Em meados dos anos 1980, chegou às minha mãos uma curiosa coleção de quadrinhos argentinos intitulada El Eternauta, antecipando o formato das minisséries que fariam furor entre os leitores brasileiros alguns anos depois. Eu havia aprendido a apreciar o quadrinho argentino através da leitura de algumas edições originais de revista Skorpio; sabia que era extremamente sofisticado e tinha um estilo narrativo próprio, muito dramático e melancólico. Mas havia algo de diferente naquela história em especial.
Não era a qualidade técnica que me impressionava. Ainda que fosse um trabalho artisticamente irretocável, essa característica é comum a todos os quadrinhos publicados na Argentina. Também não foi a boa história de ficção científica, pois naquele tempo eu já era um leitor experiente no gênero e histórias de invasão não eram novidade.
O que realmente me cativou logo nas primeiras páginas da obra foi o vigor da cultura portenha que transbordava em cada quadrinho. Eu estava compartilhando ali o ponto de vista de um típico morador do subúrbio de Buenos Aires. Sem nunca ter saído do Brasil, por algumas horas eu me tornara um argentino, e isso foi uma epifania.
Anos antes do escritor Ivan Carlos Regina publicar o seu "Manifesto Antropofágico da Ficção Científica Brasileira" (1988), que propunha a deglutição da produção angloamericana para gerar uma FC tipicamente brasileira, O Eternauta já me mostrara que, da mesma forma que havia um modo argentino de tratar a FC, deveria haver também um jeito brasileiro de abordar o gênero. Mas como? Desde então, essa tem sido uma das minhas maiores buscas.
Por isso, é com alegria que eu comemoro a publicação de O Eternauta finalmente em sua versão brasileira.
Originalmente publicada em capítulos entre 1957 e 1959 na revista Hora Cero Semanal, O Eternauta é a obra máxima do escritor e roteirista Héctor Germán Oesterheld (1919-197?), que se tornou um mito depois que desapareceu nas mãos da ditadura argentina. Também é o ponto culminante da carreira de Francisco Solano López (1928-2011), ilustrador prolífico que, mesmo depois da morte de Oesterheld, deu sequência à saga, tendo completado uma última parte dela pouco antes de seu falecimento, no ano passado.
O Eternauta trata de um homem perdido nas dobras do espaçotempo, que surge repentinamente diante de um roteirista de quadrinhos e começa a contar a ele a sua história. A narrativa inicia quando ele, sua família e alguns amigos, presos numa casa nos arredores de Buenos Aires, esforçaram-se para resistir a uma pesada nevasca tóxica, que se revela um dispositivo de limpeza de terreno aplicado ao planeta por uma força de invasão alienígena.
A primeira parte da história é sensacional e lembra o clássico A noite dos mortos-vivos (1968), longa independente do diretor norteamericano George Romero, no qual um pequeno grupo de pessoas comuns tenta sobreviver ao apocalipse zumbi preso em uma casarão.
Mais adiante, a história muda de dinâmica e assume o enredo de um drama militar de resistência, com os sobreviventes tentando fazer frente à poderosa a aparentemente invencível força invasora. Tudo isso em meio ao cenário portenho muito bem retratado por Solano López. Alguns historiadores pensam que um dos motivos do desaparecimento de Oesterheld foi justamente essa história, que sugeria através da fabulação da ficção científica, a luta armada contra a ditadura.
O Eternauta é uma obra obrigatória pra todos que admiram a arte dos quadrinhos e da ficção científica, e não é arriscado dizer que não será publicado em 2012 no Brasil um trabalho de maior importância que este. O álbum tem 360 páginas, custa R$69,80 e é uma publicação da Editora Martins Fontes.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
28º Prêmio Angelo Agostini
A AQC - Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas de São Paulo, divulgou a relação dos vencedores do 28ª edição do Prêmio Angelo Agostini, que anualmente escolhe, em votação direta, os melhores dos quadrinhos brasileiros. Os vencedores foram:
Desenhista: Maurílio DNA ("Tunado", em Ação Magazine);
Roteirista: Daniel Esteves (Nanquim Descartável);
Cartunista: Gustavo Duarte;
Lançamento: revista Ação Magazine, Editora Lancaster;
Independente: Love Hurts, de Murilo Martins;
Fanzine: Miséria, Coletivo Miséria;
Prêmio Jayme Cortez: Festival Internacional de Quadrinhos;
Mestres do Quadrinho Nacional: Bira Dantas, Fernando Gonsales, Lourenço Mutarelli e Moacir Torres.
Fiquei feliz por ver os nomes de meus amigos Bira e Moacir entre os reconhecidos como Mestres dos Quadrinhos. O Bira foi muito parceiro nos primeiros anos da AQC, ainda antes da gaita. Sempre animado, desde aquela época ele já era dono de um traço preciso e caprichado; sua indicação é merecida. O Moacir eu conheci ainda garoto, nos anos 1970, quando ele ainda vivia e trabalhava em Santo André. Criador da Turma do Gabi, e editor do Jornal Taturana (com o poeta e escritor Claúdio Feldman), o que mais me impressionava no desenho de Moacir Torres era o capricho de sua arte final de pinceladas perfeitas. Moacir desenvolveu um trabalho extensivo de produção de revistas de atividades, provavelmente é o artista que mais trabalhou nesse nicho. Quanto a Gonsales e Mutarelli, não há nada de novo que eu possa dizer. São quadrinhistas geniais, já deviam estar na relação dos mestres há muito tempo.
Parabéns a todos os ganhadores.
A cerimônia de premiação acontecerá no dia 4 de fevereiro, a partir das 16 horas, no Espaço Cultural Instituto Cervantes, na Av. Paulista, 2439, em São Paulo.
Desenhista: Maurílio DNA ("Tunado", em Ação Magazine);
Roteirista: Daniel Esteves (Nanquim Descartável);
Cartunista: Gustavo Duarte;
Lançamento: revista Ação Magazine, Editora Lancaster;
Independente: Love Hurts, de Murilo Martins;
Fanzine: Miséria, Coletivo Miséria;
Prêmio Jayme Cortez: Festival Internacional de Quadrinhos;
Mestres do Quadrinho Nacional: Bira Dantas, Fernando Gonsales, Lourenço Mutarelli e Moacir Torres.
Fiquei feliz por ver os nomes de meus amigos Bira e Moacir entre os reconhecidos como Mestres dos Quadrinhos. O Bira foi muito parceiro nos primeiros anos da AQC, ainda antes da gaita. Sempre animado, desde aquela época ele já era dono de um traço preciso e caprichado; sua indicação é merecida. O Moacir eu conheci ainda garoto, nos anos 1970, quando ele ainda vivia e trabalhava em Santo André. Criador da Turma do Gabi, e editor do Jornal Taturana (com o poeta e escritor Claúdio Feldman), o que mais me impressionava no desenho de Moacir Torres era o capricho de sua arte final de pinceladas perfeitas. Moacir desenvolveu um trabalho extensivo de produção de revistas de atividades, provavelmente é o artista que mais trabalhou nesse nicho. Quanto a Gonsales e Mutarelli, não há nada de novo que eu possa dizer. São quadrinhistas geniais, já deviam estar na relação dos mestres há muito tempo.
Parabéns a todos os ganhadores.
A cerimônia de premiação acontecerá no dia 4 de fevereiro, a partir das 16 horas, no Espaço Cultural Instituto Cervantes, na Av. Paulista, 2439, em São Paulo.
Agostini, rock e kiwi
Mais uma vez, foi muito bom o Encontro de Cartunistas do ABC e Sampa acontecido no último dia 29 de janeiro no bucólico salão de festas do Frans Café da Avenida Portugal, em Santo André, em comemoração ao Dia do Quadrinho Nacional.
Uma farta mesa de petiscos esperava pelos visitantes; entre diversos tipos de salgadinhos e jujubas, frutas cristalizadas deliciosas, entre as quais se destacavam lindas rodelas de kiwi cristalizado, tão saborosas quanto bonitas.
