, no porão da antiga casa de Eren, jaz uma informação deixada por seu pai, um cientista desaparecido há anos, que pode revelar o mistério da natureza dos titãs. Mas esse segredo está agora numa zona infestada e, para lá chegar, será necessário fazer o que em cem anos nunca se conseguiu: vencer os gigantes antropófagos.
A história, ágil e emocionante, ecoa conceitos vistos anteriormente no clássico da ficção científica Nausicaa do Vale do Vento, de Hayao Miyazaki, que também parte do fato da civilização ter desmoronado depois de um ataque de gigantes. Repleta de conceitos morais típicos de tempos de guerra, como escolhas difíceis, fome, medo, traição, covardia, amor, sacrifício, confiança, fé, abnegação e coragem, aproxima-se também de outro bom mangá de ficção militarista, Fullmetal alchemist, de Hiromu Arakawa, com a qual compartilha a mistura de ficção científica, fantasia e horror – por vezes escatológico –, mas as semelhanças ficam por aí.
A edição brasileira será bimestral, uma boa decisão da Panini uma vez que o seriado ainda está em publicação no Japão, onde já conta com onze volumes. No passado, outras editoras deixaram os leitores brasileiros na mão ao tentarem maximizar seus lucros publicando afoitamente séries inacabadas, que ficaram pelo meio sem qualquer satisfação. Mas este parece ser um risco que, se não está de todo afastado, vale a pena correr.
Ataque dos titãs tem 192 páginas e custa R$11,90.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Resenha: Máquina Macunaíma
Desde que Luiz Bras surgiu no panorama da ficção brasileira, a partir das antologias Portal (seis volumes publicados entre 2008 a 2010) experimentamos um período especial nessa arte literária. Herdeiro estilístico do premiado autor mainstream Nelson de Oliveira, Bras trouxe para a ficção de gênero não apenas uma respeitabilidade incontestável, mas um novo paradigma autoral que, antes dele, poucos praticavam. Surgido, ele também, no mainstream, Bras agregou à ficção científica, gênero que elegeu para ser plataforma de sua obra, um discurso artisticamente avançado em ousadia técnica e temática que foi além daqueles que antes o praticaram, como André Carneiro e Braulio Tavares, por exemplo.
Isso já podia ser percebido na sua primeira coletânea, Paraíso líquido, publicada em 2010 pela Terracota e premiada com o financiamento do Proac. Desde então, Brás tem se destacado como um dos principais proponentes estilísticos da ficção científica brasileira, explorando em sua produção os limites da arte que, praticada no Brasil principalmente por fãs, demonstra grande dificuldade em romper devido a décadas de influência da literatura pulpesca anglo-americana.
Em sua mais nova coletânea, Máquina Macunaíma, publicada em 2013 pela editora Ragnarok, Bras reuniu trabalhos inéditos e contos já vistos em publicações anteriores, apresentando um viés inovador em sua proposta. Ainda que os contos mantenham a ficção científica como base, estão mesclados, em proporções variáveis, com a fantasia e, principalmente, com o horror, num flerte que sinaliza que o autor não é resistente a novas influências. Justamente por este aspecto, vale a pena comentar individualmente os doze textos que compõe esta coletânea.
"Virtuais", o conto que abre a seleção, é provavelmente a narrativa mais convencional do conjunto, reportando ao modelo de histórias que acostumamos ver no seriado de tv Além da Imaginação (Twilight Zone). Mostra a situação bizarra de um jovem viciado em redes sociais quando, na área de alimentação de um shopping, recebe uma mensagem de socorro de uma garota que diz estar literalmente sozinha no mundo. Contudo, ela também afirma estar no mesmo ambiente que ele. Uma história que discute o quanto as coisas estão mudando para todos nós.
"Heidegard não voltará jamais" desmonta o confortável modelo do texto anterior. Completamente diferente em ritmo, estilo e dotado de um fino senso de humor, conta a história de um casal de gêmeos, ambos delegados de polícia em uma realidade pós-humana, com vilões de nomes inspirados em figurões da história. Eles vão confrontar revelações terríveis ao investigar um crime que exige visitas pessoais ao céu e ao inferno.
"Onde vivem os monstros" retorna a um modelo narrativo mais simples, mas avança para o ambiente da fantasia e do horror na história de uma jovem escultora que foge de casa à noite e decide morar escondida no museu de arte da mítica cidade de Cobra Norato. Hábil no léxico de vegetais e minerais, a garota 'ouve' as esculturas e isso vai levá-la a uma realidade que trará consequências radicais em sua vida.