Com rock dos anos setenta rolando na eletrola desde os primeiros momentos, foram chegando os cartunistas, que desta vez compareceram em peso, talvez motivados pela linda tarde de domingo (nos anos anteriores, a chuva só permitiu a presença dos mais valentes).
Além do organizador, Mastrotti, compareceram os cartunistas Pires, Gil, Fernandes, Gilmar, Zitto, Mario, Humberto Pessoa, Rubinho, Fabi Menassi, Rubens Junior, Rice, Vasqs, Depieri e Cerito, o jornalista Marcos Massolini - que emprestou a eletrola e vários vinis raríssimos -, as fanzineiras Thina Curtis, Fernanda de Aragão e Letícia Mendonça, além de amigos e familiares. Aqueles que por acaso eu não citei, perdoem-me. Afinal, este foi o encontro com o maior números de participantes até hoje.
Ninguém escapou de fazer pelo menos uma caricatura de patriarca dos quadrinhos brasileiros, o jornalista italobrasileiro Angelo Agostini, e o varal ficou abarrotado de desenhos. Por volta das 19 horas, começou a seção de caricaturas dos presentes, e finalmente eu conquistei a pena do mestre Fernandes para me retratar, o que me valeu o dia. A conversa estendeu-se até às 21 horas, com a mesa sendo reposta pelos atentos colaboradores da casa.
Seguem abaixo algumas imagens do evento. Mais fotos podem ser vistas aqui.
Uma farta mesa de petiscos esperava pelos visitantes; entre diversos tipos de salgadinhos e jujubas, frutas cristalizadas deliciosas, entre as quais se destacavam lindas rodelas de kiwi cristalizado, tão saborosas quanto bonitas.
Com rock dos anos setenta rolando na eletrola desde os primeiros momentos, foram chegando os cartunistas, que desta vez compareceram em peso, talvez motivados pela linda tarde de domingo (nos anos anteriores, a chuva só permitiu a presença dos mais valentes).
Além do organizador, Mastrotti, compareceram os cartunistas Pires, Gil, Fernandes, Gilmar, Zitto, Mario, Humberto Pessoa, Rubinho, Fabi Menassi, Rubens Junior, Rice, Vasqs, Depieri e Cerito, o jornalista Marcos Massolini - que emprestou a eletrola e vários vinis raríssimos -, as fanzineiras Thina Curtis, Fernanda de Aragão e Letícia Mendonça, além de amigos e familiares. Aqueles que por acaso eu não citei, perdoem-me. Afinal, este foi o encontro com o maior números de participantes até hoje.
Ninguém escapou de fazer pelo menos uma caricatura de patriarca dos quadrinhos brasileiros, o jornalista italobrasileiro Angelo Agostini, e o varal ficou abarrotado de desenhos. Por volta das 19 horas, começou a seção de caricaturas dos presentes, e finalmente eu conquistei a pena do mestre Fernandes para me retratar, o que me valeu o dia. A conversa estendeu-se até às 21 horas, com a mesa sendo reposta pelos atentos colaboradores da casa.
Seguem abaixo algumas imagens do evento. Mais fotos podem ser vistas aqui.
sábado, 21 de janeiro de 2012
10º Encontro de Cartunistas do ABC e São Paulo
Seguindo a tradição, está confirmada a realização do 10º Encontro de Cartunistas do ABC e São Paulo, que acontece dia 29 de janeiro de 2012, a partir das 16 horas, no salão de festas do Frans Café da Av. Portugal, 1126, em Santo André/SP.
A atividade é uma iniciativa da Editora Virgo e do cartunista Mario Mastrotti em comemoração ao Dia do Quadrinho Nacional, e sempre recebe uma boa quantidade de artistas do traço: cartunistas,caricaturistas, quadrinhistas, tiristas, ilustradores e artistas gráficos que passam o tempo fazendo cartuns e caricaturas dos presentes.
Nesta edição, os artistas serão convidados a construir, na hora, um varal de caricaturas do padroeiro dos quadrinhos brasileiros, Angelo Agostini (1843-1910), um dos primeiros artistas a produzir histórias em quadrinhos no mundo. Estarão disponíveis para venda no local os livros da série Tiras de Letra, a única publicação periódica de tiras do país, além de outras publicações de humor gráfico.
Também vai rolar um festival de sons antigos em vinil; quem quiser, pode levar suas preciosidades para girar na pickup, bem como suas publicações para divulgar entre os presentes.
Fanzineiros, escritores, editores, animadores, gravadores, colecionadores de vinil, gibis, livros, brinquedos, simpatizantes e curiosos também serão todos muito bem vindos!
Veja aqui algumas fotos do Encontro de 2011.
A atividade é uma iniciativa da Editora Virgo e do cartunista Mario Mastrotti em comemoração ao Dia do Quadrinho Nacional, e sempre recebe uma boa quantidade de artistas do traço: cartunistas,caricaturistas, quadrinhistas, tiristas, ilustradores e artistas gráficos que passam o tempo fazendo cartuns e caricaturas dos presentes.
Nesta edição, os artistas serão convidados a construir, na hora, um varal de caricaturas do padroeiro dos quadrinhos brasileiros, Angelo Agostini (1843-1910), um dos primeiros artistas a produzir histórias em quadrinhos no mundo. Estarão disponíveis para venda no local os livros da série Tiras de Letra, a única publicação periódica de tiras do país, além de outras publicações de humor gráfico.
Também vai rolar um festival de sons antigos em vinil; quem quiser, pode levar suas preciosidades para girar na pickup, bem como suas publicações para divulgar entre os presentes.
Fanzineiros, escritores, editores, animadores, gravadores, colecionadores de vinil, gibis, livros, brinquedos, simpatizantes e curiosos também serão todos muito bem vindos!
Veja aqui algumas fotos do Encontro de 2011.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
O Tintim de Spielberg
Na manhã do dia 9 de janeiro, uma segunda feira, tive o privilégio de assistir à uma exibição especial para a imprensa do novo filme de Steven Spielberg, As aventuras de Tintim: O segredo do Licorne (The adventures of Tintin: The secret of the Unicorn). O evento aconteceu numa das salas de cinema do Shopping Bourbon, em São Paulo, dotada de tecnologia de projeção 3D IMAX, que é um dos mais expressivos apelos da indústria para motivar os espectadores a assistirem filmes fora de suas casas. Até é legal, mas muito mais que a magia do 3D, o que realmente impressiona é o gigantismo de tela. Nem mesmo no tempo do Cinemascope do saudoso Cine Comodoro a tela foi tão grande.
Mas no caso de um filme de Spielberg, todos esses apelos são secundários. O que realmente faz a diferença é a qualidade do trabalho do diretor, suficiente para sustentar qualquer filme, mesmo numa tela pequena.
Tintim conta uma história movimentadíssima estrelando o famoso personagem dos quadrinhos, um jornalista adolescente criado pelo quadrinhista belga Hergé – ou Georges Prosper Remi (1907-1983) –, que viaja pelo mundo investigando mistérios para um jornal de Bruxelas.
Desde 1981, Spielberg sonhava em fazer um filme com Tintim, pois muita gente havia comentado com ele as inúmeras similaridades entre o personagem belga e a sua criação, o arqueólogo Indiana Jones. Spielberg até havia negociado alguma coisa diretamente com Hergé, antes da sua morte em 1983, mas o licenciamento final só foi obtido em 2007. Com o apoio do neozelandês Peter Jackson, diretor da premiada trilogia O senhor dos anéis, Spielberg preparou roteiros para três filmes com o personagem e, desde então, vinha produzindo o primeiro longa metragem com grande expectativa do público.
As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne foi lançado em outubro de 2011, na Bélgica, inaugurando um novo conceito em animação que eleva a arte a um patamar inédito de realismo e deve indicar um novo rumo para as adaptações dos quadrinhos no cinema.
Apesar de uma textura "live action", Tintim é de fato um filme de animação, produzido através de uma tecnologia de captação de movimentos reais, conhecida como "motion capture", com movimentos extremamente naturais somados a uma produção de arte hiper realista, na qual apenas as fisionomias propositalmente caricatas dos personagens revelam tratar-se de uma animação.
Combinando trechos de pelo menos quatro aventuras independentes do personagem, a história inicia seguindo, passo a passo, o roteiro do álbum homônimo, O segredo do Licorne, com direito a uma ponta do próprio Hergé logo na primeira cena, fazendo a caricatura de Tintim numa feira de antiguidades ao ar livre numa praça do romântico centro de Bruxelas, em alguma época próxima a 1940. Ali, Tintim compra a bela miniatura de uma caravela, o Licorne do título, que imediatamente passa a ser disputada por mais dois homens. O interesse deles não é ocasional pois, sem que Tintim saiba, a miniatura esconde em um dos mastros a pista da localização de um tesouro histórico. Tintim é envolvido numa trama patrocinada pelo diabólico Saccarin, descendente do malvado pirata Rackham o Terrível, que pretende recuperar o tesouro perdido a qualquer custo.
A partir daqui, a história segue o roteiro de O caranguejo das pinças de ouro. Seqüestrado pelos asseclas de Saccarin e aprisionados no cargueiro Karabudjan, Tintim e seu cachorrinho Milu conhecem Haddock, o alcoólatra porém inocente capitão do navio. Juntos, eles vão lutar para impedir a concretização dos planos nefastos do vilão. A aventura os levará do meio do Oceano Atlântico ao deserto do Saara, de uma perseguição alucinante pelas ruas de uma cidade árabe no melhor estilo Indiana Jones – que parece ter sido inspirada num trecho de O cetro de Ottokar –, ao duelo final entre Haddock e Saccarin esgrimindo com guindastes enormes no porto de Bruxelas, uma cena que não me lembro de ter visto em nenhuma das aventuras originais. O desfecho da história utiliza a conclusão de O tesouro de Rackham o Terrível.
Um gancho óbvio antecipa a seqüência que, desde o início, está prometida para Peter Jackson e será baseada nas histórias As sete bolas de cristal e O templo do sol. A terceira e última parte será dirigida pelos dois cineastas, contando as histórias de Rumo à Lua e Explorando a Lua, o maior clássico da carreira do personagem.
Mesmo quem nunca ouviu falar de Tintim não terá dificuldade para aproveitar o filme, que se sustenta por si, mas aqueles que já o conhecem vão encontrar inúmeras referências espalhadas pelas cenas, que tornam a experiência cinematográfica ainda mais divertida.
As Aventuras de Tintim: O segredo do Licorne é um delicioso filme de ação, mas também é uma homenagem emocionante ao gênio de Hergé, recuperando legitimamente para as novas gerações uma das obras primas da arte dos quadrinhos.
Mais informações sobre Tintim no Um Blog! no Planeta Mongo.
Mas no caso de um filme de Spielberg, todos esses apelos são secundários. O que realmente faz a diferença é a qualidade do trabalho do diretor, suficiente para sustentar qualquer filme, mesmo numa tela pequena.
Tintim conta uma história movimentadíssima estrelando o famoso personagem dos quadrinhos, um jornalista adolescente criado pelo quadrinhista belga Hergé – ou Georges Prosper Remi (1907-1983) –, que viaja pelo mundo investigando mistérios para um jornal de Bruxelas.
Desde 1981, Spielberg sonhava em fazer um filme com Tintim, pois muita gente havia comentado com ele as inúmeras similaridades entre o personagem belga e a sua criação, o arqueólogo Indiana Jones. Spielberg até havia negociado alguma coisa diretamente com Hergé, antes da sua morte em 1983, mas o licenciamento final só foi obtido em 2007. Com o apoio do neozelandês Peter Jackson, diretor da premiada trilogia O senhor dos anéis, Spielberg preparou roteiros para três filmes com o personagem e, desde então, vinha produzindo o primeiro longa metragem com grande expectativa do público.
As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne foi lançado em outubro de 2011, na Bélgica, inaugurando um novo conceito em animação que eleva a arte a um patamar inédito de realismo e deve indicar um novo rumo para as adaptações dos quadrinhos no cinema.
Apesar de uma textura "live action", Tintim é de fato um filme de animação, produzido através de uma tecnologia de captação de movimentos reais, conhecida como "motion capture", com movimentos extremamente naturais somados a uma produção de arte hiper realista, na qual apenas as fisionomias propositalmente caricatas dos personagens revelam tratar-se de uma animação.
Combinando trechos de pelo menos quatro aventuras independentes do personagem, a história inicia seguindo, passo a passo, o roteiro do álbum homônimo, O segredo do Licorne, com direito a uma ponta do próprio Hergé logo na primeira cena, fazendo a caricatura de Tintim numa feira de antiguidades ao ar livre numa praça do romântico centro de Bruxelas, em alguma época próxima a 1940. Ali, Tintim compra a bela miniatura de uma caravela, o Licorne do título, que imediatamente passa a ser disputada por mais dois homens. O interesse deles não é ocasional pois, sem que Tintim saiba, a miniatura esconde em um dos mastros a pista da localização de um tesouro histórico. Tintim é envolvido numa trama patrocinada pelo diabólico Saccarin, descendente do malvado pirata Rackham o Terrível, que pretende recuperar o tesouro perdido a qualquer custo.
A partir daqui, a história segue o roteiro de O caranguejo das pinças de ouro. Seqüestrado pelos asseclas de Saccarin e aprisionados no cargueiro Karabudjan, Tintim e seu cachorrinho Milu conhecem Haddock, o alcoólatra porém inocente capitão do navio. Juntos, eles vão lutar para impedir a concretização dos planos nefastos do vilão. A aventura os levará do meio do Oceano Atlântico ao deserto do Saara, de uma perseguição alucinante pelas ruas de uma cidade árabe no melhor estilo Indiana Jones – que parece ter sido inspirada num trecho de O cetro de Ottokar –, ao duelo final entre Haddock e Saccarin esgrimindo com guindastes enormes no porto de Bruxelas, uma cena que não me lembro de ter visto em nenhuma das aventuras originais. O desfecho da história utiliza a conclusão de O tesouro de Rackham o Terrível.
Um gancho óbvio antecipa a seqüência que, desde o início, está prometida para Peter Jackson e será baseada nas histórias As sete bolas de cristal e O templo do sol. A terceira e última parte será dirigida pelos dois cineastas, contando as histórias de Rumo à Lua e Explorando a Lua, o maior clássico da carreira do personagem.
Mesmo quem nunca ouviu falar de Tintim não terá dificuldade para aproveitar o filme, que se sustenta por si, mas aqueles que já o conhecem vão encontrar inúmeras referências espalhadas pelas cenas, que tornam a experiência cinematográfica ainda mais divertida.
As Aventuras de Tintim: O segredo do Licorne é um delicioso filme de ação, mas também é uma homenagem emocionante ao gênio de Hergé, recuperando legitimamente para as novas gerações uma das obras primas da arte dos quadrinhos.
Mais informações sobre Tintim no Um Blog! no Planeta Mongo.
O Tintim de Hergé
Aproveitando o lançamento do primeiro longa da trilogia As aventuras de Tintim: O segredo do Licorne (The adventures of Tintin: The secret of the Unicorn), vamos relembrar um pouco da histórias deste que é um dos mais importantes personagem da história dos quadrinhos.
Criado pelo jornalista e ilustrador belga Georges Prosper Remi, ou Hergé (1907-1983), Tintim é um caso especial nos quadrinhos não só devido à elevada qualidade gráfica e narrativa, mas também às polêmicas que o acompanham desde sua estréia.
Em 1929, Hergé trabalhava no jornal católico Le Vingtième Siècle, como editor do suplemento infantil Petit Vingtième, quando recebeu do diretor do jornal a encomenda de uma história em quadrinhos na qual houvesse um menino e um cachorro. Hergé criou Tintim, um jovem jornalista investigativo que, em sua primeira aventura, acompanhado de um fox terrier chamado Milu, visita a então União Soviética na série Tintim no país do Sovietes (Tintin au pays des Soviets).
Publicada em capítulos, a história causou furor entre os leitores. Tanto que, no dia em que seria publicado o último episódio, o jornal promoveu, com atores reais, a dramatização da chegada de Tintim a Bruxelas, e milhares de jovens correram ao porto para ver o personagem desembarcar.