"Impostor" é uma space opera de nítido contorno político-revolucionário. Um investigador da polícia da Terra, acompanhado de seu pai - o narrador da história, com quem tem uma relação ambígua - chegam a um luxuoso iate espacial para recuperar um artefato roubado que pode estar sendo contrabandeado à bordo. A administração da espaçonave deixa bem claro que não está disposta a colaborar com a investigação, e ambos são mantidos à distância dos passageiros, a maior parte deles magnatas em cruzeiro de férias. Enquanto enfrentam dificuldades nas investigações, surge no quarto que lhes foi designado, na área de serviços, um pequeno objeto circular que flutua e gira, um anel aparentemente inofensivo mas que vai provar ser uma ameaça cósmica que pode causar não apenas a destruição da espaçonave, mas de todo o universo.
"Mecanismos precários" pode ser descrito como um poema-catástrofe ao colocar, frente a frente, dois gigantes de metal em luta furiosa e demolidora. Contudo, pilotando os ferozes titãs, estão um homem e uma mulher discutindo a sua relação.
“O índio do abismo sou eu” conta a história de uma mulher que, sofrendo de uma doença terminal, é congelada até que a cura seja descoberta. Quando volta à consciência, muitos anos no futuro, é sequestrada por um grupo de ativistas que pretende retirar dela todos os órgãos para suprir transplantes em pessoas carentes. A narrativa salta continuamente entre o tempo objetivo natural e um tempo subjetivo virtual, que acontece apenas na mente da protagonista. O conto foi anteriormente visto na antologia Geração sub-zero (Record, 2012).
"Coisas que a gente não vê todo dia" é sobre uma estudante dotada de poderes paranormais que não aceita, pois acredita na ciência. Contudo, os poderes começam a se manifestar espontaneamente, causando constrangimento à menina que já é bastante tímida.
A bruxaria continua, em tom de fábula, em "Humana, demasiado humana", com uma menina que, apaixonada pela ciência e pela natureza, sente-se deslocada em uma família de bruxos e bruxas com a qual vive numa casa no meio da floresta. Um dia, aparecem três artistas-bruxos à caminho de um festival e ali fazem uma das incríveis apresentações musicais que os fizeram famosos. O problema é que a menina sabe que cada vez que o poder de um bruxo é usado, uma estrela se apaga o céu. Por causa disso, ela irá finalmente descobrir o seu real papel no universo. Um conto incomum, divertido e delicado, que lembra algumas das melhores histórias de Ray Bradbury em O país de outubro.
"Distrito Federal" evoca elementos da ficção científica, fantasia e horror para contar a história de uma jovem moradora das ruas de Cobra Norato que terá de enfrentar uma espécie de apocalipse zumbi na cidade quando os personagens do popular jogo online Distrito Federal, no qual os usuários assumem papéis de políticos, começam a se manifestar fora do jogo. E o horror não vem apenas do fato de ter que encarar perigosos deputados e senadores, mas também uma legião de criaturas mitológicas que se incorporaram ao jogo. É o conto mais nonsense da coletânea, com um fino humor negro muito raro na ficção fantástica.
"Olhos de gato" é mais um dos textos não-inéditos da coletânea, visto primeiro na antologia Portal Fahrenheit. Conta a história de uma jovem cadete do exército das mulheres que, há anos, luta contra os homens. Depois de passar por um rigoroso treinamento doutrinário, ela está prestes a graduar-se e, para isso, em uma macabra cerimônia pública, terá de arrancar os olhos de seu gato de estimação. Contudo, desta vez o evento terá um detalhe imprevisto que pode acabar com a guerra definitivamente.
"Galáxia" é uma espécie de poema em prosa, com vários episódios de uma realidade na qual os homens convivem com inteligências artificiais e, repentinamente, experimenta uma queda catastrófica da rede de dados. Isso faz pessoas reais e digitais confrontarem a mutante e imprevisível natureza do universo e faz pensar se este pós-humano imerso no ciberespaço ainda somos nós.
Fechando a coletânea temos "Primeiro de Abril: Corpus Christi", texto já visto nas antologias Portal 2001 e Cidades indizíveis (2011, Llyr). Conta o drama de uma cidade futurista controlada por uma inteligência artificial, que entrou em uma grave convulsão tecnológica. Evacuada de seus habitantes humanos, a megalópole está prestes a ser bombardeada por um míssil nucelar. A ação é caótica e intensa, misturando violência, ciborgues e máquinas inteligentes em um contexto no qual o estilo e as imagens falam mais alto que a história. Trata-se de uma das peças literárias mais expressivas da ficção científica brasileira, uma experiência sensorial surpreendente que transcende as dimensões do conto e desafia o resenhista. Melhor ser experimentado diretamente.
Por motivos autorais, Máquina Macunaíma foi publicado em tiragem muito limitada distribuída diretamente pelo autor, não sendo possível encontrá-lo nos pontos de venda convencionais. Portanto, se acaso conseguir encontrá-lo por aí, não deixe escapar. Trata-se de um dos melhores livros da ficção fantástica brasileira recente.