Hergé não conhecia a União Soviética e baseou a narrativa no livro Moscou sans voile, do ex-cônsul belga na Rússia, Joseph Douillet, cuja visão da política soviética não era nada favorável. Seus conceitos foram repetidos por Hergé, o que lhe valeu muitas polêmicas, incluindo sua censura na China, que dura até hoje. Contudo, vistas pelo distanciamento histórico de hoje, as críticas feitas por Hergé não estavam muito distantes da realidade do comunismo soviético.
Em 1931, Hergé produziu Tintim no Congo (Tintin au Congo), na qual o personagem viaja à então colônia belga na África. Hergé também nunca havia visitado o Congo e produziu um trabalho repleto de estereótipos e preconceitos sobre o povo africano, além de uma opinião geral a favor do colonialismo. Mais tarde, Hergé reconheceu os erros da obra e a redefiniu, amenizando seus aspectos mais agudos, mas ainda hoje o trabalho colhe críticas e processos legais em diversas partes do mundo. A seu favor, contudo, cabe dizer que Tintim no Congo é o álbum mais popular do personagem na África.
Nos anos seguintes, Hergé produziu histórias com cada vez maior qualidade, como Tintim na América (Tintin en Amérique, 1932), Os charutos do faraó (Les cigares du pharaon, 1934) e O lótus azul (Le lotus bleu, 1936), uma história que se passa na China ocupada pelos japoneses, na qual o autor contou com a assessoria de Tchang Tchong-Jen, chinês nativo que demonstrou a Hergé o valor de uma boa pesquisa. Daí em diante, o trabalho de Hergé ganhou contornos mais realistas e apurados, como se pode ver em O ídolo roubado (L'oreille cassée, 1937), A Ilha Negra (L'Ile Noire, 1938) e O cetro de Ottokar (Le sceptre d'Ottokar, 1939).
Com a ocupação da Bélgica pela Alemanha em 1940, o jornal Le Vingtième Siècle foi fechado, e as aventuras de Tintim passaram a se publicadas no jornal Le Soir, sob autorização do governo nazista. As histórias desse período são menos políticas, como O caranguejo das pinças de ouro (Le crabe aux pinces d'or, 1941), que nos apresentou o irascível Capitão Haddock, A estrela misteriosa (L'étoile mysterieuse, 1942), O segredo do Licorne (Le secret de la Licorne, 1943) e O tesouro de Rackham o Terrível (Le trésor de Rackham le Rouge, 1944), no qual surgiu o Professor Girassol, o genial cientista meio surdo.
Em 1942, a Editora Casterman comprou os direitos de publicação de Tintim e implantou o formato de álbum em cores, que hoje caracteriza as edições franco-belgas. Todas as histórias antigas foram adaptadas para o novo padrão, exceto Tintim no País do Sovietes, que nunca foi retrabalhado, sendo até hoje republicado exatamente como na primeira vez, em preto e branco.
Com a retirada das tropas nazistas em 1944, Tintim parou de ser publicado no Le Soir. Hergé retomou o ritmo de publicação em 1948, com As sete bolas de cristal (Les sept boules de cristal), O templo do Sol (Le temple du Soleil, 1949) e Tintim no país do ouro negro (Tintin au pays de l'or noir, 1950).
Em pleno clima de Guerra Fria, Hergé levou seus personagens a uma alunissagem bem sucedida quinze anos antes do Projeto Apolo, em Rumo à Lua (Objectif Lune, 1953) e Explorando a Lua (On a marché sur la Lune, 1954). É curioso notar que a história apresentou idéias que, mais tarde, os cientistas da NASA aproveitariam na viagem real.
Completam a obra de Hergé, O caso Girassol (L'affaire Tournesol, 1956), Perdidos no mar (Coke en stock, 1958), Tintim no Tibete (Tintin au Tibet, 1960), As jóias da Castafiore (Les bijoux de la Castafiore, 1963), Vôo 714 para Sydney (Vol 714 Pour Sydney, 1968) e, o último deles, Tintim e os Pícaros (Tintin et les Picaros, 1976). Hergé nunca concluiria a produção de Tintim e a Alfa-Arte (Tintin et l'Alph-Art), publicado postumamente em 1986.
Tintim ainda contou com três histórias originais levadas ao cinema com atores reais: Tintim e o mistério do Tosão de Ouro (Tintin et le mystère de la Toison d'Or, 1961), Tintim e as laranjas azuis (Tintin et les oranges bleues, 1964) e Tintim e o lago dos tubarões (Tintin et le lac aux requins, 1972).
As histórias chegaram à televisão nas séries de desenhos animados Les aventures de Tintin, d'après Hergé, produzida pela companhia belga Belvision em 1961, e The adventures of Tintin, da canadense Nelvana, produzida em 1991.
Traduzido para mais de cinqüenta línguas, com duzentos milhões de exemplares vendidos e uma coleção de prêmios internacionais, Tintim completou oitenta anos de publicação em 2009, sem perder o vigor narrativo e sem esgotar as polêmicas, sinal da grande profundidade artística, histórica e sociológica do trabalho e das idéias de Hergé, que deixou um legado importantíssimo na história da arte dos quadrinhos e da cultura pop, que influencia artistas em todo o mundo. No Brasil, Tintim é atualmente publicado pela Editora Companhia das Letras.
Mais sobre o novo filme de Tintim no cinema no Um blog em quadrinhos.
Criado pelo jornalista e ilustrador belga Georges Prosper Remi, ou Hergé (1907-1983), Tintim é um caso especial nos quadrinhos não só devido à elevada qualidade gráfica e narrativa, mas também às polêmicas que o acompanham desde sua estréia.
Em 1929, Hergé trabalhava no jornal católico Le Vingtième Siècle, como editor do suplemento infantil Petit Vingtième, quando recebeu do diretor do jornal a encomenda de uma história em quadrinhos na qual houvesse um menino e um cachorro. Hergé criou Tintim, um jovem jornalista investigativo que, em sua primeira aventura, acompanhado de um fox terrier chamado Milu, visita a então União Soviética na série Tintim no país do Sovietes (Tintin au pays des Soviets).
Publicada em capítulos, a história causou furor entre os leitores. Tanto que, no dia em que seria publicado o último episódio, o jornal promoveu, com atores reais, a dramatização da chegada de Tintim a Bruxelas, e milhares de jovens correram ao porto para ver o personagem desembarcar.
Hergé não conhecia a União Soviética e baseou a narrativa no livro Moscou sans voile, do ex-cônsul belga na Rússia, Joseph Douillet, cuja visão da política soviética não era nada favorável. Seus conceitos foram repetidos por Hergé, o que lhe valeu muitas polêmicas, incluindo sua censura na China, que dura até hoje. Contudo, vistas pelo distanciamento histórico de hoje, as críticas feitas por Hergé não estavam muito distantes da realidade do comunismo soviético.
Em 1931, Hergé produziu Tintim no Congo (Tintin au Congo), na qual o personagem viaja à então colônia belga na África. Hergé também nunca havia visitado o Congo e produziu um trabalho repleto de estereótipos e preconceitos sobre o povo africano, além de uma opinião geral a favor do colonialismo. Mais tarde, Hergé reconheceu os erros da obra e a redefiniu, amenizando seus aspectos mais agudos, mas ainda hoje o trabalho colhe críticas e processos legais em diversas partes do mundo. A seu favor, contudo, cabe dizer que Tintim no Congo é o álbum mais popular do personagem na África.
Nos anos seguintes, Hergé produziu histórias com cada vez maior qualidade, como Tintim na América (Tintin en Amérique, 1932), Os charutos do faraó (Les cigares du pharaon, 1934) e O lótus azul (Le lotus bleu, 1936), uma história que se passa na China ocupada pelos japoneses, na qual o autor contou com a assessoria de Tchang Tchong-Jen, chinês nativo que demonstrou a Hergé o valor de uma boa pesquisa. Daí em diante, o trabalho de Hergé ganhou contornos mais realistas e apurados, como se pode ver em O ídolo roubado (L'oreille cassée, 1937), A Ilha Negra (L'Ile Noire, 1938) e O cetro de Ottokar (Le sceptre d'Ottokar, 1939).