Isso já podia ser percebido na sua primeira coletânea, Paraíso líquido, publicada em 2010 pela Terracota e premiada com o financiamento do Proac. Desde então, Brás tem se destacado como um dos principais proponentes estilísticos da ficção científica brasileira, explorando em sua produção os limites da arte que, praticada no Brasil principalmente por fãs, demonstra grande dificuldade em romper devido a décadas de influência da literatura pulpesca anglo-americana.
Em sua mais nova coletânea, Máquina Macunaíma, publicada em 2013 pela editora Ragnarok, Bras reuniu trabalhos inéditos e contos já vistos em publicações anteriores, apresentando um viés inovador em sua proposta. Ainda que os contos mantenham a ficção científica como base, estão mesclados, em proporções variáveis, com a fantasia e, principalmente, com o horror, num flerte que sinaliza que o autor não é resistente a novas influências. Justamente por este aspecto, vale a pena comentar individualmente os doze textos que compõe esta coletânea.
"Virtuais", o conto que abre a seleção, é provavelmente a narrativa mais convencional do conjunto, reportando ao modelo de histórias que acostumamos ver no seriado de tv Além da Imaginação (Twilight Zone). Mostra a situação bizarra de um jovem viciado em redes sociais quando, na área de alimentação de um shopping, recebe uma mensagem de socorro de uma garota que diz estar literalmente sozinha no mundo. Contudo, ela também afirma estar no mesmo ambiente que ele. Uma história que discute o quanto as coisas estão mudando para todos nós.
"Heidegard não voltará jamais" desmonta o confortável modelo do texto anterior. Completamente diferente em ritmo, estilo e dotado de um fino senso de humor, conta a história de um casal de gêmeos, ambos delegados de polícia em uma realidade pós-humana, com vilões de nomes inspirados em figurões da história. Eles vão confrontar revelações terríveis ao investigar um crime que exige visitas pessoais ao céu e ao inferno.
"Onde vivem os monstros" retorna a um modelo narrativo mais simples, mas avança para o ambiente da fantasia e do horror na história de uma jovem escultora que foge de casa à noite e decide morar escondida no museu de arte da mítica cidade de Cobra Norato. Hábil no léxico de vegetais e minerais, a garota 'ouve' as esculturas e isso vai levá-la a uma realidade que trará consequências radicais em sua vida.
"Impostor" é uma space opera de nítido contorno político-revolucionário. Um investigador da polícia da Terra, acompanhado de seu pai - o narrador da história, com quem tem uma relação ambígua - chegam a um luxuoso iate espacial para recuperar um artefato roubado que pode estar sendo contrabandeado à bordo. A administração da espaçonave deixa bem claro que não está disposta a colaborar com a investigação, e ambos são mantidos à distância dos passageiros, a maior parte deles magnatas em cruzeiro de férias. Enquanto enfrentam dificuldades nas investigações, surge no quarto que lhes foi designado, na área de serviços, um pequeno objeto circular que flutua e gira, um anel aparentemente inofensivo mas que vai provar ser uma ameaça cósmica que pode causar não apenas a destruição da espaçonave, mas de todo o universo.
"Mecanismos precários" pode ser descrito como um poema-catástrofe ao colocar, frente a frente, dois gigantes de metal em luta furiosa e demolidora. Contudo, pilotando os ferozes titãs, estão um homem e uma mulher discutindo a sua relação.
“O índio do abismo sou eu” conta a história de uma mulher que, sofrendo de uma doença terminal, é congelada até que a cura seja descoberta. Quando volta à consciência, muitos anos no futuro, é sequestrada por um grupo de ativistas que pretende retirar dela todos os órgãos para suprir transplantes em pessoas carentes. A narrativa salta continuamente entre o tempo objetivo natural e um tempo subjetivo virtual, que acontece apenas na mente da protagonista. O conto foi anteriormente visto na antologia Geração sub-zero (Record, 2012).
"Coisas que a gente não vê todo dia" é sobre uma estudante dotada de poderes paranormais que não aceita, pois acredita na ciência. Contudo, os poderes começam a se manifestar espontaneamente, causando constrangimento à menina que já é bastante tímida.
A bruxaria continua, em tom de fábula, em "Humana, demasiado humana", com uma menina que, apaixonada pela ciência e pela natureza, sente-se deslocada em uma família de bruxos e bruxas com a qual vive numa casa no meio da floresta. Um dia, aparecem três artistas-bruxos à caminho de um festival e ali fazem uma das incríveis apresentações musicais que os fizeram famosos. O problema é que a menina sabe que cada vez que o poder de um bruxo é usado, uma estrela se apaga o céu. Por causa disso, ela irá finalmente descobrir o seu real papel no universo. Um conto incomum, divertido e delicado, que lembra algumas das melhores histórias de Ray Bradbury em O país de outubro.