Com a ocupação da Bélgica pela Alemanha em 1940, o jornal Le Vingtième Siècle foi fechado, e as aventuras de Tintim passaram a se publicadas no jornal Le Soir, sob autorização do governo nazista. As histórias desse período são menos políticas, como O caranguejo das pinças de ouro (Le crabe aux pinces d'or, 1941), que nos apresentou o irascível Capitão Haddock, A estrela misteriosa (L'étoile mysterieuse, 1942), O segredo do Licorne (Le secret de la Licorne, 1943) e O tesouro de Rackham o Terrível (Le trésor de Rackham le Rouge, 1944), no qual surgiu o Professor Girassol, o genial cientista meio surdo.
Em 1942, a Editora Casterman comprou os direitos de publicação de Tintim e implantou o formato de álbum em cores, que hoje caracteriza as edições franco-belgas. Todas as histórias antigas foram adaptadas para o novo padrão, exceto Tintim no País do Sovietes, que nunca foi retrabalhado, sendo até hoje republicado exatamente como na primeira vez, em preto e branco.
Com a retirada das tropas nazistas em 1944, Tintim parou de ser publicado no Le Soir. Hergé retomou o ritmo de publicação em 1948, com As sete bolas de cristal (Les sept boules de cristal), O templo do Sol (Le temple du Soleil, 1949) e Tintim no país do ouro negro (Tintin au pays de l'or noir, 1950).
Em pleno clima de Guerra Fria, Hergé levou seus personagens a uma alunissagem bem sucedida quinze anos antes do Projeto Apolo, em Rumo à Lua (Objectif Lune, 1953) e Explorando a Lua (On a marché sur la Lune, 1954). É curioso notar que a história apresentou idéias que, mais tarde, os cientistas da NASA aproveitariam na viagem real.
Completam a obra de Hergé, O caso Girassol (L'affaire Tournesol, 1956), Perdidos no mar (Coke en stock, 1958), Tintim no Tibete (Tintin au Tibet, 1960), As jóias da Castafiore (Les bijoux de la Castafiore, 1963), Vôo 714 para Sydney (Vol 714 Pour Sydney, 1968) e, o último deles, Tintim e os Pícaros (Tintin et les Picaros, 1976). Hergé nunca concluiria a produção de Tintim e a Alfa-Arte (Tintin et l'Alph-Art), publicado postumamente em 1986.
Tintim ainda contou com três histórias originais levadas ao cinema com atores reais: Tintim e o mistério do Tosão de Ouro (Tintin et le mystère de la Toison d'Or, 1961), Tintim e as laranjas azuis (Tintin et les oranges bleues, 1964) e Tintim e o lago dos tubarões (Tintin et le lac aux requins, 1972).
As histórias chegaram à televisão nas séries de desenhos animados Les aventures de Tintin, d'après Hergé, produzida pela companhia belga Belvision em 1961, e The adventures of Tintin, da canadense Nelvana, produzida em 1991.
Traduzido para mais de cinqüenta línguas, com duzentos milhões de exemplares vendidos e uma coleção de prêmios internacionais, Tintim completou oitenta anos de publicação em 2009, sem perder o vigor narrativo e sem esgotar as polêmicas, sinal da grande profundidade artística, histórica e sociológica do trabalho e das idéias de Hergé, que deixou um legado importantíssimo na história da arte dos quadrinhos e da cultura pop, que influencia artistas em todo o mundo. No Brasil, Tintim é atualmente publicado pela Editora Companhia das Letras.
Mais sobre o novo filme de Tintim no cinema no Um blog em quadrinhos.
domingo, 15 de janeiro de 2012
Últimas leituras de 2011
Entre os lançamentos do final de 2011, chegaram-me às mãos três títulos interessantes.
Fiz questão de ler primeiro a coletânea de tiras Rei Emir Saad: O monstro de Zazarov, novo álbum do cartunista carioca André Dahmer. Trata-se de uma série de humor negro, na qual o dito Emir Saad, rei do Ziniguistão, mantém seu poder através de violência, tortura e crimes políticos, às vezes fazendo o tipo de rei medieval, outras o de ditador sul-americano ou de algum estado da Europa Oriental. As tiras são interessantes e devem funcionar muito bem quando publicadas num jornal diário, mas a leitura s contínua é algo incômoda. Dahmer tem se especializado em fazer graça com temas espinhosos, como em sua série de tiras mais conhecida, "Malvados", sobre as maldades cotidianas, e "Apóstolos", com críticas ao Cristianismo. O álbum tem 96 páginas em cores e foi publicado pelo selo Barba Negra da Editora Leya.
Outro lançamento recente é Brasil 1500: Segredo de Estado, de Fábio Fonseca, Andrei Miralha e Otoniel Oliveira. Trata-se de uma aventura histórica, que acontece em Lisboa entre a volta de Vasco da Gama de sua viagem às Índias e a partida da frota de Pedro Álvares Cabral. Um jovem acaba envolvido nas tramas de um espião espanhol, cobiçoso de informações sobre as novas rotas descobertas pelos navegantes portugueses. A aventura tem ilustrações competentes e um estilo narrativo algo didático. O melhor de tudo é o desprezível espião espanhol Mendoza, que estabelece todos os conflitos da história. Como já disse, a história termina exatamente no momento em que a frota cabralina zarpa do Rio Tejo, com um gancho perfeito para uma sequência. O álbum tem 48 páginas em cores e é uma publicação da Devir Livraria.
Completei minhas leituras em 2011 com o surpreendente A Liga Extraordinária: Século 1969, de Alan Moore e Kevin O'Neil, também publicado pela Devir Livraria. Depois dos excelentes volumes iniciais (A Liga Extraordinária I e II) e de ter sido obrigada a saltar a publicação do excepcional Black Dossier por conta de problemas com direitos autorais da edição original, a editora brasileira havia apresentado em 2010 o fraquinho A Liga Extraordinária: Século 1910, que não satisfez os leitores das edições anteriores. A ausência da contextualização de Black Dossiê, que não é muito esclarecida nem mesmo no resumo que acompanha a edição, deixou a história solta e frouxa.
As muitas alterações dos personagens e a dificuldade do autor em continuar a usar referências contemporâneas – que devem ter sido justamente as causas dos problemas legais enfrentados em Black Dossier – também tiraram o brilho que caracterizava a trama. Restrito às referências de domínio público, Moore e O'Neil tiveram de frear seu ímpeto criativo, fixando a história em Wilhelmina Murray e Allan Quartermain às voltas com o supervilão místico Oliver Haddo. As novas aquisições da Liga, Thomas Carnacki, Arthur Raffles e o curioso Orlando, imortal que muda periodicamente de sexo, não chegaram a empolgar. Então, a expectativa por Século 1969 não era das melhores, principalmente porque o apelo steampunk das primeiras edições certamente não estaria presente. Contudo, os autores conseguiram destacar novos caminhos para sustentar a aventura iniciada na edição anterior. Agora, uma Liga Extraordinária diluída e ilegal chega ao tempo do amor livre, da pílula e das drogas numa Londres alternativa em constante orgia. Depois das duas guerras mundiais e dos anos de ditadura do Grande Irmão, quando a Liga foi desfeita e devidamente apagada da memória oficial, Murray, Quartermain e Orlando têm uma nova chance de acabar com as armações de Haddo. O clímax da narrativa acontecendo durante um show de rock no Hide Park, em ritmo de viagem lisérgica. Os textos de apoio acrescentaram mais detalhes ao período "em branco" da Liga, de forma que a trama voltou a ganhar foco. Impossível não fazer paralelo entre A Liga Extraordinária e outra obra importante de Alan Moore, Watchmen, que também conta uma história de intrigas numa realidade alternativa com um grupo de heróis atirados na ilegalidade. Mas isso só melhora a coisa toda.
Século 1969 ainda está distante da excitação dos primeiros volumes de A Liga Extraordinária, mas já recuperou um pouco do brilho dessa que é uma das sagas mais criativas da história dos quadrinhos.