"Distrito Federal" evoca elementos da ficção científica, fantasia e horror para contar a história de uma jovem moradora das ruas de Cobra Norato que terá de enfrentar uma espécie de apocalipse zumbi na cidade quando os personagens do popular jogo online Distrito Federal, no qual os usuários assumem papéis de políticos, começam a se manifestar fora do jogo. E o horror não vem apenas do fato de ter que encarar perigosos deputados e senadores, mas também uma legião de criaturas mitológicas que se incorporaram ao jogo. É o conto mais nonsense da coletânea, com um fino humor negro muito raro na ficção fantástica.
"Olhos de gato" é mais um dos textos não-inéditos da coletânea, visto primeiro na antologia Portal Fahrenheit. Conta a história de uma jovem cadete do exército das mulheres que, há anos, luta contra os homens. Depois de passar por um rigoroso treinamento doutrinário, ela está prestes a graduar-se e, para isso, em uma macabra cerimônia pública, terá de arrancar os olhos de seu gato de estimação. Contudo, desta vez o evento terá um detalhe imprevisto que pode acabar com a guerra definitivamente.
"Galáxia" é uma espécie de poema em prosa, com vários episódios de uma realidade na qual os homens convivem com inteligências artificiais e, repentinamente, experimenta uma queda catastrófica da rede de dados. Isso faz pessoas reais e digitais confrontarem a mutante e imprevisível natureza do universo e faz pensar se este pós-humano imerso no ciberespaço ainda somos nós.
Fechando a coletânea temos "Primeiro de Abril: Corpus Christi", texto já visto nas antologias Portal 2001 e Cidades indizíveis (2011, Llyr). Conta o drama de uma cidade futurista controlada por uma inteligência artificial, que entrou em uma grave convulsão tecnológica. Evacuada de seus habitantes humanos, a megalópole está prestes a ser bombardeada por um míssil nucelar. A ação é caótica e intensa, misturando violência, ciborgues e máquinas inteligentes em um contexto no qual o estilo e as imagens falam mais alto que a história. Trata-se de uma das peças literárias mais expressivas da ficção científica brasileira, uma experiência sensorial surpreendente que transcende as dimensões do conto e desafia o resenhista. Melhor ser experimentado diretamente.
Por motivos autorais, Máquina Macunaíma foi publicado em tiragem muito limitada distribuída diretamente pelo autor, não sendo possível encontrá-lo nos pontos de venda convencionais. Portanto, se acaso conseguir encontrá-lo por aí, não deixe escapar. Trata-se de um dos melhores livros da ficção fantástica brasileira recente.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
José Ortiz (1932-2013)
A cada ano que passa, a arte das histórias em quadrinhos fica mais empobrecida de seus grandes expoentes. 2013 foi especialmente triste para os amantes da Nona Arte, que perdeu Moebius, Joe Kubert, Sérgio Topi e, no finalzinho do ano, o espanhol José Ortiz, um dos principais nomes ligados à arte dos quadrinhos dos gêneros fantásticos.
Dono de um traço personalíssmo e expressivo, Ortiz ficou conhecido no Brasil nos anos 1970, quando por aqui foi publicada a revista Kripta, com histórias de horror traduzidas da editora americana Warren. Algumas das histórias mais lembradas pelos leitores foram ilustradas por ele, como, por exemplo, a quadrilogia do Apocalipse ("Fome", "Peste", "Guerra" e "Morte"), e as séries "Jackass" e "Coffin".
José Ortiz Moya nasceu em 1 de setembro de 1932, em Cartagena, e começou a publicar muito jovem, depois de vencer, aos 16 anos, um concurso de arte da revista Chicos. Nos anos 1950, já publicava tanto em seu país como em jornais ingleses, principalmente histórias de guerra.
Em 1974, iniciou a carreira na já citada Warrren – a primeira editora americana a se aproveitar do abrandamento do famigerado código de ética – produzindo histórias de horror de alto impacto artístico, principalmente para as revistas Creepy, Eerie e Vampirella.
Com o encerramento da Warren, Ortiz voltou para a Europa e iniciou, em 1981, uma produtiva parceria com o roteirista espanhol Antonio Segura, com quem realizou seus maiores sucesso autorais, como as séries de ficção científica "Hombre" e "Burton & Cyb", entre outras. Para a revista britânica 2000 AD, produziu histórias para as séries "Rogue Trooper" e "Juiz Dredd".
Em 1982, unido a outros artistas dos quadrinhos, ajudou a fundar a editora Metropol, pela qual publicou as revistas Metropol, Mocambo e K.O. Comics.
Nos últimos anos, Ortiz foi colaborador frequente da editora italiana Sergio Bonelli, onde demonstrou todo o seu virtuosismo plástico fazendo histórias para a série de faroeste Tex, em várias edições especiais e um dos primeiros volumes da prestigiada coleção Tex Gigante. Também ilustrou histórias de Ken Parker e Mágico Vento, da mesma editora.