Fiz questão de ler primeiro a coletânea de tiras Rei Emir Saad: O monstro de Zazarov, novo álbum do cartunista carioca André Dahmer. Trata-se de uma série de humor negro, na qual o dito Emir Saad, rei do Ziniguistão, mantém seu poder através de violência, tortura e crimes políticos, às vezes fazendo o tipo de rei medieval, outras o de ditador sul-americano ou de algum estado da Europa Oriental. As tiras são interessantes e devem funcionar muito bem quando publicadas num jornal diário, mas a leitura s contínua é algo incômoda. Dahmer tem se especializado em fazer graça com temas espinhosos, como em sua série de tiras mais conhecida, "Malvados", sobre as maldades cotidianas, e "Apóstolos", com críticas ao Cristianismo. O álbum tem 96 páginas em cores e foi publicado pelo selo Barba Negra da Editora Leya.
Outro lançamento recente é Brasil 1500: Segredo de Estado, de Fábio Fonseca, Andrei Miralha e Otoniel Oliveira. Trata-se de uma aventura histórica, que acontece em Lisboa entre a volta de Vasco da Gama de sua viagem às Índias e a partida da frota de Pedro Álvares Cabral. Um jovem acaba envolvido nas tramas de um espião espanhol, cobiçoso de informações sobre as novas rotas descobertas pelos navegantes portugueses. A aventura tem ilustrações competentes e um estilo narrativo algo didático. O melhor de tudo é o desprezível espião espanhol Mendoza, que estabelece todos os conflitos da história. Como já disse, a história termina exatamente no momento em que a frota cabralina zarpa do Rio Tejo, com um gancho perfeito para uma sequência. O álbum tem 48 páginas em cores e é uma publicação da Devir Livraria.
Completei minhas leituras em 2011 com o surpreendente A Liga Extraordinária: Século 1969, de Alan Moore e Kevin O'Neil, também publicado pela Devir Livraria. Depois dos excelentes volumes iniciais (A Liga Extraordinária I e II) e de ter sido obrigada a saltar a publicação do excepcional Black Dossier por conta de problemas com direitos autorais da edição original, a editora brasileira havia apresentado em 2010 o fraquinho A Liga Extraordinária: Século 1910, que não satisfez os leitores das edições anteriores. A ausência da contextualização de Black Dossiê, que não é muito esclarecida nem mesmo no resumo que acompanha a edição, deixou a história solta e frouxa.
As muitas alterações dos personagens e a dificuldade do autor em continuar a usar referências contemporâneas – que devem ter sido justamente as causas dos problemas legais enfrentados em Black Dossier – também tiraram o brilho que caracterizava a trama. Restrito às referências de domínio público, Moore e O'Neil tiveram de frear seu ímpeto criativo, fixando a história em Wilhelmina Murray e Allan Quartermain às voltas com o supervilão místico Oliver Haddo. As novas aquisições da Liga, Thomas Carnacki, Arthur Raffles e o curioso Orlando, imortal que muda periodicamente de sexo, não chegaram a empolgar. Então, a expectativa por Século 1969 não era das melhores, principalmente porque o apelo steampunk das primeiras edições certamente não estaria presente. Contudo, os autores conseguiram destacar novos caminhos para sustentar a aventura iniciada na edição anterior. Agora, uma Liga Extraordinária diluída e ilegal chega ao tempo do amor livre, da pílula e das drogas numa Londres alternativa em constante orgia. Depois das duas guerras mundiais e dos anos de ditadura do Grande Irmão, quando a Liga foi desfeita e devidamente apagada da memória oficial, Murray, Quartermain e Orlando têm uma nova chance de acabar com as armações de Haddo. O clímax da narrativa acontecendo durante um show de rock no Hide Park, em ritmo de viagem lisérgica. Os textos de apoio acrescentaram mais detalhes ao período "em branco" da Liga, de forma que a trama voltou a ganhar foco. Impossível não fazer paralelo entre A Liga Extraordinária e outra obra importante de Alan Moore, Watchmen, que também conta uma história de intrigas numa realidade alternativa com um grupo de heróis atirados na ilegalidade. Mas isso só melhora a coisa toda.
Século 1969 ainda está distante da excitação dos primeiros volumes de A Liga Extraordinária, mas já recuperou um pouco do brilho dessa que é uma das sagas mais criativas da história dos quadrinhos.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
O melhor do mundo da FCB
Há alguns dias, o escritor Luiz Bras promoveu por email uma votação informal entre cerca de 50 fãs, pesquisadores, editores e autores de FC para identificar um possível cânone da ficção científica curta brasileira que lhe servisse de base para um artigo analítico. Bras solicitou que cada convidado indicasse, em ordem de preferência, três textos que fossem os melhores da FCB na opinião de cada um.
Usando um processo de pontuação ponderado similar ao usado no extinto Prêmio Nova, obteve o seguinte resultado:
1 - A escuridão, de André Carneiro (25 pontos)
2 - A ética da traição, de Gerson Lodi-Ribeiro (20 pontos)
3 - Eu matei Paolo Rossi, de Octavio Aragão (13 pontos)
4 - Mestre-de-armas, de Braulio Tavares (13 pontos)
5 - O homem que hipnotizava, de André Carneiro (6 pontos)
6 - Pendão da esperança, de Flávio Medeiros Jr. (6 pontos)
7 - Água de Nagasáqui, de Domingos Carvalho da Silva (5 pontos)
8 - Assassinando o tempo, de Cristina Lasaitis (5 pontos)
9 - Cão de lata ao rabo, de Braulio Tavares (5 pontos)
10 - Um braço na quarta dimensão, de Jerônymo Monteiro (5 pontos)
O artigo com as conclusões de Bras será publicado na edição de março do jornal literário Rascunho.
Ainda que tenha sido uma pesquisa informal, o levantamento é válido e pode ser comparado com uma votação similar realizada em 1998 pelo fanzine Megalon. Mesmo levando em conta que nessa votação valia votar também na ficção longa, o resultado revela que muita coisa mudou na opinião dos fãs. As 10 primeiras posições então eram:
1 - A ética da traição, de Gerson Lodi-Ribeiro
2 - A mãe do sonho, de Ivanir Calado (romance)
3 - Demônios, de Aluísio de Azevedo
4 - A escuridão, de André Carneiro
5 - Padrões de contato, de Jorge Luiz Calife (romance)
6 - O vampiro de Nova Holanda, de Gerson Lodi-Ribeiro
7 - O príncipe da sombras, de Baulio Tavares
8 - O 31.o peregrino, de Rubens Teixeira Scavone
9 - A nuvem, de Ricardo Teixeira
10 - A chave do tamanho, de Monteiro Lobato (romance)
Participei de ambas as votações e, para dizer a verdade, discordo do resultado de ambas. Por pura diversão, resolvi definir os 10 melhores contos da FCB – sem considerar romances – na minha opinião. O resultado foi:
1 - A escuridão, de André Carneiro
2 - Tuj, de Walter Martins
3 - Um braço na quarta dimensão, de Jerônymo Monteiro
4 - O 31.o peregrino, Rubens T. Scavone
5 - Da mayor speriencia, de Nilson Martello
6 - O último artilheiro, de Levy Menezes
7 - A última publicidade do hebefrênico Alfredo, Ivan Carlos Regina
8 - O altar de nossos corações, de Ivanir Calado
9 - Aí vem o sol, de José dos Santos Fernandes
10 - Mestre-de-armas, de Braulio Tavares.
É claro que o resultado de qualquer votação vai variar conforme o grupo de votantes e a época em que a dinâmica for realizada, devido aos grupos de consulta serem geralmente muito pequenos e a uma série de outras influências imponderáveis. A FCB ainda carece de muito estudo para determinar, com precisão, um cânone legítimo de si mesma. Mas dinâmicas como esta sempre servem para fazer avançar um pouco mais a noção que o gênero faz de si mesmo.