Apesar de seu trabalho exuberante, Ortiz nunca foi reconhecido pelos maiores prêmios da indústria dos quadrinhos, tendo recebido apenas o Grande Prêmio do Salão de Quadrinhos de Barcelona, em 2012.
Vitimado por um problema cardíaco, Ortiz faleceu aos 81 anos, em Valência, no dia 23 de dezembro de 2013.
Dono de um traço personalíssmo e expressivo, Ortiz ficou conhecido no Brasil nos anos 1970, quando por aqui foi publicada a revista Kripta, com histórias de horror traduzidas da editora americana Warren. Algumas das histórias mais lembradas pelos leitores foram ilustradas por ele, como, por exemplo, a quadrilogia do Apocalipse ("Fome", "Peste", "Guerra" e "Morte"), e as séries "Jackass" e "Coffin".
José Ortiz Moya nasceu em 1 de setembro de 1932, em Cartagena, e começou a publicar muito jovem, depois de vencer, aos 16 anos, um concurso de arte da revista Chicos. Nos anos 1950, já publicava tanto em seu país como em jornais ingleses, principalmente histórias de guerra.
Em 1974, iniciou a carreira na já citada Warrren – a primeira editora americana a se aproveitar do abrandamento do famigerado código de ética – produzindo histórias de horror de alto impacto artístico, principalmente para as revistas Creepy, Eerie e Vampirella.
Com o encerramento da Warren, Ortiz voltou para a Europa e iniciou, em 1981, uma produtiva parceria com o roteirista espanhol Antonio Segura, com quem realizou seus maiores sucesso autorais, como as séries de ficção científica "Hombre" e "Burton & Cyb", entre outras. Para a revista britânica 2000 AD, produziu histórias para as séries "Rogue Trooper" e "Juiz Dredd".
Em 1982, unido a outros artistas dos quadrinhos, ajudou a fundar a editora Metropol, pela qual publicou as revistas Metropol, Mocambo e K.O. Comics.
Nos últimos anos, Ortiz foi colaborador frequente da editora italiana Sergio Bonelli, onde demonstrou todo o seu virtuosismo plástico fazendo histórias para a série de faroeste Tex, em várias edições especiais e um dos primeiros volumes da prestigiada coleção Tex Gigante. Também ilustrou histórias de Ken Parker e Mágico Vento, da mesma editora.
Apesar de seu trabalho exuberante, Ortiz nunca foi reconhecido pelos maiores prêmios da indústria dos quadrinhos, tendo recebido apenas o Grande Prêmio do Salão de Quadrinhos de Barcelona, em 2012.
Vitimado por um problema cardíaco, Ortiz faleceu aos 81 anos, em Valência, no dia 23 de dezembro de 2013.
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Velta virtual 1
Está disponível para download gratuito o primeiro número da revista Velta, a super-detetive, do paraibano Emir Ribeiro, cuja proposta é apresentar a personagem, já famosa no meio alternativo, a uma nova classe de leitores: os internautas.
A edição, em formato cbr, tem 37 páginas em cores com quatro aventuras, todas já anteriormente publicadas, além de textos ilustrados contextualizando a personagem e seu universo, e conta ainda com a colaboração de Mike Deodato, Lula Borges e Paulo Nery.
A revista deve ser mensal e é uma edição é do blogue Rock & Quadrinhos.
A edição, em formato cbr, tem 37 páginas em cores com quatro aventuras, todas já anteriormente publicadas, além de textos ilustrados contextualizando a personagem e seu universo, e conta ainda com a colaboração de Mike Deodato, Lula Borges e Paulo Nery.
A revista deve ser mensal e é uma edição é do blogue Rock & Quadrinhos.
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
Três dragões
Pelos préstimos da escritora Ana Lúcia Merege (O castelo das águias), recebi um pacote de livros publicados em 2013 pela editora Draco, especializada em ficção fantástica. Enquanto não os leio, para resenhas mais detalhadas, divulgo aqui o material de excelente apresentação gráfica, como é hábito nas publicações dessa editora paulista.
Excalibur: Histórias de reis, magos e távolas redondas é uma antologia de contos de fantasia organizada pela própria Ana Lúcia, dedicada a homenagear os cavaleiros da mítica Távola Redonda do Rei Arthur, incluindo, é claro, o mago Merlin. O volume reúne contos de Roberto de Sousa Causo, Liège Báccaro Toledo, Luiz Felipe Vasques e Daniel Bezerra, André S. Silva, Pedro Viana, A. Z. Cordenonsi, Ana Cristina Rodrigues, Marcelo Abreu, Melissa de Sá, Octavio Aragão e Cirilo S. Lemos, além da própria organizadora, que navegam da fantasia heróica ao dieselpunk sem nenhum preconceito.
Solarpunk: Histórias ecológicas e fantásticas em um mundo sustentável é outra antologia, esta de ficção científica, que completa a série iniciada com os volumes Vaporpunk (2010) e Dieselpunk (2011). Desta vez, as histórias exploram o impacto da tecnologia limpa e sustentável na sociedade humana. Os autores selecionados são Carlos Orsi, Telmo Marçal, Romeu Martins, Antonio Luiz M. C. Costa, Gabriel Cantareira, Daniel I. Dutra, André S. Silva e Roberta Spindler. O organizador, Gerson Lodi-Ribeiro também participa com um texto no volume.
O terceiro livro do pacote é o romance de horror Deuses esquecidos, de Eduardo Kasse, segundo volume da série Tempos de sangue, iniciada com O andarilho das sombras, lançado em 2012, com a história de um homem que, para salvar a vida de quem amava, se tornou um demônio em busca de sangue.
Sobre Deuses esquecidos, diz o texto de divulgação: "Em uma Itália governada pela incontestável Igreja Católica, com seus dogmas e imposições, Alessio se vê em um grande dilema: depois de ser transformado em um bebedor de sangue, ainda teria chance de obter a Salvação? Enquanto segue em busca de respostas, deixando à própria sorte a mulher e o filho, percorre caminhos tortuosos pela Europa medieval contando com a ajuda de um monge glutão e preguiçoso que também precisa expiar os seus próprios pecados."
Todos os volumes estão disponíveis em edições em papel e digital, para leitura em dispositivos móveis.
Excalibur: Histórias de reis, magos e távolas redondas é uma antologia de contos de fantasia organizada pela própria Ana Lúcia, dedicada a homenagear os cavaleiros da mítica Távola Redonda do Rei Arthur, incluindo, é claro, o mago Merlin. O volume reúne contos de Roberto de Sousa Causo, Liège Báccaro Toledo, Luiz Felipe Vasques e Daniel Bezerra, André S. Silva, Pedro Viana, A. Z. Cordenonsi, Ana Cristina Rodrigues, Marcelo Abreu, Melissa de Sá, Octavio Aragão e Cirilo S. Lemos, além da própria organizadora, que navegam da fantasia heróica ao dieselpunk sem nenhum preconceito.
Solarpunk: Histórias ecológicas e fantásticas em um mundo sustentável é outra antologia, esta de ficção científica, que completa a série iniciada com os volumes Vaporpunk (2010) e Dieselpunk (2011). Desta vez, as histórias exploram o impacto da tecnologia limpa e sustentável na sociedade humana. Os autores selecionados são Carlos Orsi, Telmo Marçal, Romeu Martins, Antonio Luiz M. C. Costa, Gabriel Cantareira, Daniel I. Dutra, André S. Silva e Roberta Spindler. O organizador, Gerson Lodi-Ribeiro também participa com um texto no volume.
O terceiro livro do pacote é o romance de horror Deuses esquecidos, de Eduardo Kasse, segundo volume da série Tempos de sangue, iniciada com O andarilho das sombras, lançado em 2012, com a história de um homem que, para salvar a vida de quem amava, se tornou um demônio em busca de sangue.
Sobre Deuses esquecidos, diz o texto de divulgação: "Em uma Itália governada pela incontestável Igreja Católica, com seus dogmas e imposições, Alessio se vê em um grande dilema: depois de ser transformado em um bebedor de sangue, ainda teria chance de obter a Salvação? Enquanto segue em busca de respostas, deixando à própria sorte a mulher e o filho, percorre caminhos tortuosos pela Europa medieval contando com a ajuda de um monge glutão e preguiçoso que também precisa expiar os seus próprios pecados."
Todos os volumes estão disponíveis em edições em papel e digital, para leitura em dispositivos móveis.
Juvenatrix 155
Está circulando o primeiro fanzine de arte fantástca de 2014. Trata-se do número 155 do Juvenatrix, fanzine digital de horror e ficção científica editado por Renato Rosatti, certamente o mais antigo em publicação regular no País.
A edição tem 22 página e traz notícias e divulgação da cena alternativa, um conto de Michael Kiss, e resenhas dos filmes A serbian film: Terror sem limites (2010), Avenida do terror, 388 (2011), Deus irae (2010), O dia da besta (1995), Dredd (2012), Ender´s game: O jogo do exterminador (2013), Enigmas de um crime (2008), Halo 4: Em direção ao amanhecer (2012), A mansão da meia-noite (1983), Mistério no lago (2005), O mundo perdido (1960), Quando os dinossauros dominavam a Terra (1970), Rasputin: O monge louco (1966), Reveillon maldito (1980), O segredo do Lago Ness (2008), Sobrenatural (2010), Sobrenatural: Capítulo 2 (2013) e As torturas do Dr. Diabolo (1967). A capa traz uma ilustração de Cadáver Cruz.
Para solicitar uma cópia, em formato pdf, basta enviar um email para renatorosatti@yahoo.com.br ou renatorosatti@terra.com.br.