Usando um processo de pontuação ponderado similar ao usado no extinto Prêmio Nova, obteve o seguinte resultado:
1 - A escuridão, de André Carneiro (25 pontos)
2 - A ética da traição, de Gerson Lodi-Ribeiro (20 pontos)
3 - Eu matei Paolo Rossi, de Octavio Aragão (13 pontos)
4 - Mestre-de-armas, de Braulio Tavares (13 pontos)
5 - O homem que hipnotizava, de André Carneiro (6 pontos)
6 - Pendão da esperança, de Flávio Medeiros Jr. (6 pontos)
7 - Água de Nagasáqui, de Domingos Carvalho da Silva (5 pontos)
8 - Assassinando o tempo, de Cristina Lasaitis (5 pontos)
9 - Cão de lata ao rabo, de Braulio Tavares (5 pontos)
10 - Um braço na quarta dimensão, de Jerônymo Monteiro (5 pontos)
O artigo com as conclusões de Bras será publicado na edição de março do jornal literário Rascunho.
Ainda que tenha sido uma pesquisa informal, o levantamento é válido e pode ser comparado com uma votação similar realizada em 1998 pelo fanzine Megalon. Mesmo levando em conta que nessa votação valia votar também na ficção longa, o resultado revela que muita coisa mudou na opinião dos fãs. As 10 primeiras posições então eram:
1 - A ética da traição, de Gerson Lodi-Ribeiro
2 - A mãe do sonho, de Ivanir Calado (romance)
3 - Demônios, de Aluísio de Azevedo
4 - A escuridão, de André Carneiro
5 - Padrões de contato, de Jorge Luiz Calife (romance)
6 - O vampiro de Nova Holanda, de Gerson Lodi-Ribeiro
7 - O príncipe da sombras, de Baulio Tavares
8 - O 31.o peregrino, de Rubens Teixeira Scavone
9 - A nuvem, de Ricardo Teixeira
10 - A chave do tamanho, de Monteiro Lobato (romance)
Participei de ambas as votações e, para dizer a verdade, discordo do resultado de ambas. Por pura diversão, resolvi definir os 10 melhores contos da FCB – sem considerar romances – na minha opinião. O resultado foi:
1 - A escuridão, de André Carneiro
2 - Tuj, de Walter Martins
3 - Um braço na quarta dimensão, de Jerônymo Monteiro
4 - O 31.o peregrino, Rubens T. Scavone
5 - Da mayor speriencia, de Nilson Martello
6 - O último artilheiro, de Levy Menezes
7 - A última publicidade do hebefrênico Alfredo, Ivan Carlos Regina
8 - O altar de nossos corações, de Ivanir Calado
9 - Aí vem o sol, de José dos Santos Fernandes
10 - Mestre-de-armas, de Braulio Tavares.
É claro que o resultado de qualquer votação vai variar conforme o grupo de votantes e a época em que a dinâmica for realizada, devido aos grupos de consulta serem geralmente muito pequenos e a uma série de outras influências imponderáveis. A FCB ainda carece de muito estudo para determinar, com precisão, um cânone legítimo de si mesma. Mas dinâmicas como esta sempre servem para fazer avançar um pouco mais a noção que o gênero faz de si mesmo.
Fandemônio
O título provocativo, resultado da fusão das palavras fandom + pandemônio, é de uma coluna de análise do estado da arte da FC nacional publicado no saite O Bule.
A coluna, assinada pelo escritor Roberto de Sousa Causo, será mensal e vai apresentar textos densos e longos. O artigo de estreia, "Para deglutir o futuro", faz referência a discussão sobre a antropofagia do Modernismo aplicada a FCB, que vem gerando discussão há muito tempo e teve um recente ressurgimento em alguns fóruns do fandom. Vale a pena acompanhar.
A coluna, assinada pelo escritor Roberto de Sousa Causo, será mensal e vai apresentar textos densos e longos. O artigo de estreia, "Para deglutir o futuro", faz referência a discussão sobre a antropofagia do Modernismo aplicada a FCB, que vem gerando discussão há muito tempo e teve um recente ressurgimento em alguns fóruns do fandom. Vale a pena acompanhar.
Brontops Baruq vence Concurso Hydra
Depois de uma longa espera finalmente foi anunciado o nome do conto vencedor do Prêmio Hydra, promovido pelo escritor Christopher Kastensmidt em parceria com o saite Orson Scott Card’s Intergalactic Medicine Show.
Trata-se do conto "História com desenho e diálogo", publicado originalmente na antologia Portal Fundação, em 2010. O trabalho será traduzido para o inglês e publicado no referido saite na edição de janeiro.
Além do texto de Baruq, os organizadores acharam por bem publicar ainda o conto "Por um fio” de Flávio Medeiros Júnior, visto na antologia Steampunk (Tarja Editorial, 2010), que será publicado na edição de março ou abril. Dessa forma, a FCB rompe a intransponível barreira linguística e tenta se instalar do concorrido mercado norteamericano. Parabéns aos vencedores!
Trata-se do conto "História com desenho e diálogo", publicado originalmente na antologia Portal Fundação, em 2010. O trabalho será traduzido para o inglês e publicado no referido saite na edição de janeiro.
Além do texto de Baruq, os organizadores acharam por bem publicar ainda o conto "Por um fio” de Flávio Medeiros Júnior, visto na antologia Steampunk (Tarja Editorial, 2010), que será publicado na edição de março ou abril. Dessa forma, a FCB rompe a intransponível barreira linguística e tenta se instalar do concorrido mercado norteamericano. Parabéns aos vencedores!
Livros estrangeiros do Clube de autores
Um dos efeitos da lei do direito autoral é que, de vez em quando, alguns autores entram em domínio público.
Durante um tempo isso não significou muito para a FC, mas finalmente estamos entrando nas franjas do gênero, e alguns autores notáveis já estão com seus textos livres para serem publicados sem que seja necessário pedir autorização aos seus herdeiros. É o caso de Robert Howard e H. P. Lovecraft, ambos falecidos há mais de 70 anos e donos de uma farta e interessante produção literária fantástica.
Por esse motivo, têm aparecido alguns livros no mercado, e não podia deixar de acontecer que também começassem a preencher as estantes das editoras virtuais, como a Clube de Autores, que disponibilizou em seu catálogo as novelas Pombos do inferno (Pigeons from hell), e Reino das sombras: Uma aventura de Kull da Valúsia (The shadow kingdom), ambas de Robert E. Howard, além das antologias A cor surgida do espaço e outros contos, de H.P. Lovecraft e Zaccarath e outros contos, de Lord Dunsany.
Para quem dispõe de um dispositivo de leitura de arquivos digitais, é uma boa pedida, mas os livros também podem ser obtidos em formato real, já que a editora mantém um processo de produção por demanda. Pode parecer oportunista, mas é legal.
E sempre é bom lembrar que o Clube de Autores foi responsável para publicação do melhor romance da FC brasileira em 2011, B9, de Simone Saueressig.
Durante um tempo isso não significou muito para a FC, mas finalmente estamos entrando nas franjas do gênero, e alguns autores notáveis já estão com seus textos livres para serem publicados sem que seja necessário pedir autorização aos seus herdeiros. É o caso de Robert Howard e H. P. Lovecraft, ambos falecidos há mais de 70 anos e donos de uma farta e interessante produção literária fantástica.
Por esse motivo, têm aparecido alguns livros no mercado, e não podia deixar de acontecer que também começassem a preencher as estantes das editoras virtuais, como a Clube de Autores, que disponibilizou em seu catálogo as novelas Pombos do inferno (Pigeons from hell), e Reino das sombras: Uma aventura de Kull da Valúsia (The shadow kingdom), ambas de Robert E. Howard, além das antologias A cor surgida do espaço e outros contos, de H.P. Lovecraft e Zaccarath e outros contos, de Lord Dunsany.
Para quem dispõe de um dispositivo de leitura de arquivos digitais, é uma boa pedida, mas os livros também podem ser obtidos em formato real, já que a editora mantém um processo de produção por demanda. Pode parecer oportunista, mas é legal.