A edição tem 22 página e traz notícias e divulgação da cena alternativa, um conto de Michael Kiss, e resenhas dos filmes A serbian film: Terror sem limites (2010), Avenida do terror, 388 (2011), Deus irae (2010), O dia da besta (1995), Dredd (2012), Ender´s game: O jogo do exterminador (2013), Enigmas de um crime (2008), Halo 4: Em direção ao amanhecer (2012), A mansão da meia-noite (1983), Mistério no lago (2005), O mundo perdido (1960), Quando os dinossauros dominavam a Terra (1970), Rasputin: O monge louco (1966), Reveillon maldito (1980), O segredo do Lago Ness (2008), Sobrenatural (2010), Sobrenatural: Capítulo 2 (2013) e As torturas do Dr. Diabolo (1967). A capa traz uma ilustração de Cadáver Cruz.
Para solicitar uma cópia, em formato pdf, basta enviar um email para renatorosatti@yahoo.com.br ou renatorosatti@terra.com.br.
Bang! de lá
Ainda que o Brasil tenha agora a sua própria versão da revista Bang!, comentada aqui, as edições portuguesas continuam a ser de muito interesse para o fã de ficção fantástica. Isso porque a versão lusitana traz uma enorme quantidade de informações inéditas, contos, ensaios e resenhas de especialistas no gênero, tratando principalmente de títulos que ainda estão por publicar no Brasil.
A edição 14, originalmente lançada em abril de 2013, vem com 49 páginas belamente ilustradas e diagramadas, com contos de Gabriel Réquiem, Pedro Ferreira, Jan Neruda e Ágata Ramos Simões, quadrinhos de Gilmar Fraga e Paulo Stenzel, artigos de Dani Soares, Fernando Ribeiro, Afonso Cruz, Inês Botelho, Antonio Monteiro, João Rosmaninho, João Lameiras, João Monteiro, João Campos e da editora, Safaa Dib.
Na pauta, o onipresente George R. R. Martin; o romance As mulheres de negro, de Susan Hill; a série Dragonlance; as cidades na ficção científica; a vida e a arte de Sérgio Toppi; pós-modernismo, fc e rock; videogames e muito mais, incluindo a notícia da criação de um novo prêmio para a fc portugesa, o Prêmio Adamastor, organizado pela equipe Trema. A capa tem uma ilustração de Anita Carneiro e Ricardo Garcês.
A edição em papel do número 15 já foi distribuída em Portugal, mas ainda não está disponível na versão digital. Contudo, o pdf do número 14, assim como de todos os anteriores, está disponível para download gratuito. Basta se cadastrar no saite da Bang!.
A revista Bang! é uma publicação da editora Saída de Emergência.
A edição 14, originalmente lançada em abril de 2013, vem com 49 páginas belamente ilustradas e diagramadas, com contos de Gabriel Réquiem, Pedro Ferreira, Jan Neruda e Ágata Ramos Simões, quadrinhos de Gilmar Fraga e Paulo Stenzel, artigos de Dani Soares, Fernando Ribeiro, Afonso Cruz, Inês Botelho, Antonio Monteiro, João Rosmaninho, João Lameiras, João Monteiro, João Campos e da editora, Safaa Dib.
Na pauta, o onipresente George R. R. Martin; o romance As mulheres de negro, de Susan Hill; a série Dragonlance; as cidades na ficção científica; a vida e a arte de Sérgio Toppi; pós-modernismo, fc e rock; videogames e muito mais, incluindo a notícia da criação de um novo prêmio para a fc portugesa, o Prêmio Adamastor, organizado pela equipe Trema. A capa tem uma ilustração de Anita Carneiro e Ricardo Garcês.
A edição em papel do número 15 já foi distribuída em Portugal, mas ainda não está disponível na versão digital. Contudo, o pdf do número 14, assim como de todos os anteriores, está disponível para download gratuito. Basta se cadastrar no saite da Bang!.
A revista Bang! é uma publicação da editora Saída de Emergência.
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Resenha: Piteco Ingá
Desde que surgiram as primeiras divulgações dos títulos que comporiam a coleção Graphic MSP, formada por adaptações mais ou menos livres dos personagens de Maurício de Sousa por outros artistas do traço, o que mais me entusiasmou foi o do Piteco. Isso porque o personagem sempre foi um dos que mais me cativaram dentro de sua produção, além de ser um dos menos explorados. Também porque Piteco remete ao Brucutu (Alley Oop), personagem clássico de V. T. Hamlin que sempre teve histórias incríveis, sinal do potencial de Piteco caso ousasse também se aproximar da ficção científica.
Outro detalhe que me animou foi saber que o artista convidado para realizar o trabalho era o incrível Shiko, quadrinhista paraibano atualmente domiciliado na Itália, revelado nos fanzines no início do século, cujos trabalhos tive a honra de publicar em algumas das últimas edições do Hiperespaço.