E sempre é bom lembrar que o Clube de Autores foi responsável para publicação do melhor romance da FC brasileira em 2011, B9, de Simone Saueressig.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Mais deuses
Um sinal de que a concorrência está acirrada em um determinado nicho comercial é a duplicidade de peças com um mesmo tema surgindo quase que simultaneamente. Foi assim, por exemplo, com Vida de inseto e Formiguinhaz, Impacto profundo e Armagedon, e tantos outros. A prática vem acontecendo também no restrito mercado brasileiro de livros fantásticos.
Recentemente, tivemos a publicação das antologias Sagas 2: Estranho Oeste, da editora Argonautas, e Cursed City, da editora Estronho, ambas tratando de histórias de faroeste e horror. Também é o caso de Steampunk, da Editora Tarja, Vaporpunk, da Editora Draco e Steampink, da Editora Estronho, todas com contos de ficção fantástica vitoriana.
O fenômeno repete-se mais uma vez com as publicações de A batalha dos deuses, da Editora Novo Século, já comentada aqui, e a novíssima Deuses, da editora Infinitum Libris.
Lançada ainda em 2011, Deuses é também uma antologia de contos de autores brasileiros, com o diferencial de ser publicada apenas em formato virtual epub. Diz o seu relise: "Diversas mitologias contam as histórias de deuses e deusas que, de alguma forma, influenciam a vida na terra. Sejam gregos, romanos, babilônios, egípcios, astecas, chineses, celtas, judaico… todos tiveram algum papel na história da humanidade, desde a descoberta do fogo às grandes guerras, ou até mesmo nas histórias de amor. E nos dias de hoje não é diferente. O que esses seres estão fazendo hoje pela – ou com – a humanidade? Quais são suas motivações? Por onde andam as divindades de povos extintos? Como eles agiriam nos dias de hoje? Em qualquer lugar, entre a multidão, pode estar o Grande Arquiteto do Universo a nos observar".
Os organizadores Daniel Cavalcante e Jonathan Cordeiro selecionaram para a antologia textos de Gustavo Silva de Mattos, João Manuel da Silva Rogaciano, Erivelton Gomes, Goldfield, Gian Danton, Ramon de Souza, Diego Matioli da Motta, Roberta Spindler, Samuri José Prezza, Sarah Micucci e Akularith.
A edição, que foi distribuída gratuitamente através das redes sociais, pode ser encontrada no saite da editora Infinitum Libris.
Recentemente, tivemos a publicação das antologias Sagas 2: Estranho Oeste, da editora Argonautas, e Cursed City, da editora Estronho, ambas tratando de histórias de faroeste e horror. Também é o caso de Steampunk, da Editora Tarja, Vaporpunk, da Editora Draco e Steampink, da Editora Estronho, todas com contos de ficção fantástica vitoriana.
O fenômeno repete-se mais uma vez com as publicações de A batalha dos deuses, da Editora Novo Século, já comentada aqui, e a novíssima Deuses, da editora Infinitum Libris.
Lançada ainda em 2011, Deuses é também uma antologia de contos de autores brasileiros, com o diferencial de ser publicada apenas em formato virtual epub. Diz o seu relise: "Diversas mitologias contam as histórias de deuses e deusas que, de alguma forma, influenciam a vida na terra. Sejam gregos, romanos, babilônios, egípcios, astecas, chineses, celtas, judaico… todos tiveram algum papel na história da humanidade, desde a descoberta do fogo às grandes guerras, ou até mesmo nas histórias de amor. E nos dias de hoje não é diferente. O que esses seres estão fazendo hoje pela – ou com – a humanidade? Quais são suas motivações? Por onde andam as divindades de povos extintos? Como eles agiriam nos dias de hoje? Em qualquer lugar, entre a multidão, pode estar o Grande Arquiteto do Universo a nos observar".
Os organizadores Daniel Cavalcante e Jonathan Cordeiro selecionaram para a antologia textos de Gustavo Silva de Mattos, João Manuel da Silva Rogaciano, Erivelton Gomes, Goldfield, Gian Danton, Ramon de Souza, Diego Matioli da Motta, Roberta Spindler, Samuri José Prezza, Sarah Micucci e Akularith.
A edição, que foi distribuída gratuitamente através das redes sociais, pode ser encontrada no saite da editora Infinitum Libris.
Livros que não podem passar em branco
Enquanto fazia a ronda pelos saites das editoras brasileiras, encontrei por acaso uma imagem tão fabulosa que eu não poderia deixar de mostrar aqui. Trata-se da capa do romance Os Sete Cavaleiros de Algord: A Torre, de Michel Fonseca, pela Editora Multifoco.
Nunca tive o livro em mãos e não posso dizer muito sobre o seu conteúdo, mas tenho o relise divulgado pela editora: "Mick Fronsac e seus seis amigos são abduzidos para Galáxia Irione, mais precisamente para o planeta Tood-Sil’s. Assim que chega, Mick conhece a jovem Celina D’Kiet, mas logo são separados pelo Capitão Silk Aydu, que leva Mick para o Palácio Sil’s. Lá ele reencontra seus amigos e conhece o General Ivaniv Koor, que conta que eles são a reencarnação de sete cavaleiros que viveram em um planeta chamado Algord..." e por aí vai.
Confesso que a sinopse não me atraiu, mas a capa, ah, a capa... gostaria de saber o nome do artista que a produziu, ele está de parabéns. Uma imagem como essa numa gôndola de livraria certamente venderia o peixe. Em 2010, a Multifoco também produziu a melhor capa do ano, vista na antologia É proibido ler de gravata, comentada aqui.
Outro lançamento da Multifoco que vale registrar é a coletânea de contos A cor da tempestade, de Mustafá Ali Kanso, autor de Curitiba que tem sido assistente do veterano escritor André Carneiro nas oficinas literárias que este realiza naquela cidade. Ali Kanso esteve em várias edições do Projeto Portal, de Luiz Brás, e demonstra ter uma produção de boa qualidade.
Diz o relise: "Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa (...) A Cor da Tempestade premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove".
Finalmente, o livro de não ficção O grotesco nos quadrinhos, de Fabio Luiz Carneiro Mourilhe Silva, que apresenta um estudo acadêmico sobre "os pressupostos expostos por Bakhtin relacionados ao conceito de grotesco" nas histórias em quadrinhos. Parte desse trabalho está disponível aqui e aqui, e pode dar uma amostra do que o interessado vai encontrar na edição. Um trabalho, no mínimo, inusitado, que vale conhecer.
Nunca tive o livro em mãos e não posso dizer muito sobre o seu conteúdo, mas tenho o relise divulgado pela editora: "Mick Fronsac e seus seis amigos são abduzidos para Galáxia Irione, mais precisamente para o planeta Tood-Sil’s. Assim que chega, Mick conhece a jovem Celina D’Kiet, mas logo são separados pelo Capitão Silk Aydu, que leva Mick para o Palácio Sil’s. Lá ele reencontra seus amigos e conhece o General Ivaniv Koor, que conta que eles são a reencarnação de sete cavaleiros que viveram em um planeta chamado Algord..." e por aí vai.
Confesso que a sinopse não me atraiu, mas a capa, ah, a capa... gostaria de saber o nome do artista que a produziu, ele está de parabéns. Uma imagem como essa numa gôndola de livraria certamente venderia o peixe. Em 2010, a Multifoco também produziu a melhor capa do ano, vista na antologia É proibido ler de gravata, comentada aqui.
Outro lançamento da Multifoco que vale registrar é a coletânea de contos A cor da tempestade, de Mustafá Ali Kanso, autor de Curitiba que tem sido assistente do veterano escritor André Carneiro nas oficinas literárias que este realiza naquela cidade. Ali Kanso esteve em várias edições do Projeto Portal, de Luiz Brás, e demonstra ter uma produção de boa qualidade.
Diz o relise: "Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa (...) A Cor da Tempestade premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove".
Finalmente, o livro de não ficção O grotesco nos quadrinhos, de Fabio Luiz Carneiro Mourilhe Silva, que apresenta um estudo acadêmico sobre "os pressupostos expostos por Bakhtin relacionados ao conceito de grotesco" nas histórias em quadrinhos. Parte desse trabalho está disponível aqui e aqui, e pode dar uma amostra do que o interessado vai encontrar na edição. Um trabalho, no mínimo, inusitado, que vale conhecer.