E, de fato, não me decepcionei. Piteco: Ingá, quarto volume da coleção, é o melhor até o momento. As ideias ousadas e os desenhos sensuais e soberbamente coloridos de Shiko caíram muito bem nesta versão realista, que parece receber influências de importantes obras da ficção científica antropológica como A guerra do fogo, de J.-H. Rosny, e O clã da caverna do urso, de Jean Auel.
A história conta como a tribo de Lem, onde vivem Piteco e seus amigos, tem que superar as diferenças com seus inimigos para conseguir sobreviver a uma seca que devasta o seu território. Mas, antes disso, o herói terá de empreender uma longa jornada em busca de Thuga, a sacerdotisa da aldeia, que foi raptada pelos temíveis homens-tigre. Acompanhado de Beleléu e Ogra, Piteco confronta diversas entidades mitológicas brasileiras, como o boitatá e o curupira, além de animais extintos como as aves do terror e o anhanguera, entre outros, em concepções tão elegantes quanto assustadoras.
Impressionam as belas versões de Shiko para Thuga e Ogra, carregadas de uma sensualidade primitiva, tal como as valentes guerreiras das histórias de espada e feitiçaria de Robert E. Howard. A aventura também faz referência à Pedra do Ingá, importante petróglifo localizado na Paraíba, no qual estão gravadas inscrições rupestres com milhares de anos.
Como Shiko não se incomodou em ser rigoroso nas referências científicas, não podemos dizer que Piteco: Ingá seja ficção científica. De fato, a obra se enquadra mais como fantasia, num universo em que animais extintos de diversas eras, seres mágicos, animais de outras regiões e homens de culturas e traços afro-mediterrâneos habitam a América do Sul de pelo menos cinco mil anos atrás. Mesmo assim, contribui de maneira importante para com a discussão de uma fantasia tipicamente brasileira, revelando pontos de convergência com trabalhos literários recentes de Simone Saueressig (Os sóis da América), Roberto de Sousa Causo (A sombra dos homens) e Christopher Kastensmidt (A bandeira do elefante e da arara).
A edição tem 84 páginas em cores, incluindo as capas, e ainda traz um caderno com desenhos de pré-produção comentados, além de um histórico do personagem original, criado em 1963. Altamente recomendada.
Outro detalhe que me animou foi saber que o artista convidado para realizar o trabalho era o incrível Shiko, quadrinhista paraibano atualmente domiciliado na Itália, revelado nos fanzines no início do século, cujos trabalhos tive a honra de publicar em algumas das últimas edições do Hiperespaço.
E, de fato, não me decepcionei. Piteco: Ingá, quarto volume da coleção, é o melhor até o momento. As ideias ousadas e os desenhos sensuais e soberbamente coloridos de Shiko caíram muito bem nesta versão realista, que parece receber influências de importantes obras da ficção científica antropológica como A guerra do fogo, de J.-H. Rosny, e O clã da caverna do urso, de Jean Auel.
A história conta como a tribo de Lem, onde vivem Piteco e seus amigos, tem que superar as diferenças com seus inimigos para conseguir sobreviver a uma seca que devasta o seu território. Mas, antes disso, o herói terá de empreender uma longa jornada em busca de Thuga, a sacerdotisa da aldeia, que foi raptada pelos temíveis homens-tigre. Acompanhado de Beleléu e Ogra, Piteco confronta diversas entidades mitológicas brasileiras, como o boitatá e o curupira, além de animais extintos como as aves do terror e o anhanguera, entre outros, em concepções tão elegantes quanto assustadoras.
Impressionam as belas versões de Shiko para Thuga e Ogra, carregadas de uma sensualidade primitiva, tal como as valentes guerreiras das histórias de espada e feitiçaria de Robert E. Howard. A aventura também faz referência à Pedra do Ingá, importante petróglifo localizado na Paraíba, no qual estão gravadas inscrições rupestres com milhares de anos.
Como Shiko não se incomodou em ser rigoroso nas referências científicas, não podemos dizer que Piteco: Ingá seja ficção científica. De fato, a obra se enquadra mais como fantasia, num universo em que animais extintos de diversas eras, seres mágicos, animais de outras regiões e homens de culturas e traços afro-mediterrâneos habitam a América do Sul de pelo menos cinco mil anos atrás. Mesmo assim, contribui de maneira importante para com a discussão de uma fantasia tipicamente brasileira, revelando pontos de convergência com trabalhos literários recentes de Simone Saueressig (Os sóis da América), Roberto de Sousa Causo (A sombra dos homens) e Christopher Kastensmidt (A bandeira do elefante e da arara).
A edição tem 84 páginas em cores, incluindo as capas, e ainda traz um caderno com desenhos de pré-produção comentados, além de um histórico do personagem original, criado em 1963. Altamente recomendada.